Valia quer crescer com instituídos | Tendo a Vale como sua princi...

Edição 359

A Valia, sexto maior fundo de previdência fechada do País, está se preparando para crescer. Com patrimônio de R$ 29,8 bilhões, 110 mil participantes ativos, 10 planos com perfis distintos, a fundação dos funcionários da Vale e de outras 49 empresas, vem se estruturando para ampliar o número de contribuintes em futuro próximo e, para tanto, espera aprovação da Previc para alterar seu regulamento. A decisão tem respaldo nos superávits sucessivos nas duas modalidades de planos de Benefício Definido (BD), levando os gestores a manterem a estratégia de pouca alocação de risco nas carteiras de investimento. Mesmo diante de cenário macroeconômico favorável, apontando para redução gradual da Selic até o fim de 2024, não há sinais de mudança à vista nos portfólios dos planos da Valia.
“A alteração será pequena, porque trabalhamos com visão de longo prazo, com títulos marcado na curva e não marcados a mercado, que é onde se pode fazer gestão ativa. Não vamos aumentar a exposição a risco em nenhum dos nossos planos. Vemos melhoria no cenário econômico brasileiro, mas nossa macroalocação não deve ser alterada, porque já estamos com os compromissos futuros casados com os ativos”, diz Edécio Brasil, presidente da Valia. Este ano, por exemplo, o BD pagará abono de superávit de cerca de cinco benefícios líquidos de contribuição.
A premissa, de manutenção da estratégia de investimentos das carteiras, vale tanto para os planos BD quanto para os CD, mas em relação a esses últimos, especificamente, o executivo acredita que há boas oportunidades para gestão ativa – integralmente terceirizada – tanto no mercado de renda fixa quanto em renda variável, capazes de proporcionar ganhos adicionais aos participantes em futuro próximo. Serão, no entanto, movimentos pontuais feitos pelos fundos de investimentos que administram parcela dos recursos da Valia.
Maurício Wanderley, diretor de investimentos da fundação, observa que a manutenção dos portfólios, mesmo com mudanças macroeconômicas à vista, tem por trás uma razão clara. “Já preparamos os planos para essa nova conjuntura. Nos CDs, estamos bem diversificados. Na renda variável, temos batido o Ibovespa. Aproveitamos a alta que ocorreu e compramos muitos títulos públicos indexados à inflação. Hoje estamos já praticamente casados com fluxo de pagamentos, com risco de reinvestimento muito pequeno”, diz.
Quanto ao plano BD, tanto ele quanto Edécio Brasil enfatizam que as obrigações estão bem encaminhadas, logo não há por que aumentar risco ou alterar alocação de portfólio por causa do processo de redução da Selic. Com patrimônio superior a R$ 11 bilhões e fechado para novos participantes, o BD viu sua alocação em ativos em renda variável ser reduzida ao longo dos anos, saindo de 35% até chegar aos 2% atuais. Em imóveis, a participação é de 8%, percentual que poderá crescer com as mudanças previstas para esse segmento. “Esperamos que a regulamentação seja revisitada, porque hoje temos muita restrição em relação a investimentos em imóveis. Isso, para que possamos ter mais flexibilidade principalmente de fazer permuta, o que atualmente não é possível”, diz o presidente.

Superávit – No BD, paralelamente à redução de exposição ao risco, a participação das NTN-B foi se ampliando. Segundo Wanderley, o plano está com a vida resolvida e ainda tem muito superávit para distribuir. O mesmo ocorre com o plano de benefício proporcional, criado em 2001, com R$ 3 bilhões de patrimônio, e que também vem acumulando superávits. Hoje, a participação em ativos de renda variável desse fundo gira em torno de 6%, um pouco superior à de seu antecessor, o tradicional BD, mas a renda fixa compõe a maior parte da carteira. “Estamos com risco de reinvestimento muito pequeno”, diz o diretor. O aspecto conjuntural influencia menos, porque os ativos são marcados na curva. “Temos obtidos com eles bons resultados e com rentabilidade acima da meta atuarial”, diz.
Em relação aos planos CDs, apesar das boas oportunidades à vista, as alocações dependerão das opções dos participantes em relação ao risco. A gestão de ativos com foco em uma conjuntura econômica nova foi feita com base na diversificação. “Na nossa visão, estamos preparados para enfrentar o cenário que está por vir. Com a alta da Bolsa, os perfis mais longos estão rendendo bem, capturam mais intensamente o processo de queda de juros e recuperação dos preços dos ativos”, diz Wanderley. A Valia trabalha com cenário de Selic em 11,75% no fim de 2023 e de 9,25% ao final de 2024. Para o PIB, a estimativa é de expansão de 1,9% este ano, caindo para 1,3% no próximo.
Os planos CDs estão divididos em duas categorias, a de Perfil de Investimento e de Ciclos de Vida. A primeira é composta por carteiras com alocação integral em renda fixa e outras três modalidades com participação em renda variável, que pode ser de 20%, 40% e 60%, no Brasil e no exterior. A segunda, de Ciclos de Vida, possue carteiras dinâmicas, com redução do risco em função da data de aposentadoria. Os CDs têm 15% do patrimônio em multimercado e 10% em ativos no exterior – nos dois casos estão no limite definido pela legislação. Não há mudanças no radar.
“Por enquanto, acreditamos que os limites da lei para alocação no exterior e em multimercados estão adequados. Eventualmente, a taxa de juros caindo demais seja possível tomar mais risco. No momento, os limites atendem as necessidades, mas dependendo da situação poderemos precisar de mais retorno. Essas carteiras vão entregar o que precisamos, nesse cenário. Se mudar, teremos que rever nossa indicação”, diz Wanderley.

