Edição 378

A Prefeitura de Curitiba e seu Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) estão implantando a segregação de massas com a criação de dois fundos, um financeiro e outro previdenciário. A nova Lei Complementar 147/2025 que define o novo modelo para o IPMC (Instituto de Previdência Municipal de Curitiba) foi aprovada no último dia 24 de junho e traz o prazo de até 90 dias para a segregação. O novo fundo previdenciário, que funcionará em regime de capitalização, começa com um patrimônio de R$ 2,4 bilhões e cerca de 23 mil servidores públicos contratados a partir de 31 de dezembro de 2007.
Já o fundo financeiro, de repartição simples, ficou com 26 mil participantes, a maioria assistidos. No total, são quase 50 mil participantes, sendo aproximadamente 30 mil ativos e 20 mil inativos. Com a formação do fundo previdenciário, a política de investimentos do IPMC deve sofrer grandes mudanças.
“É importante lembrar que a lei de segregação de massas chega em um momento que estávamos justamente revendo toda a estrutura de nossos investimentos. Desde a chegada do Marcos Litz ao instituto, no começo deste ano, estamos estruturando uma nova forma de direcionar os investimentos”, diz a presidente do IPMC, Jocelaine Moraes de Souza. Ela se refere à contratação do novo diretor financeiro, que assumiu o posto em fevereiro de 2025.
Marcos Litz tem mais de 20 anos de experiência na gestão de recursos de fundos de pensão e gestão de recursos, acumulando passagens pela Fibra (Fundação Itaipu), Fundação Libertas, CuritibaPrev e Cifrão.
Desde sua chegada ao IPMC foi iniciado um estudo de ALM (Asset Liability Management) para identificar as necessidades de liquidez para o pagamento de benefícios, separando essa parte do patrimônio que pode ser investido no longo prazo. “No fundo previdenciário, teremos pouca necessidade de recursos mais líquidos, o que quer dizer que poderemos elevar a duration da carteira, e mais à frente poderemos ampliar a exposição ao risco para buscar uma rentabilidade melhor”, explica Jocelaine.
Ela diz que o instituto tem programado um seminário, que ocorrerá entre os dias 6 e 7 de outubro, após o qual será definida uma nova política de investimentos de 5 anos para o fundo previdenciário. Essa nova política de investimentos, que deve contar com revisão anual, permitirá iniciar uma grande mudança na gestão dos recursos do fundo capitalizado.

Alta liquidez atual – A carteira de investimentos do IPMC tinha uma estrutura altamente líquida. “Quando assumi no IPMC, quase a totalidade do patrimônio contava com altíssima liquidez. Praticamente 100% dos ativos estavam em D1, no máximo em D2, para a liquidação. É claro que isso gera uma oportunidade, porque o capital disponível faz sentido para que você opere em momentos de incerteza, mas por outro lado, num plano de previdência ele deixa de aproveitar oportunidades de mais longo prazo e com prêmios melhores”, conta Litz.
A maior parte dos recursos estava alocada em títulos públicos marcados a mercado. Desde o início do ano, a equipe do instituto tratou de ampliar as posições em NTN-Bs marcadas na curva. “Hoje já temos uma boa parte marcada na curva, mas a realidade anterior era quase 100% dos ativos de renda fixa marcados a mercado”, aponta o diretor financeiro.
A atual da carteira do IPMC mantém a maior parte em renda fixa (87,68%), com uma pequena exposição à renda variável (3,1%) e investimentos no exterior (2,38%). Os fundos multimercados somam apenas 0,53%, enquanto os ativos imobiliários representam 6,31% da carteira.
“Já estamos fazendo uma reestruturação de toda a forma de pensar os investimentos para que possamos deixar essa gestão muito mais próxima do que é a realidade de um plano de previdência, com uma mescla entre ativos mais líquidos e ativos de mais longo prazo, para casar com nossos estudos de ALM”, explica Litz.
