Edição 240
Ao perceber o aumento da procura dos regimes próprios de estados e municípios pelos fundos estruturados, os gestores de recursos estão reforçando a atuação no segmento. Empresas de asset que trabalham com fundos de investimentos de participações (FIPs) e imobiliários (FIIs) estão começando a captar maior volume de recursos dos institutos de estados e municípios desde o início do ano. O volume de captação só não é maior porque os grandes gestores ligados aos bancos de controle estatal ainda estão em fase de preparação de novos FIPs direcionados a este público. Porém, algumas assets especializadas neste tipo de produto, já registram aumento do número de clientes entre os RPPS.
É o caso da Ático Investimentos. Gestor com foco principal em private equity, a Ático triplicou sua carteira de recursos provenientes de RPPS no primeiro semestre de 2012. Segundo dados do ranking Top Asset, a asset saltou de R$ 78 milhões em dezembro de 2011, para R$ 236 milhões em junho de 2012 em recursos de regimes próprios. Foi um crescimento de 201% em apenas seis meses. “Nosso público principal era formado pelas entidades fechadas. Mas de dois anos para cá percebemos forte aumento da demanda dos regimes próprios”, conta Leonardo Iespa, diretor comercial da Ático.
Os dois FIPs lançados pela Ático em 2012, tiveram forte participação dos RPPS.O Ático Geração de Energia contou com a entrada de 12 regimes próprios, de um total de 20 cotistas. Cerca de 70% do volume de sua primeira distribuição, de R$ 150 milhões, foi absorvida por este tipo de cliente. O fundo deve contar com mais duas fases de distribuição, que vão totalizar R$ 500 milhões no total. Outro FIP que está registrando forte demanda dos institutos é o Ático Florestal, que está em fase final de captação e recursos. A primeira fase de distribuição também deve chegar a R$ 150 milhões.
“Hoje quando estruturamos novos produtos, já fazemos com o foco em regimes próprios, além de outros institucionais com quem costumamos trabalhar”, diz Iespa. Ele explica que os fundos de participações são alternativas cada vez mais viáveis para bater as metas atuariais tanto dos RPPS quanto das entidades fechadas. “Os fundos são formados por ativos diretos, por exemplo, energia e floresta, que prometem garantia de retorno acima da meta atuarial”, diz o diretor da Ático.
A Kinea é outro gestor que tem verificado o aumento da demanda por parte dos RPPS. O crescimento da procura por este tipo de cliente aumentou a partir do final do primeiro semestre de 2012. O fundo Kinea 2 Real Estate, voltado para incorporações imobiliárias, captou no total R$ 197 milhões em duas séries. “O produto era direcionado para público de alta renda, mas também apresentou demanda forte dos regimes próprios”, diz Carlos Martins, responsável pela área imobiliária da Kinea.
O fundo tem prazo de sete anos e pretende desenvolver entre 10 e 15 empreendimentos residenciais, com imóveis no valor até R$ 500 mil, financiados com recursos do sistema financeiro de habitação. O produto contou com distribuição exclusiva do Itaú. O Kinea 2 é uma réplica do fundo anterior, que também tinha prazo de sete anos até 2015, e está desenvolvendo cerca de 25 projetos espalhados em dez cidades do país.
Segundo o diretor da asset, o fundo só não contou com maior participação dos regimes próprios porque o prazo para colocação do produto foi curto. “O pessoal da distribuição do Itaú reclamou pelo fato de o prazo ter sido muito apertado para maior participação dos RPPS e fundos de pensão. Eles precisam de tempos maiores para levar o produto para análise dos comitês, visitar mais de uma vez e garantir prazo suficiente para diligências”, diz Martins. O gestor diz que os regimes próprios estão cada vez mais interessados nesse tipo de produto, que trabalha com prazos longos, mas com rentabilidade capaz de superar as metas atuariais. O Kinea 2, por exemplo, tem expectativa de retorno de taxa de inflação mais 12% a 14% ao ano.
Residencial – Um fundo da área de imóveis residencial é uma das apostas da Caixa Econômica. Voltado para o segmento de regimes próprios, o FIP Caixa Incorporação Residencial que está em fase final de estruturação e contará com estratégia de constituição de sociedades de propósito específico (SPE) para adquirir participações em incorporadoras do ramo de imóveis residenciais. O valor total de captações deve girar entre o mínimo de R$ 200 milhões até o teto de R$ 500 milhões.
