Novas estratégias em foco

Edição 382

“Embora o CDI deva continuar entregando 13% a 14%, os RPPS terão que correr atrás de um pouco mais de risco porque haverá aumento das médias das metas atuariais em 2026”, explica Marcelo Vizioli Rosa, do Iprejun

Pronto para encerrar o ano de 2025 com um patrimônio de R$ 3,6 bilhões e uma rentabilidade que deve ficar entre 150% a 160% acima de sua meta, o Instituto de Previdência de Jundiaí/SP (Iprejun), atribui boa parte desse resultado ao desempenho positivo da alocação em renda variável e do investimento no exterior, informa Marcelo Vizioli Rosa, diretor de administração financeira. “Apesar da apreensão causada pelo liberation day promovido pelo governo Trump nos EUA, optamos por manter a nossa alocação em exterior, que representa 7% dos recursos e foi muito bem este ano”, explica.

O Instituto é um dos RPPS (Regimes Próprios de Previdência Social) classificados no nível IV do Pró-Gestão, que representa o nível mais elevado de maturidade em governança corporativa, controles internos e educação previdênciária. Atualmente, 54% dos seus recursos estão aplicados em títulos públicos marcados na curva, um percentual que já está adequado e dificilmente deverá aumentar, até porque a intenção é reduzir a concentração da carteira, explica o diretor.

A carteira de renda variável local responde por 15% dos recursos totais, além dos 11% aplicados à renda variável no exterior no qual inclui-se a alocação em BDR S&P 500. “Para o mercado local, o objetivo é aumentar um pouco o percentual mas não estou nem a metade tão animado com a bolsa para 2026 como estava em 2025, porque já avançou bem”, diz Rosa.

A busca é por fundos de ações que invistam em ativos cujo desempenho não dependa dos ciclos econômicos. “Um exemplo é um fundo de ações que temos com a gestora Perfin, voltado para ativos de infraestrutura”, ilustra.

A renda variável será importante em 2026 frente a um possível fechamento dos juros, a depender do cenário político. “A redução da Selic pode ajudar e, embora o CDI deva continuar entregando 13% a 14%, os RPPS terão que correr atrás de um pouco mais de risco porque haverá aumento das médias das metas atuariais no próximo ano”, afirma Rosa.

No exterior, a queda do juro dá uma perspectiva interessante para as bolsas e o diferencial entre o juro local e o internacional já garante um ganho relevante, mas os movimentos precisam ser cautelosos.

“Os RPPS têm que pensar no longo prazo e não tentar ganhar com o market timing. É por essa razão que aqui sempre preferimos ficar com a alocação ora um pouco maior, ora um pouco menor, mas não deixamos qualquer estratégia”, pondera Rosa. Em 2026, ainda que haja espaço na política de investimentos para superar 60% em títulos públicos, a decisão é ficar no atual patamar, para não aumentar a concentração.

O instituto não aloca em crédito privado por considerar que não há vantagem em sair de ativos com risco em DI para ganhar 1% ou 1,5% a mais ao ano, o que não faz sentido. “Como há dúvidas sobre o diferencial de remuneração frente ao título público e não sinto conforto nisso, prefiro não ter essa classe”, diz. Ele aponta que a entidade não tinha qualquer papel do banco Master, ressaltando que os RPPS que embarcaram nesses ativos deverão ter perdas expressivas.

Entre os destaques do portfólio há atualmente 21 FIPs (Fundos de Investimento em Participações), nem todos alocados. Entre o total investido e o capital comprometido com FIPs, essa classe já representa 13,5% dos recursos totais e mais dois ou três desses fundos virão no primeiro trimestre de 2026, informa Rosa. “O objetivo é ter uma alocação constante, com a diversificação de gestores e principalmente das safras dos fundos”, diz.

Para nós, faria sentido ter um limite maior na regulação para aplicar em estruturados porque é uma estratégia que tem dado resultados excelentes há seis ou sete anos, ajuda a reduzir a volatilidade das oscilações do mercado e está bem alinhada com o objetivo de pagar benefícios”, diz.