Os fundos IRF-M, por exemplo, foram praticamente zerados, sendo substituídos por NTN-Bs marcadas na curva. “Uma parte da carteira vai ficar operando vértices de curto prazo, com fundos IMA-B, IMA-B5, e o resto com títulos públicos federais. Outra parte ficará em ativos com mais risco associado, mas ainda numa posição bastante conservadora, considerando o atual cenário macroeconômico”, revela o diretor financeiro.
Ativos de risco – A composição ideal entre os ativos deve alcançar uma proporção entre 70% de renda fixa e 30% de ativos de risco. Essa composição deve ser formada no médio ou longo prazo dependendo dos cenários econômico doméstico e mundial. “A ideia é que possamos olhar, por exemplo, para produtos mais estruturados, que estejam nesta categoria. Então, hoje a gente tem posição de bolsa, multimercado, mas a ideia é aumentar um pouquinho essas posições a partir do momento em que o cenário nos dê condições para isso”, projeta Litz.
As NTN-Bs, com prêmios entre 7% e 8%, são os ativos que continuam concentrando a preferência do instituto. “Com um cenário mais volátil, fica um pouco mais difícil olharmos para o risco. Então, nesse momento, temos muita cautela em fazer essa transição. Mas a partir do momento que essa volatilidade for se dissipando vamos aumentar nossa parcela de risco”, comenta o diretor financeiro.
Gestão híbrida – A equipe de investimentos do IPMC pretende implantar um modelo híbrido para a gestão de recursos, ficando uma parte com a equipe interna e a outra com gestores externos. A equipe interna ficará responsável pela gestão da carteira de títulos públicos federais e pela seleção e monitoramento dos gestores externos. Para a gestão externa, deve ser implantado um modelo com quatro carteiras administradas.
Cada carteira corresponderá a uma classe de ativos, sendo divididos entre renda variável, renda fixa ativa, exterior e estruturados. “A gestão da carteira ALM será feita dentro de casa. Já a gestão de renda variável, renda fixa ativa, exterior, estruturados, será realizada via carteiras administradas, com gestores externos. E aí o nosso trabalho será o de selecionar os melhores gestores para fazerem essa gestão”, explica Litz.
O processo de seleção de gestores corresponde a uma segunda etapa da reestruturação da área de gestão dos recursos do IPMC. A primeira etapa já está em andamento e diz respeito à reorganização da carteira e definição do ALM. A seleção de gestores deve começar a partir do final de agosto ou início de setembro. A terceira e última etapa abrangerá a criação das carteiras e a alocação dos recursos. A alocação dos recursos nas novas carteiras e classes deve começar após a realização do seminário programado para outubro, quando será definida a nova política de investimentos.
O seminário será organizado pelo IPMC mas contará com a participação de outros regimes próprios do estado do Paraná e região sul do país. “Estamos preparando uma estrutura para receber entre 300 e 350 pessoas, entre dirigentes e profissionais de outros regimes próprios. Isso é muito importante porque Curitiba sempre teve um diferencial como mola propulsora do Paraná. Esse seminário é destinado, em primeiro lugar, aos nossos colegiados, mas todos os outros RPPS paranaenses serão chamados, sem custo algum”, diz Jocelaine.
A presidente do IPMC, que também teve passagens pelo CuritibaPrev, onde atuou como diretora de previdência, e como conselheira da OABPrev-PR, revela que o IPMC tem planos de elevar a certificação no programa Pró-Gestão do Ministério da Previdência Social. Atualmente certificado como nível 2, o IPMC pretende se inscrever em 2026 para pleitear o nível 4 do programa.
Para isso, o instituto está fortalecendo sua estrutura interna. A equipe de investimentos, por exemplo, já conta com uma área de controle de riscos, além de um analista focado exclusivamente na carteira de imóveis. O IPMC conta com um conjunto de 10 imóveis que representam pouco mais de 6% do patrimônio total do fundo previdenciário.