Edição 254
Devido à falta de boas oportunidades na renda variável e com o fraco desempenho dos fundos da família IMA, os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) estão vendo nos fundos DI uma chance de, ainda que não seja o suficiente para bater, ao menos se aproximar da meta atuarial. Por ter uma política de investimento mais restrita na comparação com os fundos de pensão fechados, os institutos estão procurando recuperar as perdas do ano com opções que têm se beneficiado com o aumento da taxa Selic.
Dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais (Anbima) mostram que no acumulado de 2013, até setembro, os fundos DI foram os que tiveram a maior captação líquida da indústria, de R$ 24,087 bilhões. Entre os RPPS, até agosto, houve captação de R$ 136,3 milhões nos DIs, para R$ 1,066 bilhão, enquanto as fundações registraram um resgate de R$ 313,1 milhões no período, para R$ 6,567 bilhões.
“Embora o DI não bata a meta, o rendimento tem sido positivo, enquanto o IMA neste ano foi negativo”, afirma Antonio Barbeta, diretor de finanças do Instituto de Previdência do Município de Osasco (IPMO). O IMA-B 5+, o mais volátil da família IMA por conta de sua duration mais longa, por exemplo, apresenta uma rentabilidade negativa de 14% no ano, até setembro, enquanto o CDI reporta alta de 9,3% no período. “Não tiramos todos investimentos no IMA, mas tiramos boa parte e colocamos nos DIs”, fala Barbeta.
Em dezembro de 2012, o IPMO tinha uma exposição de 5% nos DIs, que saltou para 23% no mês retrasado. No sentido inverso, a participação dos IMAs dentro do patrimônio da casa, que é de R$ 145 milhões, diminuiu de 30% para aproximadamente 10%.
Para o ano que vem, por se tratar de um ano eleitoral, e com a possibilidade do Fed (Federal Reserve) finalmente dar início ao fim dos estímulos à economia americana, o diretor do instituto previdenciário ainda não sabe se dará continuidade ao movimento migratório dos IMAs para os DIs. “Como o DI tem a facilidade de baixar em D+0, você consegue fazer uma movimentação rápida se houver uma sinalização que os juros vão cair, e o IMA subir. O DI tem essa facilidade de rapidamente conseguir resgatar e aplicar no IMA”, pontua o especialista.
Além da dicotomia entre o IMA e o DI, Barbeta não vislumbra grandes novidades no IPMO para o ano que vem. “Estamos no limite da Resolução 3922, tanto em ações, quanto em FIPs, FIIs, FIDCs. Como sobra pouco espaço, e a rentabilidade não está sendo favorável, ficamos limitados para fazer novos investimentos”.
Ante uma meta atuarial de IPCA mais 6%, o instituto está com uma rentabilidade negativa de 0,17% até setembro, perda que tende a ser zerada, prevê o especialista, dada a recuperação esboçada pelos IMAs com o adiamento de retirada de estímulos do Fed e a valorização apresentada pela Bolsa brasileira nos últimos meses. Além disso, o instituto tem um FIP (Fundo de Participações) que aplica em operações de internet, e que deve entregar um forte retorno de 50%.
Limite ampliado – No caso do Serviço de Previdência e Assistência Social dos Funcionários Municipais de Indaiatuba (Seprev), uma ampliação do limite estipulado internamente, de 15% para os DIs, que já foi alcançado, para até os 30% permitidos pela Resolução 3922, deve ocorrer no ano que vem.
“Conforme os juros iam subindo, procuramos direcionar os novos recursos que entravam para os DIs”, pondera Marcos Barce, diretor financeiro do Seprev. Com isso, o percentual aplicado em DI subiu de 11% em janeiro para 15% em setembro. A política de investimentos de 2013 não contemplou os 30%, explica Barce, porque no início do ano corrente não se imaginava que a Selic teria um avanço tão expressivo – o boletim Focus indicava que a taxa básica de juros seguiria nos mesmos 7,25% até dezembro, frente aos atuais 10% previstos agora.
