Edição 360
Com um patrimônio de 1,14 bilhão ao final de agosto, o regime próprio do município de Angra dos Reis, o AngraPrev, fechou os oito primeiros meses deste ano com uma rentabilidade acumulada de 8,13%, o que representa uma performance equivalente a 122% da sua meta atuarial, que é IPCA mais 4,96%. Boa parte desse resultado pode ser atribuído à sua carteira de renda variável do instituto, admite a presidente do instituto AngraPrev, Luciane Rabha.
Segundo ela, embora a renda variável tenha prejudicado o desempenho do instituto em 2022, com o Ibovespa rendendo 4,69% contra uma Selic que fechou o ano em 13,75%, neste ano a situação se inverteu. “Os fundos de ações tem ajudado bastante”, diz Rabha. A renda variável representa 30% dos ativos totais do AngraPrev.
Exatamente por isso, por já representar quase um terço dos investimentos do instituto, não tem como ampliar a participação dessa classe de ativos na política de investimentos que o instituto está desenhando para ano que vem. O martelo sobre a política de investimentos de 2024 deve ser batido até novembro, em reunião do comitê de investimentos com o Conselho deliberativo do instituto. “A tendência é de manter o atual nível de risco”, explica a presidente do instituto.
Tradicionalmente, quando a Selic cai como parece ser a tendência definida pelo Banco Central nas duas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), que cortou 0,5 ponto percentual da taxa em cada reunião, o mercado costuma migrar para o risco. Não deve ser o caso da AngraPrev, cuja carteira de investimentos já inclui 30% de renda variável, percentual muito próximo do limite máximo que o RPPS pode investir nessa classe. “Nossa exposição ao risco da renda variável já é elevada”, diz Rabha. “Não vamos aumentar”.
O Angraprev tem atualmente 53,6% dos ativos em renda fixa, 30% em renda variável, 6,5% em investimentos no exterior e 9,97% em estruturados. Para manter a rentabilidade da carteira no próximo ano, quando as taxas de juros provavelmente devem continuar caindo, o comitê de investimentos do instituto vem discutindo a adoção de “outras estratégias que se beneficiam com a queda da taxa de juros, como como a alocação em fundos pré-fixados na carteira de renda fixa, por exemplo”. Além disso, “os estruturados também se beneficiam da queda dos juros”, justifica o membro do comitê de investimentos do instituto, Renaldo de Souza.
A política de investimentos do instituto para 2024 já está sendo discutida pelo comitê de investimentos, formado por cinco pessoas, entre as quais a própria Rabha, e conta com uma assessoria externa, a Mais Valia. A partir de um desenho traçado no comitê deve ser apresentada ao Conselho Deliberativo até novembro, que deve bater o martelo.
Qualificação – Segundo a presidente do AngraPrev, o comitê de investimentos é formado por cinco pessoas “muito qualificadas”, todas com nível superior e atestadas com CPA 10 e CPA 20, duas certificações profissionais emitidas pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima). São exigências estabelecidas pelo Nível 3 do Pró-Gestão, patamar no qual Angraprev se encontra.
A entidade se prepara, atualmente, para buscar o Nível 4 do Pró-Gestão. Atualmente apenas quatro RPPS possuem certificação de Nível 4 no programa Pró-Gestão: o do estado de Rondônia; a Manaus Previdência (AM); o Iprejum, de Jundiai (SP); e o GuarujáPrev, do Guarujá (SP). Um dos principais benefícios da certificação, do ponto de vista dos investimentos, é a ampliação dos limites de alocação nos segmentos de mais risco, como renda variável, fundos imobiliários e estruturados.
Para Rabha, o desempenho da carteira de investimentos da entidade nos primeiros oito meses do ano é consequência da diligência com que o comitê de investimentos, que se reúne semanalmente para discutir as carteiras, analisa os fundos nos quais investe. “O comitê acompanha todos os fundos e periodicamente escolhe um para analisar mais detalhadamente”, explica. “Nesse, passamos um pente fino”.
Nessa varredura, além de analisar a rentabilidade e a volatilidade do fundo, o comitê verifica a movimentação dos cotistas. Se há uma grande saída de cotistas, é hora de acender o sinal de alerta. “Agora mesmo, estamos olhando um fundo que, em nove meses, perdeu 40 cotistas e não ganhou nenhum. É um sinal de alerta para a gente levar ao Conselho, que analisando junto com outros aspectos deve decidir pelo resgate ou não”, explica Renaldo de Souza, um dos cinco membros do comitê de investimentos. “Até porque, com as saídas de muitos cotistas o fundo acaba ficando desenquadrado, e isso acaba prejudicando o instituto”.
Portfólio – A carteira de renda variável do AngraPrev, que representa 30% do seu patrimônio, é formada majoritariamente por fundos de ações livres mas acomoda, também, um pouco de fundos de dividendos e de small caps. Já a carteira de renda fixa, que representa 53,6% do patrimônio, abrange pouco mais de R$ 100 milhões em títulos públicos e também letras financeiras, fundos IMA e fundos de crédito privado.
De acordo com a presidente do instituto, embora a contribuição da renda variável tenha sido fundamental para a rentabilidade consolidada do instituto nos primeiros oito meses de 2023, elas prejudicaram o desempenho do ano anterior, quando O AngraPrev marcou uma rentabilidade consolidada de apenas 3,17%. “O mercado de ações teve um peso significativo nesse resultado de 2022”, diz Rabha.
Apesar disso, o instituto não tem o hábito de ficar rodiziando os fundos. Segundo o membro do comitê, Renaldo de Souza, as mudanças ocorrem apenas quando se constata algum tipo de problema no fundo. Fora isso, se estiver dando uma rentabilidade aceitável para os parâmetros atuariais do RPPS e não tiver nenhum problema específico, “não mudamos”, explica
A carteira de estruturados do Angraprev, representando 9,97% dos ativos, inclui cinco fundos multimercados e três Fundos de Participações (FIP), com teses de economia real e infraestrura. E, finalmente, a carteira de investimento no exterior, representando 6,5% do patrimônio total, abrange fundos de exterior e de Brazilian Depositary Receipts (BDR).
Concursados – Criado em janeiro de 2009, o Angraprev possui atualmente 44 funcionários, todos concursados ou cedidos pela administração direta de Angra dos Reis para trabalhar no instituto, como é o caso de Rabha. “Ninguém vem de fora”, conta a presidente do RPPS, que assumiu sua direção em 2017, indicada pelo prefeito Fernando Jordão, do Partido Liberal.
“Quando eu cheguei aqui, há seis anos, até tinha algumas pessoas eu eram de fora, mas fui substituindo gradativamente, aos poucos, e hoje todos são concursados”, explica. “Nada contra os institutos que têm gente de fora, mas no nosso caso preferimos essa estrutura”.
O regime próprio de Angra dos Reis possui pouco mais de 8 mil participantes, dos quais pouco mais de 6 mil são ativos e pouco mais de 2 mil são inativos. A entidade possui dois planos, um de capitalização e outro financeiro, que é justamente o que paga as aposentadorias atuais, com recursos repassados pela prefeitura do município.