“Pretendemos aproveitar toda expertise da Caixa na área imobiliária e o relacionamento próximo com as incorporadoras para obter êxito com o novo fundo”, diz Sérgio Bini, gerente nacional da área de recursos de terceiros da Caixa. “São produtos bem ajustados às necessidades dos regimes próprios. Esses clientes ainda apresentam baixo volume de recursos aplicado em fundos estruturados, mas percebemos aumento do interesse, sendo que alguns já começam a realizar os primeiros investimentos no segmento”, diz Bini.
A Caixa ainda trabalha na estruturação de um FIP da área de infraestrutura, também voltado para os institutos dos servidores. O gestor tem trabalhado na divulgação do produto e já conta com interesse de dezenas de RPPS, porém, ainda esbarra em algumas dificuldades para completar o montante necessário para a captação dos recursos. “O segmento ainda precisa amadurecer um pouco mais para conseguirmos captar volumes mais altos que possam viabilizar fundos maiores”, diz o gerente nacional da Caixa.
Outro gestor que prepara o lançamento de FIPs nas áreas imobiliárias e de energia é a BRB DTVM, asset do Banco de Brasília. Um dos produtos que estão em fase de estruturação deve atuar no segmento de construção de imóveis do programa Minha Casa Minha Vida, no estado do Paraná. É um FIP que contará com a gestão da asset Queluz e a administração da BRB DTVM. “É um fundo que vai oferecer boas taxas de retorno com riscos e liquidez adequados aos regimes próprios”, diz Everton Chaves Correia, presidente BRB DTVM.
Ele revela que há 9 RPPS do estado do Paraná interessados em investir neste novo FIP. “São fundos que tendem a atrair a adesão dos investidores locais, pois tendem a trazer benefícios sociais e econômicos para a região onde serão desenvolvidos os empreendimentos”, diz Correia. Ele acredita que tais produtos poderão dinamizar a economia local, além de financiar projetos em áreas importantes para os municípios como infraestrutura, habitação e sustentabilidade.
Mais um exemplo que contará com participação da BRB DTVM é um FIP do ramo de hotelaria, que pretende captar cerca de R$ 100 milhões. “É um fundo voltado também para os regimes próprios que pretende financiar a construção de hotéis na região de Brasília, onde existe forte demanda do mercado”, diz o presidente da asset. Ao total, a BRB pretende participar da administração ou gestão de 9 fundos estruturados – 5 FIPs e 4 fundos imobiliários.
A expectativa do executivo da BRB DTVM é atingir a captação de cerca de R$ 925 milhões, cerca de metade desse montante entre os RPPS, e o restante entre fundos de pensão e demais investidores. “Com o corte das taxas de juros, a maioria dos regimes próprios passaram a analisar novas alternativas de aplicações. Os fundos estruturados aparecem como a alternativa mais viável em termos de remuneração e controle de risco”, diz Correia. Atualmente, a asset do BRB realiza a gestão de cerca de R$ 1,3 bilhão. Com os novos produtos voltados para os RPPS, a expectativa é encerrar 2012 com patrimônio sob gestão em torno de R$ 2,2 bilhões.
O presidente da BRB DTVM admite, porém, que ainda há algumas dificuldades para atrair a participação dos RPPS para o segmento de produtos estruturados. Por um lado, a Resolução 3922, ainda limita as aplicações no segmento de FIPs ao máximo de 5% do patrimônio do regime próprio. Por outro lado, os conselhos e diretores da maioria dos institutos ainda estão se familiarizando com o mercado de private equity. “Ainda falta esclarecimento, mas os gestores estão trabalhando rapidamente para transmitir informações e experiências para que os RPPS possam avançar nas aplicações em fundos estruturados”, diz Correia.
“É uma questão de tempo para o esclarecimento e capacitação dos dirigentes dos institutos”, acredita Nemer Rahal, sócio-responsável da área de relações com investidores do Pátria. Um dos maiores gestores de fundos private equity do país, o Pátria também vem percebendo o aumento do interesse dos regimes próprios em fundos de participações.
Segundo dados do Ministério da Previdência Social, apenas 0,36% dos investimentos dos RPPS estavam alocados em FIPs em dezembro de 2011, o que equivalia a R$ 213 milhões. O valor ainda era pequeno perto do total de aplicações dos regimes próprios, avaliado em R$ 59,74 bilhões na época. Ainda não há dados consolidados do primeiro semestre de 2012, mas as estimativas apontam para o avanço rápido deste tipo de aplicação, que deve continuar avançando de forma acelerada até o final do ano.