“Para 2014, como existe uma tendência dos juros permanecerem acima dos 10%, o DI é uma opção. Pode não bater a meta, mas chega próximo, então minha intenção é colocar o teto máximo da 3922 na política de investimentos. É preferível chegar próximo do que ficar longe como neste ano”. O Seprev, até setembro, reporta uma rentabilidade negativa de 5,67%, frente a uma meta de INPC mais 6%.
Assim como no instituto de Osasco, em Indaiatuba o aumento de exposição no DI teve como reflexo uma redução nos IMAs, de 57% para 47%, que contou também com a contribuição gerada pela própria desvalorização dos ativos. Novas reduções nessa categoria são descartadas pelo diretor financeiro. “Não dá para ficar fazendo alterações volumosas, pensando só no curto prazo. A princípio a intenção não é diminuir a participação no IMA, mas continuar direcionando os novo recursos para o DI, e também para outras modalidades. Na renda variável também tem surgido opções interessantes”, fala Barce.
Estagnação – Para aqueles que já tem os 30% permitidos alocados em DIs, como é no Instituto de Previdência dos Servidores do Rio Grande do Norte (IPERN), a diversificação se faz mais do que necessária, e tal diversificação, avalia Flávio Bruno Fialho Ribeiro Dantas, coordenador de investimentos da casa, passa pela maior exposição ao risco na renda variável.
O primeiro passo foi dado de forma tímida, com uma pequena exposição de 1% em um fundo de ações do BB, o Alocações, mas a tendência é que no próximo ano os 15% definidos pela política de investimentos do instituto, ainda que não preenchidos integralmente, ganhem algum reforço. Ainda que faça ressalvas, para Dantas, um caminho a ser trilhado na Bolsa brasileira é via gestores independentes.
“Há esse certo cuidado exagerado, mas ao mesmo tempo necessário, com os gestores independentes, que são os que poderiam aumentar o retorno do IPERN”, avalia o coordenador. “As próprias assets ligadas aos bancos estão trabalhando com gestores independentes. Tem muita gente ruim, mas tem muita gente boa também no mercado. Os gestores independentes não têm tantos fundos, por isso possuem um foco maior”.
Fundações – Se os olhos dos RPPS brilham pelos DIs, o mesmo entusiasmo não se repete quando vamos para os fundos de pensão corporativos fechados. “Será que a Selic vai chegar em 11%, 12%? Não vejo a taxa chegando a 12%. Sob esse ponto de vista, acho que o DI não tem essa atratividade não”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp.
A afirmação de Simino encontra eco entre seus pares, como na Fundação Refer, que tem à frente da coordenadoria de investimentos Silvio Araújo. “Não achamos que o DI é uma boa aplicação. Se for comprar títulos ou ativos de longo prazo, não vamos comprar nada em CDI, vamos sempre procurar ativos indexados a índices de preços. Agora, os recursos de curto prazo ficam aplicados em DI para cobrir as necessidades de folha de pagamento que no nosso caso é muito grande”, pondera o executivo.
A fundação, madura, tem uma relação de inativos sobre ativos de cinco para um, e paga liquidamente cerca de R$ 20 milhões mensais em benefícios. Como não opera no mercado secundário, sempre que a Fundação Refer vai sacar, ou mesmo aplicar recursos de curto prazo, isso é feito em fundos DI. Como os pagamentos na entidade são mais recorrentes que os recebimentos, é natural, nota Araújo, que a aplicação em DI venha caindo.
O movimento, no entanto, não cria o risco de zeragem dos fundos DI da Refer, isso porque quando há o vencimento de títulos públicos, grande parte dos recursos vão para os fundos de caixa, que são os DIs. Atualmente o fundo de pensão tem 5% aplicado em DI diretamente, ante um patrimônio de R$ 2,4 bilhões.
Diferentemente dos RPPS, os fundos de pensão podem comprar diretamente várias classes de ativos tanto públicos quanto privados, com a opção de realizar a marcação dos papeis na curva. Já os RPPS têm maiores restrições à aquisição direta de títulos públicos, com a vedação de compra de ativos privados.