“Cenário atual não favorece a classe de crédito, principalmente nas debêntures, cujos spreads não compensam o risco”, afirma Felipe Ataíde, do Iperon

Risco restrito – Depois de aproveitar os juros ao longo dos últimos três a quatro anos para montar uma carteira relevante de títulos para o médio e o longo prazos, o Instituto de Previdência dos Servidores Públicos do Estado de Rondônia (Iperon) tem atualmente 70% de seu portfólio total aplicado em renda fixa. Desse total, 58% estão em NTN-B marcadas na curva e 12% em Letras Financeiras do nível S1 (Segmento 1, classificação relativa aos ativos dos grandes conglomerados financeiros), com papéis do Bradesco, BTG e Santander, explica Felipe Ataíde, gestor de recursos e coordenador de investimentos.

Em 2026, deve ser mantido o percentual de títulos públicos, com uma pequena posição de crédito privado, que hoje representa 1,5% dos recursos mas deve cair para 0,50% no próximo ano. “Vamos reduzir porque o cenário atual não favorece a classe de crédito, principalmente nas debêntures, cujos spreads não compensam o risco”, afirma.

Com um patrimônio de R$ 6,8 bilhões, a entidade mantém uma perspectiva otimista para a renda variável local, com a bolsa brasileira ainda atrativa. A carteira atual de renda variável soma 6% do patrimônio mas a tendência é elevar essa fatia para 7% ou 8%, dos quais 1% será alocado em ETFs (fundos de índices), que estão em fase de análise.

O instituto, que chegou a ter 1,5% do patrimônio alocado no exterior, zerou a renda variável global porque considerou que os valuations estavam muito esticados. “Hoje temos apenas 0,50% em exterior, totalmente alocado em renda fixa, com fundos hedgeados. Queremos voltar a ter uma posição em renda variável global, em dólar, mas vamos esperar. Vamos manter a atual posição e aguardar para ver como será a correção de preços lá fora”, diz Ataíde.

A alocação em FIPs, formada ao longo dos últimos três a quatro anos, representa 3% a 3,5% do patrimônio atualmente. O objetivo para 2026 é manter essa posição, já contando com as chamadas de capital, e esperar que as estratégias amadureçam.

Na política de investimentos, o Instituto, que está no nível IV do Pró Gestão, inovou ao impor diversas restrições. Uma delas diz respeito às Letras Financeiras, que uma regra interna restringe ao Segmento I (SI) e devem ser exclusivamente compradas no mercado primário, via tesouraria das instituições. “Essa é uma regra nossa, uma restrição que já estava no manual mas que agora decidimos colocar na política”, explica.

Graças a essa vedação do manual, nem teria sido possível comprar ativos do banco Master, que pertencia ao Segmento S3, lembra Ataíde. “Tivemos uma oferta mas nos recusamos a investir nas LF deles”, diz.

O aumento da meta, que subirá para 5,60% mais INPC no próximo ano, não exigirá que a entidade aumente o risco de seus investimentos porque a carteira marcada na curva já tem gordura suficiente. “A renda variável vai ter um aumento apenas marginal porque não há necessidade de mais risco. Compramos NTN-B a IPCA mais 8% e subimos o preço médio na curva então o retrato é quase o mesmo de 2025, porém com mais restrições porque o mundo lá fora está mais multifacetado e muito alavancado”, avalia Ataíde.

Renda variável requalificada – “Realizamos lucros na bolsa brasileira em 2025 e aproveitamos para fazer um ajuste para baixo na renda variável local e também um ajuste marginal na carteira de renda variável global, porque enxergamos em 2026 um ano mais binário, mais incerto lá fora”, diz Henrique Mascarenhas, analista de investimentos e gestor de recursos do Instituto de Gestão Previdenciária e Proteção Social do Pará (Igepps).

