Universidade apóia planos do setor público | Institutos de previd...

Edição 81

A corrida para a montagem de fundos de previdência está levando estados e municípios a bater nas portas das universidades em busca de ajuda. Com preços mais acessíveis e um peso institucional indiscutível, elas devem tornar-se cada vez mais os principais consultores desse tipo de trabalho. “Os governos e prefeituras certamente se sentem mais confortáveis trabalhando com uma universidade do que com uma empresa privada”, diz Ildemar Silva, consultor da Investor Services, contratado para coordenar o grupo da UnB.
A procura de universidades por órgãos do governo não é uma novidade. No entanto, na área de previdência começou a se intensificar há cerca de um ano. Os primeiros trabalhos de consultoria para administrações públicas na área de previdência surgiram de maneira dispersa a partir de 1993, quando a reforma da previdência ainda engatinhava. Muitos deles eram estudos sobre o impacto dos aumentos de salários dos servidores sobre a folha de inativos no futuro.
Boa parte desses era levada adiante por professores universitários, que atuavam como consultores particulares. “Vários prefeitos tomavam um susto quando viam o passivo atuarial que se formava. Mas, naquela época, o momento político não era favorável à criação de fundos de previdência”, conta o professor Luiz Guilherme Chymura, diretor da FGV Consulting, empresa da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro (FGV/Rio).
Com o correr do tempo a área foi se desenvolvendo e os debates previdenciários ganharam envergadura, passando a envolver além da parte atuarial também a parte de engenharia financeira, ganhando a atenção dos chefes de executivo. A necessidade de um maior número de profissionais para fazer o trabalho, inclusive de diferentes especialidades – além de atuária, direito, administração, estatística, entre outras – passou a demandar uma melhor estruturação desse tipo de consultoria.
Assim, as universidades foram criando equipes especializadas no assunto. Uma das pioneiras foi a UFRJ, por meio da Fundação Coppetec, que atende hoje a cerca de 150 municípios, a maioria fluminenses, e os estados de Alagoas e Rio Grande do Norte. O primeiro trabalho foi a montagem do instituto de previdência da cidade de Piraí, no sul do Rio de Janeiro, iniciado no final de 96. “Num primeiro momento, nós fomos procurados pelos interessados em montar regimes de previdência. Depois, enviamos cartas aos municípios do Rio de Janeiro, mostrando que era viável equacionar as suas previdências”, conta Benedito Passos, coordenador do Núcleo Atuarial de Previdência.

Pioneira – O núcleo conta com uma equipe de cerca de 30 pessoas, das áreas de estatística, atuária, administração, direito e economia, que se reunem de acordo com a necessidade do trabalho a ser feito. Parte deles são consultores de renome, que também dão aula na universidade, além de ex-alunos. Quando é preciso são envolvidos também alunos da graduação e pós-graduação.
Para Passos, além de contribuir para o desenvolvimento do país as universidades saem ganhando com os convênios celebrados com estados e municípios, tanto na formação dos futuros profissionais como em recursos. “Os estados e municípios não imaginam quantas bolsas de estudo e projetos pudemos viabilizar com esses recursos”, observa ele.
De acordo com o professor Luiz Guilherme Chymura, da FGV/Rio, no Exterior existem universidades inteiras ligadas a grandes seguradoras, debruçadas sobre temas pertinentes ao segmento. “A universidade no Brasil, hoje, tem papel de inteligência nacional, colaborando na criação de soluções de ponta para o desenvolvimento do país, que é a sua vocação”, diz.
A FGV Consulting atualmente dá consultoria ao estado de Pernambuco, um dos primeiros a ajustar suas contas previdenciárias. Em seu currículo estão ainda as prefeituras do Rio, São Paulo, Salvador e Recife, embora nem todas estejam com seu fundo em andamento.

Paulistas – As universidades paulistas ainda estão dando os primeiros passos rumo a esse mercado. Segundo o professor Luiz Corrar, da Fipecafi/USP, a fundação está se estruturando para adotar uma postura mais atuante. “Não surgiram oportunidades para nós no segmento de estados e municípios, mas agora estamos acompanhando o tema mais de perto”, diz.
Ele ressalta que a maior parte dos professores da USP, sobretudo de atuária, são consultores famosos e já desenvolvem trabalhos para administrações públicas. Além disso, chama a atenção para a escassez de profissionais qualificados. O curso de atuária da USP, por exemplo, foi extinto em 1992, devido à baixa procura. “A parte mais pesada desse tipo de consultoria certamente é a atuarial, existindo hoje poucos profissionais disponíveis no mercado”, acrescenta.
Já a FGV/SP, por meio da GV Consult, está desenvolvendo uma metodologia de modelagem atuarial, legislação e engenharia financeira para depois apresentar o produto pronto ao mercado. “Não entramos antes nesse tipo de consultoria por uma própria sobrecarga de trabalho da GV Consult, que é bastante solicitada para vários tipos de trabalho no setor público”, explica o professor Flávio Rabelo, integrante do projeto.

Fora do eixo Rio-São Paulo, outra que está na disputa pela montagem de fundos de previdência do setor público é a Universidade Federal de Brasília (UnB), por meio da Secretaria de Empreendimentos. Ela atende há cerca de um ano o Distrito Federal, e firmou no final do ano passado um convênio com a Associação Municipalista de Pernambuco (Amupe), que tem 182 filiados. Desses, aproximadamente 130 aderiram ao serviço de consultoria previdenciária.
Para ajudá-la na cordenação dos grupos de trabalho, a UnB contratou o consultor Ildemar Silva, da Investor Services, com atuação junto aos fundos de pensão privados. De acordo com o professor Luís Fernando Victor, responsável pela consultoria para a Amupe, a parceria com empresas privadas é muito positiva, porque transfere conhecimento à universidade. “As universidades têm muito a dar e também têm muito de aprender. Essas parcerias vão se refletir na melhoria do setor de prestação de serviços no Brasil como um todo”, acrescenta.