Iperon mira aportes alternativos | Instituto intensificou estraté...

Edição 368

Albuquerque,FelipeAtaide de(Iperon) 24jul 03Com um patrimônio atual de R$ 5,5 bilhões (junho de 2024), o Instituto de Previdência de Rondônia (Iperon) aumentou o tamanho da carteira própria de NTN-Bs nos últimos dois anos com o objetivo de alcançar uma situação mais confortável para bater sua meta atuarial no curto, médio e longo prazo. Dessa forma, aproveitando o cenário de alta nas taxas de juros nesses títulos, adquiriu em 2024 cerca de R$ 500 milhões nestes ativos, formando uma posição total de carteira de R$ 3,16 bilhões, que corresponde a aproximadamente 56% do portfólio.
Com a marcação dos títulos públicos na curva, com diversos vencimentos, conforme ALM, que vão desde 2025 a 2055, a estratégia tem garantido resultados acima da meta do plano de benefícios. Apesar disso, a equipe de investimentos do instituto não ficou parada na renda variável e nos investimentos alternativos.
A posição em renda variável representa, atualmente, cerca de 10% do patrimônio total do instituto. “Acreditamos que estamos no nível adequado de exposição em renda variável, mas vamos promover a recalibragem de algumas posições na Bolsa doméstica. Pretendemos diminuir a exposição em fundos de ações livres e aumentar a exposição em fundos de dividendos e long biased, que são mais resilientes em momentos de incerteza”, revela Felipe Ataide de Albuquerque, coordenador de investimentos do Iperon. Neste momento, a equipe do regime próprio está olhando para novos gestores para analisar a qualidade de seus times e seu histórico nestes segmentos específicos.
Além da renda variável, o Iperon pretende ampliar a alocação em fundos de participações (FIPs). Atualmente, o fundo mantém 2,5% do patrimônio aplicado nesta modalidade de fundos e deve chegar até 6% com o capital comprometido. O instituto aplica em fundos de quatro gestores de FIPS, que são os seguintes: Vinci Partners, Pátria, Kinea e BTG Pactual. O planejamento da execução da política de investimentos prevê a ampliação desta classe de investimentos para cerca de 10% do patrimônio.
“São investimentos [FIPs] de maior risco, mas também de maior retorno. Queremos participar do crescimento do PIB do país, investir em infraestrutura e na economia real para a geração de emprego e renda. O ponto mais importante na seleção dos fundos é o processo de diligência nos gestores”, indica Felipe Ataide. O gestor diz que o instituto está bastante satisfeito com o retorno dos FIPs de seu portfólio e cita diversos cases de crescimento de empresas que foram impulsionadas por FIPS, como por exemplo, de Drogasil, Smartfit, Equatorial Energia, Unidas, Burger King, Dominus Pizzaria, Tropicália Transmissora, entre outros.
Por outro lado, a carteira de investimentos no exterior, que representa atualmente cerca de 1,5% do patrimônio do fundo, está em processo de redução. “As Bolsas internacionais, especialmente Nasdaq e Nyse, apresentaram alta significativa nos últimos dois anos e na nossa visão pode haver correção dos preços em breve, motivo pelo qual estamos reduzindo nossa exposição nesta classe de ativos estrangeiros”, comenta o coordenador de Investimentos do Iperon. Ele diz que uma possibilidade que começa a ser analisada é a da renda fixa no exterior.

