Volta para dentro de casa | Para melhorar o desempenho e cortar c...

Edição 249

 

Na contramão das pequenas e médias entidades de previdência, que estão terceirizando partes ou, em alguns casos, todas as suas operações de gestão, os maiores fundos de pensão dos EUA estão enxugando gastos. A ação de deslocar recursos para a gestão interna é conhecida como “insourcing” e já faz parte da estratégia de fundos de pensão dos servidores da Califórnia, da Carolina do Sul e da Carolina do Norte.

Fundo de pensão dos professores do Texas, em Austin, a entidade que soma patrimônio de US$ 26,6 bilhões está incentivando que a equipe interna trabalhe em conjunto com gestores externos em um modelo híbrido. Esse modelo é adotado para a gestão das carteiras de private equity e fundos de hedge. Em alguns casos, as carteiras são geridas 100% internamente.

O trabalho feito em casa não é uma postura nova do segmento. Nos Estados Unidos, 26% dos 200 maiores planos de benefícios definidos estão sob este tipo de divisão dos trabalhos financeiros. A internalização desta gestão apresenta uma mudança econômica significativa para as entidades. De acordo com dados da consultoria CEM Benchmarking, de Toronto:

1) O custo médio das estratégias de renda variável gerenciadas internamente era de 10 pontos percentuais menores, contra 40 pontos base das estratégias de gestão externa.

2) Para estratégias de renda fixa, o custo interno médio foi de três pontos percentuais em comparação com 18 pontos de base para externa.

3) Para o setor imobiliário, o custo interno médio foi de 21 pontos base contra 75 pontos base externos e 134 para um fundo externo de fundos.

4) Em private equity, o custo interno médio foi de 25 pontos base contra 165 pontos base. E 244 pontos base para os fundos de fundos externos.

Melhores retornos – A prestadora de serviços canadense também constatou que os ativos geridos internamente pelos fundos de pensão tiveram os rendimentos mais positivos. Para cada aumento de 10% em recursos administrados internamente, o retorno adicional foi de 3,6 pontos percentuais. “Nada deve inverter esta tendência em direção ‘insourcing’”, diz o diretor da Wilshire Associates, de Denver, Michael Schlachter. Para ele, a cada seis meses ou mais, outros fundos de pensão de grande porte irão adicionar outra classe de ativos em seu portfólio baseados no programa de gestão interna”, defende.

Um consultor de investimentos, que pediu para não ser identificado, conta que o “real condutor da procura por este tipo de gestão é a redução de custos, além da falta de confiança com alguns segmentos da indústria. Outros participantes do mercado salientam que o objetivo principal é a economia de gastos que leva a melhores retornos de investimento. “Há evidências muito fortes de que os fundos que podem gerenciar ativos internamente tem vantagem”, acredita um dos diretores do sistema de aposentados da Califórnia (CalPERS), Joseph Caro.

A CalPERS gerencia internamente 80% de sua carteira de ações e 92% de sua carteira de renda fixa. “Estamos pagando apenas uma fração de um ponto base nesta estratégia. É incrivelmente eficiente”, conta. Segundo o dirigente, o setor privado trabalha para ganhar pelo menos dez vezes o valor gasto nos custos internos. Há planos de alocação na casa de cerca de US$ 500 milhões. Hoje a fundação estuda investir US$ 3,6 bilhões do seu portfólio de renda fixa e também aumentar a parcela internacional de seu patrimônio.

Internalização – O fundo de pensão da Carolina do Sul é uma das fundações que busca uma mudança para adotar uma gestão de recursos doméstica. De acordo com o diretor do fundo, Hershel Harper Jr., a atual meta de alocação de ações small e large caps norte-americanas é de 14% dos ativos do plano. Agora os funcionários do comitê de investimentos da casa quererem gerir títulos de curto prazo internamente. Essas classes de ativos têm metas de alocação de 3% e 2%, respectivamente. O programa será o primeiro movimento em larga escala da fundação em direção à internalização da gestão dos recursos. Caso as mudanças nas regras sejam aprovadas pelo Legislativo, a nova ação terá início em julho de 2014.

Dado o fraco desempenho da última década, o fundo da Carolina do Norte precisa renovar seus ativos de renda variável e renda fixa para atingir a rentabilidade de 7,25%, explica o tesoureiro, Janet Cowell. Um projeto de lei para dobrar a alocação do fundo na classe de investimentos alternativos para 40% está sendo votado na Assembléia Legislativa do Estado. “Atualmente a instituição paga US$ 18 milhões em taxas de fundos alternativos que poderiam ser reduzidas com uma mudança na gestão”. Cowell afirma que não tem pessoal suficiente para administrar mais ativos internamente. Cerca de 35% dos recursos contam com a gestão da equipe interna.

Expansão das equipes – No fundo de pensão do Texas, o time de analisas da entidade mais que dobrou: foi de 27 para 58 profissionais, complementa a porta-voz, Debbie Ratcliffe. O Legislativo estadual aprovou a expansão do pessoal nas entidades por considerar “mais eficiente e mais rentável do que pagar gestores externos, que recebem taxas elevadas ou até chegar a incorrer em uma dupla cobrança de taxas em determinadas classes de ativos.”

A executiva detalha ainda que os novos funcionários, 12 dos quais foram contratados até agora, irão gerenciar ou trabalhar com classes de ativos alternativos de investimento, como private equity, imóveis e fundos de hedge, entre outras estratégias. O custo da carteira de private gerida internamente será 50% a 60% menor do que a parcela gerida externamente por meio de fundo de fundos, na opinião do diretor de mercados privados, John Grubenman. “É tudo uma questão de escala. Um sistema de pensões de US$ 500 mil simplesmente não será capaz de adicionar pessoal talentoso o suficiente. O plano tem de estar preparado para pagar salários competitivos. A questão da atração e retenção de pessoal no setor público é uma questão espinhosa.”

A afirmação é baseada na situação atual dos fundos que têm equipes internas com salários baixos. “Há alta rotatividade e isso é caro quando se trata de manter a continuidade de uma estratégia interna”, diz o diretor-gerente da Greenwich Associados, de Connecticut, Rodger Smith.

“Nos Estados Unidos, um diretor de investimentos de um fundo de pensão público ganhou mais de US$ 1 milhão em 2012. Ele é Britt Harris, diretor do fundo de pensão dos professores do Texas”, exemplifica o recrutador Charles Skorina, de San Francisco.