Edição 253
Não é de hoje que as assets ligadas a bancos, como a Itaú Asset, Bram, Santander Asset, HSBC Gestão de Recursos e mais recentemente a Fator Administração de Recursos estão fortalecendo sua atuação junto aos regimes próprios de previdência (RPPS). O patrimônio desses institutos vem crescendo de maneira acelerada nos últimos anos, mais rapidamente que a velocidade das carteiras dos fundos de pensão, e de olho numa fatia dessas carteiras os gestores privados estão ampliando a disputa com as instituições estatais que são predominantes nesse segmento, principalmente a Caixa Asset e a BB DTVM.
Até aí nenhuma novidade. O fato novo é que agora também as assets independentes estão entrando na disputa, como é o caso da Western Asset e da Victoire Brasil Investimentos (VBI), entre outras.
“Estamos percebendo que há espaço para fundos com estratégias diferenciadas voltadas para os regimes próprios. Por isso, decidimos adaptar nossos fundos para este tipo de cliente”, diz Marc Foster, diretor comercial, responsável pelos clientes institucionais e distribuidoras da Western Asset Management. A asset adaptou o regulamento de sete fundos de investimentos à Resolução 3922, que rege as aplicações dos RPPS, e está começando a oferecer os produtos a partir do início do segundo semestre do ano. São três fundos da modalidade de renda fixa, três de renda variável e um multimercado.
Além de focar na distribuição dos fundos para os regimes próprios, a mudança da grade da Western tem a ver com um processo mais amplo de redução do ritmo de captação nos fundos exclusivos e carteiras administradas. Com R$ 33 bilhões de recursos sob gestão, dos quais R$ 18 bilhões são provenientes de fundos de pensão, a asset mantém o posicionamento neste segmento graças às estratégias exclusivas. Porém, o gestor vem registrando uma desaceleração na captação dos recursos para carteiras e fundos exclusivos desde o ano passado.
“Tivemos bom crescimento entre 2009 e 2011, mas no ano passado percebemos uma desaceleração na captação de mandatos exclusivos”, diz Foster. A Western foi fundada em 2006, quando recebeu a carteira de clientes do Citi, que havia vendido sua asset para a Legg Mason. Ele acredita que ainda continuará ocorrendo captação para fundos exclusivos, porém, que o maior volume começará a entrar em produtos abertos. Por isso, para compensar a queda com os exclusivos, a asset está apostando na oferta de fundos condominiais.
Além de reforçar a atuação junto aos regimes próprios, a Western pretende se aproximar dos fundos de pensão patrocinados por estatais. “Estávamos sentindo falta dos fundos abertos, por isso decidimos realizar uma reestruturação em nossa grade. Fizemos fusões e incorporações de alguns fundos por outros com o objetivo de oferecer alguns produtos condominiais com estratégias diferenciadas”, diz o diretor da Western. Anteriormente, os fundos da asset eram voltados para clientes pessoa física e não tinham patrimônio relevante para acessar o mercado de institucionais. Com a reestruturação, os fundos ficaram com patrimônios maiores e agora a asset está saindo a mercado para tentar fortalecer a captação.
Para isso, deslocou um executivo que era da área de produtos, Élder Andrade, que ficará responsável pelo relacionamento com os regimes próprios. Ele terá apoio de outros dois executivos da área comercial para atender os RPPS, que formam uma carteira de clientes bastante pulverizada. Por se tratar de institutos estaduais e municipais, esses clientes apresentam uma dificuldade para o relacionamento comercial devido à amplitude geográfica com que estão distribuídos. “Não é muito fácil atender os regimes próprios pois estão muito espalhados, mas vamos fazer isso com nossa equipe própria”, diz Foster.
Parceria – A Victoire é outra asset independente que está começando a atuar junto aos regimes próprios. A estratégia de distribuição, porém, ao invés de ser realizada com a equipe interna, é feita através de uma parceria. A asset fez um acordo com a distribuidora Magna, que está trabalhando com exclusividade os fundos de renda variável da Victoire junto aos institutos. “Os regimes próprios têm uma localização geográfica diferente dos fundos de pensão. Estão muito dispersos em todo o país, por isso optamos pela parceria com um agente autônomo em quem temos confiança”, diz Peterson Paz, responsável pela área de relacionamento com investidores da Victoire.
A Magna é uma distribuidora formada por dois sócios, Luiz Fregolent e Miguel Soares, que se conheceram quanto atuavam juntos na equipe comercial do Itaú. Há cerca de dois anos, eles decidiram montar a distribuidora com foco em investidores institucionais. A aproximação com a Victoire surgiu a partir do relacionamento com um dos sócios da asset, André Caminada, que tinha trabalhado junto com Miguel Soares, no antigo Lloyds, e depois também no Itaú. “A Victoire é uma asset diferenciada, com sócios comprometidos e maduros. Acredito que tem bastante espaço para crescer entre os regimes próprios”, diz Soares, da Magna.
A Victoire adaptou três fundos de renda variável para as regras da Resolução 3922. Os fundos de small caps e de ações livres tiveram alterações aprovadas pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários em meados de setembro passado. Um outro fundo de dividendos, teve o novo regulamento aprovado em agosto passado. “As adaptações dos fundos fazem parte de um plano traçado há cerca de um ano, quando a asset decidiu ampliar o foco de atuação também para os regimes próprios”, diz Peterson Paz. Em meados de 2012, a asset decidiu contratar a agência Standard&Poors para a realização de um rating da empresa.
Depois de um processo de diligência, a asset recebeu a nota AMP 2, que é a segunda melhor avaliação em uma escala que vai de 1 a 5. “Um dos motivos para a contratação do rating foi o planejamento de entrar no segmento de regimes próprios”, diz Paz. A regras para as aplicações dos RPPS indicam a necessidade de avaliação de rating do gestor contratado.
Fundada em 2004, a Victoire possui atualmente cerca de R$ 2,1 bilhões de recursos sob gestão, dos quais aproximadamente dois terços são provenientes de clientes institucionais (fundos de pensão brasileiros, fundos soberanos e endowments do exterior).
A asset vem focando na ampliação dos segmentos de institucionais ao longo de sua trajetória. “Faz todo sentido entrar no segmento de institutos de previdência, que está crescendo rapidamente e que vem aperfeiçoando o processo de profissionalização”, diz o responsável pela área de investidores institucionais da Victoire. Ele acredita que há espaço no segmento para fundos com gestão descorrelacionada dos índices tradicionais de renda variável. “Estamos percebendo maior procura das fundações pelos fundos de ações com gestão diferenciada. Acreditamos que isso comece a ocorrer também com os regimes próprios”, diz Paz.
Além dos fundos de renda variável, os gestores apostam no aumento da procura por fundos diferenciados em outras modalidades, como de private equity ou multimercados. “Os novos patamares de juros reais mais reduzidos estão exigindo maior diversificação das aplicações dos regimes próprios. Por isso, deve aumentar a procura por produtos estruturados”, diz Miguel Soares, da Magna. Ele diz que a distribuidora está buscando novas parcerias com assets que possuem fundos de participações ou multimercados do tipo hedge fund.