Edição 296
A demanda por produtos de previdência aberta deve aumentar nos próximos meses, impulsionada principalmente pela tributação dos fundos exclusivos e pela regulamentação que o mercado espera que a Superintendência de Seguros Privados (Susep) defina ainda neste ano para os investidores qualificados. Essa regulamentação permitirá a essa classe de investidores aplicar em fundos de previdência aberta com perfis mais agressivos, incluindo maior concentração em renda variável e até investimentos no exterior.
A regulamentação da Susep é aguardada pelo mercado desde 2015, época em que o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou a nova Resolução 4.444 que disciplina os investimentos no mercado de previdência aberta para investidores qualificados, ampliando limites para renda variável e incluindo até a opção de investimentos no exterior. Contudo, essa flexibilização depende de uma regulamentação por parte da Susep, que ainda não existe, sobre o perfil do investidor qualificado.
Para a gestora de renda fixa da Mongeral Aegon Investimentos, Patrícia Pereira, essa definição, juntamente com a taxação sobre fundos exclusivos, deve tornar mais atrativos os produtos de previdência aberta aos investidores mais arrojados. “Começamos a ter um incentivo para atender a essa classe de investidores com novos produtos”, diz.
Os produtos de previdência aberta também serão impactados também pela queda da taxa de juros, que exigirá uma mudança no escopo dos fundos atualmente oferecidos no mercado. Para atender a essa procura e se adaptar ao novo cenário, as companhias começam a preparar veículos de investimento também mais sofisticados, com uma parcela maior de risco do que os atualmente oferecidos no mercado.
Segundo Patrícia Pereira, “com a Selic caindo, a diversificação se torna fundamental, independente do produto. E justamente com o Governo mudando sua meta fiscal e anunciando medidas como a tributação dos fundos exclusivos, vimos a oportunidade de migração de um novo perfil de investidor, mais qualificado, para os fundos de previdência”, destaca.
De acordo com ela, desde que o governo anunciou a tributação dos fundos exclusivos, gestores e consultores tentam entender qual será o papel da previdência aberta nesse novo cenário. “Parece que haverá uma demanda do público de wealth por novos fundos. E como a previdência aberta não tem a tributação na fase de acumulação, acaba sendo uma opção para que esse público continue com essa isenção”, destaca.
Produtos no forno – A Brasilprev já está seguindo as tendência de mercado e lançou recentemente uma série de produtos com maior diversificação de risco, sendo eles fundos de renda fixa e multimercado. Ambos terão a possibilidade de aplicações no exterior. Além disso, os fundos multimercados oferecem a possibilidade de investimento de até 49% em renda variável, que é um limite ainda baixo, mas pouco praticado pelo mercado das abertas.
Segundo o presidente da Brasilprev, Paulo Valle, a ideia é que no futuro as parcelas aplicáveis em investimento de risco sejam ainda maiores. “Estamos agurdando a definição do perfil de investidor qualificado, que poderá investir ainda mais em ações. Tendo essa regulamentação adicional, lançaremos novos fundos com percentual de alocação maior”, explica.
Segundo a diretora de previdência e vida resgatável da Mapfre, Maristela Gorayb, há uma grande expectativa por parte das empresas de que, com a regulamentação de investidores qualificados, produtos possam ser tirados do forno. “A possibilidade de oferecer produtos com mais risco para que esses investidores tenham chances de obter maiores retornos é fundamental”, afirma Maristela.
Para ela, contudo, o perfil do investidor qualificado da previdência aberta deve ser mais flexível do que aquele traçado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que hoje determina esse investidor como quem possui R$ 1 milhão em patrimônio para investir. “Na previdência aberta, quem tem esse volume de recursos já está em acumulação há muitos anos e dificilmente vai investir em mais risco. Os investidores mais jovens, que talvez não tenham esse montante, são os que têm maior apetite a risco. Precisamos de recursos para que esse produto chegue a eles”, destaca.
Mais risco – A Resolução 4.444, de 2015, amplia de 49% para até 70% o limite de aplicação total no segmento de renda variável para as entidades de previdência aberta. Além disso, permite que as entidades apliquem em um rol maior de ativos, entre eles ETFs (Exchange Traded Funds), COEs (Certificado de Operações Estruturadas) e todos os ativos admitidos para investimento sujeitos à variação cambial. Por outro lado, a resolução não permitirá mais que as entidades apliquem diretamente em imóveis, e sim apenas por intermédio de fundos de investimento imobiliários (FII).
Patrícia Pereira, da Mongeral, diz que a empresa já conta com uma família de produtos diversificada, apenas aguardando esse impulso do mercado para lançar novos fundos, mas por conta da demanda apresentada pelos clientes, ainda há mais produtos de renda fixa tradicional no mercado. “Não víamos motivos para criar outros produtos. Ainda assim, já trabalhamos com um fundo de crédito privado, de inflação, e outros com caráter moderado e agressivo”. A Mongeral também monitora produtos multimercado e investimentos no exterior.
Na Mapfre, as definições por parte da Susep estão sendo acompanhadas com atenção. Segundo Maristela Gorayb, “a Resolução 4.444 vai abrir a perspectiva em termos de produtos com maior parcela em ações, e poderemos fomentar a tomada de risco em um investimento de longo prazo como alternativa para retornos maiores. O cliente, tendo a seu favor o longo prazo, perceberá que dá para diluir esses riscos todos”, explica.
Ainda de acordo com a diretora de previdência e vida resgatável da Mapfre, a empresa conta atualmente com um portfólio mais voltado para renda fixa, mas alguns produtos permitem alocação de até 49% em ações, além de ter um fundo de crédito. “Passamos por uma fase no Brasil que desencorajou as pessoas a fazerem aplicações na bolsa de valores. O mercado de renda variável não entregou o resultado que os fundos esperavam. Mas conceitualmente falando, risco combina com longo prazo”, diz Maristela Gorayb.