Prêmios das NTN-Bs – Assim como grande parte dos regimes próprios, que tem a permissão de marcar os títulos de renda fixa na curva, o Iperon também vem aproveitando a abertura dos prêmios das NTN-Bs para fazer o casamento com seu passivo. Com cerca de 13 mil aposentados e 33 mil servidores ativos, o plano do RPPS de Rondônia é fundo com grande potencial de crescimento, devendo atingir o patrimônio de R$ 6 bilhões no final de 2024.
“Aproveitamos a abertura dos prêmios das NTN-Bs. Hoje temos mais de 50% em NTN-Bs de nosso patrimônio investido neste tipo de ativos, com uma taxa média de inflação mais 6%”, diz Felipe Ataíde. A posição contribuiu para superação com folga da meta atuarial em 2023, quando o instituto alcançou retorno total de 12,28% ante uma meta atuarial de IPCA mais 4,97%, correspondendo a 8,86% no acumulado do ano. O resultado marcou, portanto, 139% da meta.
Em 2024, com o aumento do estresse do mercado doméstico, o resultado negativo da Bolsa tem prejudicado o desempenho do instituto, mas mesmo assim, o retorno superou a meta atuarial no final do primeiro semestre. Nesse período, o portfólio apresentou rentabilidade de 5,28% ante a meta de 5,19%. O resultado superou também o CDI que atingiu 5,22% no primeiro semestre do ano.
Para atingir a meta no período, a equipe do Iperon continuou ampliando a aquisição de NTN-Bs, com a marcação a vencimento. Foram investidos cerca de R$ 500 milhões em novas posições. A carteira apresenta NTN-Bs com vencimentos entre 2025 a 2055. O avanço da carteira própria, porém, não tem mais muito mais espaço para crescer, diz o Coordenador de Investimentos do instituto. Outros 10% do portfólio estão em Letras Financeiras de banco classificação S1, adquiridas a IPCA + 8,32%, em 2022 e 20% em fundos de renda fixa, a maior parte em CDI.
A carteira de NTN-Bs garante a entrada de cerca de R$ 200 milhões em cupons por ano para o fundo. “As NTN-Bs não serão para sempre, até mesmo porque temos de promover o reinvestimento a cada seis meses. Mas estamos bastante confortáveis. Agora temos de aumentar a diversificação para classes de maior risco, já prevendo o início de um novo ciclo de corte dos juros”, comenta. As NTN-Bs garantem também a redução da volatilidade global dos ativos do Iperon.

Entradas de recursos – O instituto de Rondônia recebe uma entrada entre R$ 700 milhões a R$ 1 bilhão de recursos novos por ano. O déficit atual total representa cerca de R$ 13 bilhões. A previsão é que o déficit seja zerado em um prazo de 4 ou 5 anos no máximo, segundo estudo de ALM realizado recentemente. A folha de pagamentos gira em torno de R$ 100 milhões por mês.

Profissionalização – O Iperon possui classificação nível 4 no sistema Pró-Gestão do Ministério da Previdência Social. É o único regime próprio estadual com a nota máxima do sistema. Além disso, ganhou o primeiro lugar no prêmio nacional de governança Abipem. O instituto mantém uma equipe própria de investimentos formada por um coordenador e mais três servidores, todos eles com certificação de investimentos. Além disso, possui um comitê de investimentos com cinco membros e contrata a consultoria externa SMI, que assessora na consolidação da carteira, em estudos técnicos para seleção de novos produtos, entre outros.
Luz,Alvaro da(SCPrev) 17marÁlvaro Dezidério da Luz, Professor e Economista da SMI Educação, considera o Iperon como um regime próprio com alto grau de profissionalização. “Há um grande grupo de RPPS cuja gestão está cada vez mais profissionalizada, mais próxima dos fundos de pensão fechados”, comenta.
O consultor explica que a abertura dos prêmios das NTN-Bs e a permissão para marcação na curva incentivou um forte movimento de aquisição destes ativos nos últimos dois anos. A permissão para a marcação a vencimento aconteceu com uma nova regulamentação publicada em 2017, mas na época não havia prêmio atrativo dos títulos públicos. Com o último ciclo de alta da Selic e o recente estresse do mercado, os prêmios das NTN-Bs abriram acima dos 6% mais inflação. E segundo os estudos de ALM, produziu uma corrida dos RPPS para a ampliação de suas carteiras próprias de títulos públicos. “É um ativo seguro que não agrega volatilidade. Os prêmios das NTN-Bs continuam atraentes”, indica Álvaro Dezidério.