Edição 217
Os avisos e previsões do aumento da volatilidade dos fundos de investimentos indexados ao IMA-B não foram poucos nos últimos meses.
Desde que a Resolução 3.790 do Conselho Monetário Nacional (CMN) entrou em vigor, em setembro do ano passado, os gestores e consultores avisavam que as mudanças seriam grandes para os regimes próprios de previdência social (RPPS). Porém, a coincidência entre o prazo de adaptação das carteiras, no final de março passado, e a variação negativa na rentabilidade de tais fundos assustou muita gente. “Nesse primeiro momento, a mudança está provocando muito transtorno, um verdadeiro estardalhaço para a maioria dos regimes próprios”, diz Alexander Mogno, membro do comitê de investimentos do RPPS de São Bernardo do Campo (SP).
Os RPPS estavam acostumados com volatilidade praticamente zero, pois concentravam a maior parte de suas aplicações em fundos indexados ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI). A nova resolução de investimentos, porém, criou a obrigatoriedade de que os fundos de renda fixa que recebem aplicações dos institutos estaduais e municipais tenham pelo menos 70% dos papéis indexados à família IMA – Índice de Mercado Anbima, da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais. “Os regimes próprios estão assustados, pois estavam acostumados com o CDI, que sempre corrige para cima e por isso não apresenta volatilidade”, explica Claudenir Vieira da Silva, sócio-diretor da Conexão Consultores. Ele acrescenta que, em alguns casos, os resultados negativos para 2010 podem até provocar aumento da alíquota de repasse de recursos por parte do ente público para o respectivo instituto de previdência.
Agora não tem para onde correr. Se antes a maioria dos RPPS optava por uma gestão bastante conservadora, com a concentração das aplicações em fundos DI, hoje essa opção não existe mais ou está acabando. “A nova resolução trouxe a volatilidade para a renda fixa”, reforça o diretor da Conexão. Anteriormente, para quem conseguia conviver com maior volatilidade e tinha apetite para tentar maiores rentabilidades, a saída era aumentar a exposição a renda variável. Agora, no entanto, nem é preciso ir para o mercado acionário para encarar o aumento das oscilações. Os fundos indexados ao IMA-B registram variações às vezes tão fortes quanto as da Bolsa. Em compensação, também oferecem melhores perspectivas de performance no médio e longo prazo se comparados ao CDI.
Para compensar o aumento da volatilidade dos fundos de renda fixa, os gestores já começam a criar algumas alternativas. “Estamos recomendando o balanceamento da carteira de renda fixa, dividindo pela metade as aplicações entre fundos IMA-B e IRF-M”, aponta Fernando Vítor de Oliveira, sócio-diretor da Maxx Consultoria de Investimentos. Apesar de pertencer à família IMA, o IRF-M é um indexador que neste momento está sendo beneficiado pela abertura da taxa básica de juros. Em todo caso, embora com volatilidade menor que a do IMA-B, o IRF-M apresenta maior oscilação do que o CDI (veja tabela).
“Estamos sentindo uma forte mudança de cultura na gestão, pois já vínhamos aumentando a exposição a renda variável e agora temos que conviver também com volatilidade na renda fixa”, conta Cleusa Amaral, gerente financeira do Ipreville, regime próprio de Joinville. “Antes, se quiséssemos fugir da volatilidade, ficávamos parados na renda fixa, mas agora não temos escapatória”, resume.
Joinville – O instituto de Joinville (SC) deu início à migração de recursos para fundos indexados ao IMA-B a partir de novembro do ano passado e terminou a adaptação à nova resolução de investimentos antes do final de março último, o prazo definido na norma do CMN. O comitê de investimentos do RPPS decidiu não adiar as adaptações, mesmo com o surgimento da Portaria 345, do Ministério da Previdência Social, que adiou o prazo de enquadramento para fins de emissão do Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP) para julho de 2011.
“No início tivemos dificuldades com alguns gestores que ainda não tinham fundos adaptados à nova resolução, mas decidimos esperar que todos eles fizessem as mudanças”, diz Cleusa Amaral. Por isso, não houve necessidade de troca de gestores. Os resultados dos fundos IMA-B foram similares ao CDI de novembro até fevereiro. “Sentimos aumento da volatilidade em abril e maio, quando vários fundos registraram cotas negativa, mas em junho a maioria já começou a se recuperar”, informa a gerente do Ipreville.