Instituídos – Mesmo sem alterações significativas na gestão das carteiras, há mudanças à vista na Valia. Mais especificamente em relação à estratégia de ampliação na oferta de planos de previdência. Nos próximos meses, a fundação lançará planos instituídos corporativos para companhias parceiras das atuais patrocinadoras, com ou sem a coparticipação, dependendo da política do RH de cada uma delas. O potencial, segundo Edécio Brasil, é enorme.
“Podemos dobrar a quantidade de participantes (em relação à atual). O número de empregados dessas empresas chega a ser maior que o das nossas patrocinadoras. Nosso projeto é crescer nesse segmento, em mercados agregados aos dos nossos patrocinadores”, diz Brasil, com base na experiência do Plano Família, lançado pela Valia em 2019 e que já conta com R$ 100 milhões em patrimônio e 8,3 mil filiados. Por trás dessa estimativa, está o quadro atual da previdência no Brasil e as novas relações de trabalho. O cenário aponta para redução do número de contribuintes em relação à população de beneficiários. Nos anos 80, havia 9,1 trabalhadores para um aposentado, hoje há menos de cinco e em 40 anos será 1,6 trabalhador para cada aposentado. As estatísticas levam a oportunidades para o crescimento da previdência complementar.
“Com os novos planos, as empresas parceiras das patrocinadoras darão para seus empregados ferramentas de poupança previdenciária. Com isso, atingiremos um público maior, diluindo custeio administrativo e oferecendo previdência a muito mais gente, já que o pilar oficial está se enfraquecendo. Além disso, vamos ajudar nossos patrocinadores a ter mão de obra terceirizada com a qualidade tão alta quanto a de seus próprios empregados. As empresas parceiras vão atrair bons funcionários”, diz.
Segundo ele, as oportunidades de crescimento apenas com o atual grupo de 50 empresas são modestas. Vem daí a necessidade de adequação dos planos à nova realidade do mercado. “Temos mão de obra em transformação, com privatização, profissionais passando por várias empresas durante a vida, redução do peso da previdência pública. Precisamos ter muita agilidade e adequar os planos a essa realidade”, diz Brasil.
A fundação formou um grupo de trabalho dedicado a dar andamento ao processo e vai encaminhar à Previc proposta de alteração de regulamento para dar início ao programa. A ideia é começar com poucas empresas, cerca de cinco, como piloto da nova agenda. “Inicialmente, serão fornecedores de serviços e produtos estratégicos na relação com nossos patrocinadores. Não queremos ir para o mercado aberto. O caminho que escolhemos foi o de crescer no entorno dos atuais patrocinadores”, diz.
A Valia, que completa 50 anos em 2023 sem trazer no currículo plano de contingenciamento de déficit, está entre as 347 fundações que apresentaram superávits até abril de 2023, enquanto 267 amargaram déficits no período, conforme a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). “Tomamos decisão acertada no passado de correr menos riscos, o que nos fez chegar até aqui com esses bons resultados e pagando abonos a nossos participantes. Precisamos preservar esse legado e buscar o que tem de novo chegando, que é principalmente a tecnologia. Apostamos muito na transformação digital da fundação e temos investido muito em tecnologia da informação, análise de dados e inteligência artificial”, diz Edécio Brasil.