Edição 240
Enquanto alguns regimes próprios de previdência amargam prejuízos e se vêem impedidos de realizar saques depois do investimento em fundos que apresentaram problemas com a qualidade dos ativos, outros comemoram estar conseguindo resgatar recursos em FIDCs do Banco Cruzeiro do Sul, que sofreu intervenção do Banco Central (BC) em junho.
Entre regimes de previdência e fundações, possíveis perdas não são alardeadas no mercado. O diagnóstico do Fundo Garantidor de Crédito é que o rombo do banco supera R$ 3 bilhões, o dobro do anteriormente previsto, e apurou-se que o banco tinha na carteira 301 mil empréstimos consignados fictícios.
Um dos regimes próprios que comemora o desfecho é Instituto de Previdência Municipal de Praia Grande (IPMPG). O superintendente, Kleber Vicente Cavalcante, conta que o regime tem participado de assembleias de cotistas para discutir a liquidação do fundo. “Aplicamos em dois FIDCs, um aberto e o outro fechado, com diferentes carências. Um dos fundos será liquidado em 24 meses, à medida que os consignados forem pagos”, diz, destacando que a rentabilidade recebida é a esperada anteriormente. Cavalcante destaca que o recurso da cota sênior está disponível e que a carência dos créditos não chega a 2%.
“Investimos R$ 12,5 milhões, já recebemos R$ 4 milhões e, dos R$ 8,5 milhões restantes, R$ 4 milhões serão pagos até 30 de agosto”, conta. Segundo ele, R$ 4,5 milhões serão recebidos em até dois anos. “É raro um funcionário público deixar de pagar o crédito consignado. A não ser que o prefeito desconte e não repasse ao banco, o que é um bastante raro, mas que já aconteceu com alguns municípios.” Cavalcante admite que o regime próprio vem apresentando sorte. “Também já tivemos recursos no Panamericano e resgatamos sem problema algum. No (banco) Santos, tínhamos R$ 200 mil, para um patrimônio, na época, de R$ 200 milhões.
O diretor de investimentos da Funprei, de Ipojuca (PE), Vagner dos Anjos, também conta que o regime está recebendo os recursos dos FIDCs do Cruzeiro do Sul normalmente. “Temos três fundos do banco: dois abertos e um fechado. Fui pessoalmente nas reuniões com os cotistas e estamos recebendo normalmente. A rentabilidade paga é a prometida, de 116% do CDI, e estamos recebendo antes mesmo do prazo de resgate. No fim, nos beneficiamos com o problema”, conta. “O fato de o fundo estar realmente lastreado em consignado de servidores faz diferença”, comenta.
O sócio da distribuidora Privatiza José Costa de França afirma que, de forma geral, os clientes institucionais que aplicarem em FIDCs de consignado do Cruzeiro do Sul não estão tendo o que reclamar. “Eles tinham uma estrutura apartada do banco e a clientela está satisfeita com o desfecho. A maior parte de recursos está sendo liquidada até o final de agosto e há um fluxo de pagamento para os próximos dois anos, com expectativa até mesmo de resgatar antes. “Esse episódio deve consolidar a confiança de que, quando bem estruturado, um fundo de direitos creditórios é um bom investimento”, opina França.