Junto com a mudança para os fundos IMA, o instituto também vem promovendo um aumento da exposição a renda variável. O plano é aumentar a carteira de fundos de ações para até 10% do patrimônio, como tentativa para bater a meta atuarial em 2010. “Estamos sentindo maior estresse para bater a meta atuarial neste ano. Dependendo do resultado, pode levar a um aumento da alíquota de contribuição da prefeitura, mas é muito difícil que isso aconteça”, estima Cleusa Amaral.
São Bernardo – O regime próprio de São Bernardo do Campo (SP) também promoveu o enquadramento dos investimentos no prazo original definido pela CMN 3.790. Porém, ao invés de concentrar todas as aplicações em fundos de renda fixa indexados ao IMA-B, decidiu pulverizar os recursos em subíndices da família IMA. Desta forma, dividiu a carteira em fundos atrelados também ao IRF-M e ao IMA Geral. O instituto mantém aplicações em 18 fundos diferentes, e a estratégia tem dado resultado. Enquanto os fundos IMA-B davam resultado negativo em abril, entre 0,3% e 0,5%, os fundos indexados ao IRF-M renderam entre 1,15% e 1,20% positivos.
Como o instituto tem uma folha de pagamentos de R$ 14 milhões por mês, os recursos foram resgatados dos fundos IRF-M. “Decidimos pulverizar os recursos pois sabíamos que a volatilidade de alguns subíndices era menor do que a do IMA-B. Isso permitiu que não precisássemos realizar prejuízo para pagar os benefícios”, afirma Alexander Mogno, membro do comitê de investimentos do RPPS de São Bernardo. Ele informa que cerca de 13% do patrimônio do instituto, que gira em torno de R$ 300 milhões, está aplicado em fundos IRF-M, enquanto 27% está em produtos atrelados ao IMA-B e 8%, ao IMA Geral.
Após o resgate de recursos dos fundos IRF-M, os valores são repostos com a entrada dos repasses da prefeitura. Para o gestor de São Bernardo, a nova resolução de investimentos dos regimes próprios precisa ser aperfeiçoada. “Faltou deixar um limite específico para os recursos de curtíssimo prazo, que vão para o pagamento de benefícios”, sugere Mogno.
Para bater a meta atuarial, o instituto de São Bernardo pretende aumentar ainda a exposição a renda variável. “Está mais difícil bater meta em 2010 devido à concentração em fundos IMA-B. Por isso, apostamos na Bolsa, que deve se recuperar até final do ano”, prevê o gestor de São Bernardo.
Praia Grande – Os gestores do RPPS da Praia Grande (SP) aguardaram até o último momento, no final de março, para se enquadrar à nova resolução de investimentos. “Estávamos esperando alguma novidade. Havia possibilidade de mudança na resolução, o que acabou não acontecendo”, lembra Kleber Cavalcante, superintendente do Instituto de Praia Grande.
Ele está sentindo o aumento da volatilidade das novas aplicações, pois enfrentou a variação de cota negativa de seus fundos logo no primeiro mês, em abril. “Foi uma grande novidade. Percebemos que, no curto prazo, os fundos IMA-B podem apresentar volatilidade maior que a Bolsa”, endossa.
Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelo instituto era equacionar a questão do pagamento dos benefícios. O repasse dos recursos da prefeitura ocorre apenas no quinto dia útil do mês, enquanto o pagamento das aposentadorias acontece no último dia de cada mês. “Não podíamos sacar dos fundos de IMA-B para pagar nossa folha de R$ 1,4 milhão pois teríamos prejuízo”, explica Cavalcante. A saída foi manter uma aplicação antiga em um fundo DI para cobrir os compromissos de curtíssimo prazo.
“Aproveitamos a brecha da Portaria 345 para deixar uma pequena parte de nossas aplicações, cerca de 5%, em um fundo DI”, revela. Outros 95% das aplicações do instituto já estão enquadrados à resolução. Todo fim de mês, ocorre o resgate de recursos deste fundo indexado ao CDI e, logo que os repasses da Prefeitura, cerca de R$ 2,5 milhões, entram na semana seguinte, uma parte vai para repor as cotas do mesmo fundo.
Outra mudança sentida pelo gestor do instituto, é a diferença dos resultados dos diversos fundos nos quais mantém aplicações. “As mudanças trouxeram uma importância maior para a qualidade da asset, que precisa comprar no momento certo e realizar uma gestão mais ativa”, afirma o superintendente do RPPS de Praia Grande. Como consequência, as taxas de administração dos novos fundos indexados à família IMA também são bem maiores que as dos fundos DI, mas se supõe que a rentabilidade de tais produtos no médio e longo prazo vá compensar o aumento dos custos (leia mais nas páginas 50 e 51).