RPPS com apetite global | Institutos de previdência, que demoram ...

As entidades de previdência social dos servidores públicos (RPPS), na esteira de regras de investimento e de governança revistas e atualizadas, mostram disposição de entrar para valer no mercado global. Algumas delas já bateram o limite máximo permitido por lei, outras devem atingi-lo este ano e mesmo as que ainda não foram ao exterior já exibem apetite para avançar na conquista de posições lá fora.
Para gestoras como a BB DTVM, que tem no RPPS um foco prioritário, a aposta nos fundos globais deverá render frutos este ano. Com uma área interna dedicada exclusivamente aos institutos de previdência municipais e estaduais, a BB DTVM fechou em novembro passado o primeiro contrato para alocação de um cliente RPPS no exterior, via fundo de global equities. A perspectiva é otimista para este ano, diz o diretor Comercial e de Produtos da asset, Aroldo Medeiros, que comemora a grande quantidade de propostas já colocadas na mesa. “De 2019 para cá temos visto uma migração forte de parte das carteiras para o exterior e em 2020 o RPPS deverá aumentar sua busca por diversificação global, esta é uma evolução do mercado”, conta. Ele assegura: “Estamos preparados para colher os frutos de um trabalho que plantamos no ano passado e incluiu centenas de visitas aos RPPS”.
Esse esforço está estreitamente ligado ao seu distribuidor, o Banco do Brasil, com sua extensa rede de agências especializadas em governo. Como resultado, até dezembro de 2019 estavam sob sua gestão R$ 62,1 bilhões em recursos dos RPPS, ou 36,2% do total de ativos desse segmento. Em 2019 foi reformulada toda a grade de produtos para RPPS e o portfólio agora procura atender os mais diversos perfis. Ao todo, a BB DTVM tem disponíveis para esse público 13 fundos de renda fixa, oito de ações, cinco multimercados e 9 no exterior, incluindo renda fixa e renda variável.
A BB DTVM mantém parcerias de longo prazo com gestores internacionais para atender à demanda por ativos do feeder fund local. No caso dos RPPS, Medeiros explica que a assessoria às entidades ajuda a definir o mix de produtos que seja compatível com os objetivos da política de investimento de cada uma delas e leva em conta a descorrelação com suas carteiras locais. São estratégias taylor made para garantir o máximo benefício da diversificação a partir de três modalidades: fundos de ações globais; fundos de renda fixa global e fundos de renda fixa na modalidade Brazil fixed income, que alocam em papéis emitidos por empresas brasileiras no exterior e contam com suporte das três corretoras da BB Securities lá fora.

No Instituto de Previdência do Município de Jundiaí, Iprejun, o limite de 10% no exterior foi atingido em dezembro de 2019, como parte de uma estratégia de forte descorrelação. Os investimentos são feitos em renda variável, por meio de fundos de ações e multimercados. A entidade trabalha com seis gestores e alguns dos fundos têm investimentos em ações de empresas nos cinco continentes. “Há estratégias distintas e bom nível de dispersão, sendo quatro carteiras com hedge cambial e duas não hedgeadas. Isso nos garantiu retorno de 170% a 180% de nossa meta atuarial, que é de IPCA mais 6% ao ano”, conta o diretor presidente do Iprejun, João Carlos Figueiredo.
Ao invés de perseguir o benchmark de cada fundo, a opção foi obter um retorno alinhado à meta atuarial, até porque no mercado global há uma grande variedade e complexidade de benchmarks. Os 10% investidos foram resultado de uma política gradual, explica Figueiredo: “Começamos há algum tempo investindo por meio de fundos pequenos, depois passamos a incluir também BDRs e viemos alocando volumes cada vez maiores a cada mês até chegar ao percentual de 10%”.
A principal preocupação é com a descorrelação entre as carteiras. Integrante do Grupo de Trabalho criado no ano passado pela Secretaria da Previdência para discutir a revisão da regulamentação dos investimentos do RPPS (Resoluções CMN nº 3.922 de 2010 e nº 4.695 de 2018), Figueiredo lembra que os estudos de ALM produzidos já na nova conjuntura de mercado, com juros menores, apontam a necessidade de ampliar as fatias de renda variável e, para isso, o mercado local ainda é limitado. O Iprejun tem hoje 47% de seus ativos em renda variável (local e global), mas pode ir até 50% em renda variável local e 10% no exterior. Uma das opções portanto é ampliar o percentual de renda variável como um todo, mesmo sem reduzir o percentual local. “É uma opção interessante, até porque o risco dos fundos no exterior equivale a apenas 60% do risco a que estamos expostos em fundos de renda variável locais”.
O orçamento de risco prevê espaço maior na renda variável pois o risco de renda fixa está muito baixo. “Estamos desenvolvendo um trabalho para redimensionar esses volumes e buscar outros gestores”, diz Figueiredo. Estão em estudo ainda oportunidades em renda fixa e crédito no exterior mas esses mercados ainda não são competitivos em relação ao que o Iprejun já tem em renda variável.

