Edição 240
Quando Maria Ermelinda Vieira assumiu a diretoria administrativa-financeira do Pauliprev, no início de 2009, o instituto dos servidores de Paulínia, cidade do interior de São Paulo, a situação era bastante complicada. O regime próprio acumulava uma série de problemas que impediam, havia dois anos, a obtenção do Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) junto ao Ministério da Previdência Social. A maior parte das aplicações do fundo estava concentrada em fundos tradicionais de um único gestor e a rentabilidade dos anos anteriores só não era pior porque as taxas de juros reais ainda estavam em patamares mais altos do que os atuais. Servidora de carreira, Ermelinda, como é conhecida pelos colegas do instituto, tinha acumulado experiência em gestão de recursos depois de atuar por sete anos no setor financeiro da Prefeitura. Foi quando o prefeito decidiu montar uma nova equipe para dirigir o Pauliprev.
Cerca de três anos e meio depois, as mudanças são evidentes. O instituto recuperou o CRP a partir do começo do ano passado, e desde então, conseguiu a renovação do certificado. A transformação mais profunda ocorreu na área de investimentos. Ermelinda contratou uma consultoria para assessorar as decisões sobre as aplicações financeiras. A consultoria escolhida foi a Plena, que começou a assessorar o Pauliprev a partir de agosto de 2009. A partir daí, o RPPS passou a diversificar suas aplicações e atualmente aplica recursos em 38 fundos de investimentos de cerca de duas dezenas de gestores diferentes. Conseguiu bater as metas em 2009 e 2010 e só não repetiu os resultados no ano passado devido ao péssimo desempenho da bolsa (ver tabela).
Desde março de 2011 Ermelinda assumiu a presidência do regime próprio. No seu lugar na diretoria administrativa-financeira, chamou a servidora Roberta Helena Zarpelon, que atualmente coordena a aplicação da carteira de R$ 560 milhões do instituto. No encerramento do exercício de 2011, os fundos de ações representavam 21,26% do patrimônio e os recursos estavam distribuídos em 12 fundos diferentes. Apenas três deles eram de índices da bolsa. “Procuramos promover a diversificação de nossa carteira de renda variável com a aplicação em fundos de valor e setoriais. Buscamos gestores independentes que possam gerar desempenho diferenciado”, explica Ermelinda.
A estratégia parece corriqueira para um investidor institucional, mas está um passo adiante do dia-a-dia dos regimes próprios de previdência. O segmento de institutos de servidores no Brasil possui, em média, menos do que 5% do patrimônio total aplicado em renda variável, segundo dados do Ministério da Previdência Social. Em geral, os RPPS possuem uma carteira com baixa exposição à renda variável e essa exposição fica concentrada em fundos tradicionais de índices. Dentre os gestores de Paulínia, estão Guepardo, Ashmore, Perqin e Humaitá, entre outras. E o processo de diversificação não pára por aí. A direção do instituto prepara a abertura de uma nova carteira no segmento de investimentos estruturados ainda neste ano.
Ranking – O processo de seleção e aplicação dos recursos do Pauliprev leva em conta um ranking de fundos e gestores baseado em critérios de risco e rentabilidade. De acordo com os resultados do estudo elaborado pela consultoria de investimentos contratada, os fundos com melhores desempenhos recebem maior volume de recursos da carteira do instituto. A seleção de gestores leva em conta também um processo de credenciamento realizado geralmente no início de cada ano. “Todo começo de ano reabrimos o processo de cadastramento de gestores e durante o exercício privilegimos os fundos com as melhores performances”, explica Ermelinda. A diretora-presidente conta que o processo de credenciamento é uma antecipação à exigência do Ministério da Previdência Social (MPS). A Portaria 170, publicada em abril deste ano, exige que, entre outras obrigações, os RPPS informem, por meio de um cadastro, seus gestores de recursos.
O processo de direcionamento das aplicações faz com que as assets independentes possam concorrer de igual para igual com as instituições de grande porte ligadas aos bancos tradicionais. É exigido, porém, que os gestores independentes tenham segregação das funções de custódia, auditoria e administração de recursos. “A maior parte do investimento do instituto de Paulínia em fundos de ações está alocada em gestores independentes que, na média, vêm obtendo melhor retorno do que os registrados por fundos geridos por grandes corporações financeiras”, afirma o consultor da Plena, Roberto Elaiuy.
“É importante verificar a solidez da empresa e se há segregação de funções entre administração e gestão, além da custódia. Se tiver tudo isso, daí partimos para a análise de seus produtos, de acordo ao nosso ranking”, explica Ermelinda. A dirigente afirma que o método permite a seleção de gestores especializados e a obtenção de uma gestão diferenciada, tanto na renda fixa quanto na renda variável. Por isso, o Pauliprev trabalha com fundos de valor e setoriais de ações que trazem rentabilidade descolada dos principais índices de bolsa (Ibr-X e Ibovespa).
Também nos demais segmentos, a diversificação de fundos e gestores é um direcionamento buscado pelo regime próprio de Paulínia. No segmento de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), o instituto fechou 2011 com 13,15% do patrimônio aplicado em seis fundos diferentes. A carteira do regime próprio contava, em dezembro do ano passado, com 16 fundos de renda fixa e quatro multimercados (ver quadro).
Estruturados – Depois de promover a diversificação de segmentos e gestores, o próximo passo do Pauliprev é a entrada em investimentos estruturados. O instituto está em fase de estudo e análise do segmento, através da apresentação aos membros do conselho, para logo iniciar o processo de seleção de produtos. “Esperamos estrear em aplicações em fundos de participações antes do final de 2012”, conta a diretora administrativa-financeira do RPPS de Paulínia. Ela explica que a direção do instituto e os conselheiros ainda avaliam as opções oferecidas pelo mercado.
O processo de estudo e análise do segmento é conduzido com a assessoria da consultoria que presta serviços ao instituto. “Os fundos estruturados serão de grande importância para que, no futuro, os RPPS alcancem suas metas atuariais, na medida em que a diversificação das carteiras é um processo dinâmico, estimulada pela queda das taxas de juros”, diz o consultor da Plena.
Como a política de investimentos aprovada para 2012 não prevê a aplicação em fundos de participações em empresas, caso algum produto seja selecionado será necessário promover uma revisão dessa política. “Ainda não sabemos quanto será investido no segmento de estruturados. Devemos definir o valor na revisão de nossa política de investimentos”, afirma Roberta. Ela revela ainda que as principais opções do segmento, analisadas pela equipe do Pauliprev, apontam para a seleção de fundos nos setores de energia e e-commerce. Outra opção analisada, revela, é o setor de reflorestamento.
“O objetivo é ampliar o processo de diversificação, pois temos uma visão de médio e longo prazo. Somos um instituto poupador com superávit e maior fluxo de entradas do que saídas com pagamento de benefícios”, diz a diretora administrativa-financeira. O Pauliprev conta atualmente com cerca de 5 mil segurados, dos quais apenas 275 são assistidos. Como o número de servidores da ativa é bem superior ao de aposentados e pensionistas, as receitas são muito superiores ao pagamento de benefícios.