Os percentuais de renda variável doméstica e internacional, que eram de respectivamente 12% e 8% do patrimônio do Instituto, foram reduzidos para 9% e 6,5% hoje. “Neste momento, decidimos reduzir para requalificar a carteira diante do mercado mais incerto. Queremos estratégias mais temáticas, seja em fundos long and short ou em fundos de energia, de IA, robótica porque a transição hoje é muito vinculada aos índices S&P e MSCI global lá fora”, explica.

Na bolsa local, o objetivo é entrar em ETFs e ter gestores mais ativos para capturar oportunidades e ter também maior liquidez para enfrentar momentos adversos. “Ainda não está claro como será encaminhada a questão fiscal e a queda da Selic será gradual. Diante disso, em 2026 vamos prosseguir com a redução dos títulos pós-fixados e ir para a renda fixa ativa, capturar ganhos acima do CDI e gerenciar a liquidez”, afirma.

Atualmente, 40% do patrimônio líquido da entidade está em NTN-B. “Em agosto de 2024 reduzimos a parcela indexada em crédito privado e fomos para mais títulos soberanos, mas queremos voltar. Hoje há 7,5% do patrimônio em crédito privado mas, a depender dos spreads, fica interessante retomar o crédito referenciado em CDI”, diz.

No segmento de FIPs, o Instituto considera esse projeto como devidamente auto-sustentado e já tem 4% do patrimônio investidos, além de 5% de capital comprometido. Sua classificação no Pró-Gestão é nível II, mas o objetivo é chegar ao nível III até março de 2026, informa Mascarenhas. “Gostaríamos de ter acesso aos multimercados estruturados para poder diversificar mais a carteira, além de ter um limite maior para os FIPs”, diz.

“Toda vez que tomarmos um pouco de risco de mercado, isso será feito por meio de carteiras administradas, diz Marcos Aurélio Litz, do IPMC

Estratégia e preservação – O ano de 2025 foi de reorganização estrutural da carteira de investimentos do Instituto de Previdência dos Servidores do Município de Curitiba (IPMC). O projeto foi pensado para dar à carteira um perfil mais previdenciário e menos de fluxo de caixa. “Ainda há uma parte dessa reorganização a ser implementada em 2026”, explica Marcos Aurélio Litz, diretor administrativo e financeiro. O foco é em preservação do capital e redução do risco e da volatilidade.

Com R$ 2,52 bilhões de patrimônio, o Instituto passará a olhar um pouco mais para a estratégia e terá seus investimentos devidamente segmentados. “Toda vez que tomarmos um pouco de risco de mercado, isso será feito por meio de carteiras administradas, já que não podemos usar fundos exclusivos, e nós faremos o hedge e o ALM.” diz.

A estrutura anterior tinha a maior parte dos recursos alocados em títulos públicos federais marcados a mercado, com uma posição muito líquida e que estava descolada dos objetivos de previdência, segundo Litz.

A exposição às NTN-Bs será ampliada a partir de agora para continuar a aproveitar os juros. “Na renda fixa ativa, queremos gerar alpha operando diferentes vértices, mas será possível alocar também em crédito e em ETFs”, diz.

A ideia é usar a nova estrutura de carteiras administradas, com 30% dos recursos, para ter estratégias mais sofisticadas, inclusive com fundos multimercados para gerar alpha pelo ativismo da gestão em cenários adversos. Essa classe deve representar 6% do patrimônio, enquanto o investimento no exterior, que hoje é de 2,5%, manterá esse percentual mas ficará dentro dos multimercados.

Na renda variável, que hoje representa 3% dos recursos totais, a intenção é ir até 8% porém com um portfólio mais diversificado, que incluirá dividendos, ETFs e hedge. Ele observa que essa ampliação será implementada aos poucos, até porque a visão do ano eleitoral e de maior volatilidade pode atrapalhar a gestão. “Mas já é possível ter mais otimismo com a renda variável pelo aumento do fluxo de recursos para o Brasil, principalmente quando os EUA baixarem mais os juros”, diz o gestor.

As carteiras administradas já foram aprovadas pelos colegiados do Instituto, mas as análises finais devem ser feitas em janeiro, para concluir o processo de implementação em fevereiro com a seleção dos gestores externos.