Sem alocação no exterior até 2019, o Ipreville (Instituto de Previdência Social dos Servidores Públicos do Município de Joinville) definiu na política de investimentos deste ano um percentual de até 10%, já deu início ao processo de seleção e espera fazer as primeiras aplicações sem perda de tempo para atingir esse limite ainda no primeiro semestre. “A alocação incluirá ações globais e estratégias específicas de acordo com a experiência de cada casa gestora. Essa expertise definirá as estratégias e os percentuais a serem aplicados, em alinhamento com a nossa equipe de gestão”, informa o diretor presidente do Instituto, Sergio Luiz Miers.
Os objetivos de retorno seguirão a meta atuarial da entidade, explica Miers. Já os riscos envolvidos consideram questões como a variação cambial e eventuais crises nos países em que os fundos investem, assim como o risco de falta de conhecimento e de experiência dos gestores nesse segmento. Para enfrentar esses riscos, os critérios de seleção dos gestores levam em conta o tempo de experiência da equipe com esse tipo de carteira, sua performance, PL dos fundos sob gestão, número de cotistas desses fundos, governança e aprovação pelo comitê de Investimentos do Ipreville, além de seu credenciamento junto ao Instituto.
A decisão de diversificar passa também pela ampliação da renda variável local, conta Miers. “Atualmente temos 8% dos ativos de investimento alocados em renda variável local mas a pretensão é de ampliar esse percentual em 2020 diante da perspectiva de baixa rentabilidade na renda fixa”.

O Rio Previdência, Fundo Único de Previdência Social do Estado do Rio de Janeiro, ainda não tem aplicações no exterior mas “temos muita vontade de explorar esse segmento, assim que estiver concluída a atual fase de montagem da carteira própria e a capacitação da equipe de gestão”, informa o diretor presidente da entidade, Sergio Aureliano Machado da Silva. O planejamento político da entidade já inclui a opção de investir até 10% no exterior.
O plano previdenciário, criado em 2013 e superavitário em R$ 650 milhões, tem hoje cerca de R$ 1,8 bilhão em ativos e passa por uma reformulação que incluiu a criação de uma diretoria de investimentos. Atualmente, o plano investe apenas em renda fixa mas com a nova carteira o primeiro passo será na direção da renda variável. “Em seguida, serão avaliadas as demais possibilidades e a alocação no exterior mostra potencial para ser um bom investimento”, diz Silva.
A entidade mantém ainda o plano financeiro, segregado do plano previdenciário , e que sofre os efeitos negativos da securitização dos royalties do petróleo no RJ, em três operações realizadas pelo governo do estado em 2014, 2015 e 2018 num total de R$ 11 bilhões. A maioria dos títulos está no mercado americano e, embora tenha sido importante essa venda futura de petróleo, o custo para o Rio Previdência é caro demais. “Pagamos 9,75% aos investidores estrangeiros, em dólar, então estamos tentando negociar com os investidores americanos porque o saldo devedor hoje é de R$ 10 bilhões, informa Silva.