Edição 259
Uma nova forma de captação de recursos para os grandes bancos do país, os Certificados de Operações Estruturadas (COE), que correspondem às notas estruturadas, que já são bastante populares na Europa e nos Estados Unidos, podem representar também para as entidades de previdência complementar fechada do país uma nova maneira de diversificar o seu portfólio. A nova modalidade de ativo pode facilitar alguns tipos de investimentos que até agora esbarram em questões regulatórias, como é o caso da necessidade de no mínimo quatro fundações terem de se juntar com o mesmo objetivo para realizar uma alocação no exterior.
Entre as vantagens do produto, que entrou em vigor em janeiro último, está a possibilidade de proteger o capital, caso o cenário futuro se mostre adverso ao tipo de investimento que foi escolhido. No caso de proteção de 100% do capital, porém, o investidor tem de abrir mão de uma rentabilidade mais significativa. Ao contrário, caso a proteção seja realizada parcialmente, tanto a rentabilidade quanto a perda podem ser maior. Entre outras vantagens do produto, estão a possibilidade de se desfazer do ativo no mercado secundário, e de combinar operações de renda variável e renda fixa dentro de um único pacote.
“Estamos avaliando a alocação nos COEs, ainda não fizemos, mas já soube de fundações que fizeram. É um produto bem flexível para as necessidades das fundações, obviamente cada entidade terá uma utilização específica, mas ele abre a possibilidade de mais um instrumento que pode agregar tanto busca de retorno como gerenciamento de risco para os fundos de pensão”, afirma Maurício Wanderley, diretor de investimentos e finanças da Valia. “A entidade determina sua estratégia, e pode buscar diversos bancos para precificar essa estratégia até encontrar as melhores condições”.
Segundo Wanderley, a tendência é que as primeiras operações com COEs do fundo de pensão da Vale envolvam ações e juros. “Com o produto é possível eliminar alguns riscos de uma exposição em equities. O próprio mercado a todo momento vai dar condições para que algumas estruturas fiquem mais atrativas do que outras”.
Investimentos no exterior – Além das operações mais tradicionais com as quais as fundações já estão bem habituadas, via COE também é possível estruturar investimentos ainda pouco explorados, como a alocação no exterior. “O COE é um instrumento relativamente mais simples para se montar. A questão do investimento no exterior por exemplo, tem aquela regra que tem de ter outros três fundos com o mesmo objetivo; agora é possível montar um COE de capital garantido em que você acessa o S&P 500 ou qualquer outro índice”, afirma Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp.
Por outro lado, Simino lembra que, ao investir em um COE, a entidade corre o risco de contraparte, ou seja, o da instituição financeira que oferece o produto. “Do ponto de vista estritamente teórico, você assume o risco da instituição, mas se for feito com um grande banco, de primeira linha, esse risco é mitigado”.
Além da questão do risco intrínseco do COE, o diretor da Fundação Cesp coloca ainda outra barreira para que o produto ganhe representatividade importante entre o patrimônio das EFPC no curto e médio prazo. “Ainda temos muito dinheiro para ganhar em produtos mais simples, como debêntures, letras financeiras e CDBs”, pondera Simino, que prossegue: “a alocação dos fundos de pensão em renda variável, se excluirmos os três maiores fundos de pensão está entre 12% e 13%. Não temos nem alocação em ações, que é o primeiro passo para tomar um pouco mais de risco dentro dessa figura de ativos com baixa complexidade operacional, e vamos mergulhar em processos mais complexos?”, questiona o diretor.
Crescimento acelerado – No Bradesco, as captações com COEs já superam a casa dos R$ 250 milhões, dentro de uma indústria que caminha a passos largos para o patamar de R$ 2 bilhões, em pouco mais de cinco meses de operações. “O COE permite que você faça o que chamavam de produtos estruturados num único instrumento, pois socializa o conceito das operações estruturadas. Ou seja, coloca tudo no mesmo arcabouço jurídico”, afirma Cassiano Ricardo Scarpelle, diretor de tesouraria do Bradesco. Até o final do ano passado, o investidor que quisesse fazer uma aposta na valorização do dólar, mas ao mesmo tempo se proteger de uma possível depreciação, teria de fazer dois contratos distintos, comprando a divisa norte-americana, e, separadamente, um derivativo, como o dólar futuro. Agora, no entanto, ambas as operações podem estar incluídas dentro de um mesmo COE.
A maior parte dos COEs colocados pelo Bradesco até o momento foram com o capital protegido, e vinculados ao dólar. “O COE veio para ficar, mas como todo produto novo, está passando por um processo de aprendizado junto ao mercado. Em todo caso, os números de captação surpreenderam todos os bancos emissores”, diz Scarpelle. Os bancos imaginavam que a penetração do ativo teria uma curva mais gradual, mas foi mais agressiva do que se esperava, segundo o executivo.
Com um tíquete médio na casa dos R$ 100 mil, mas com alguns já saindo ao redor dos R$ 50 mil, o diretor do Bradesco acredita que, em um futuro próximo, o COE se torne acessível a uma gama mais ampla de investidores, com a oferta de ativos ao redor dos R$ 25 mil. Scarpelle entende que, se houver aumento da volatilidade do mercado, haverá maior propensão do investidor para aplicar em COEs. Isso deve ocorrer porque, no pior dos cenários, ele terá de volta o que foi investido originalmente sem perdas, nem ganhos adicionais. “Percebemos a possibilidade do investidor ganhar um pouco mais se acreditar em uma determinada visão de mercado, seja em um dólar mais forte, ou no Ibovespa mais fraco”.
Embora uma das características do COE seja a sua possibilidade de incorporar dentro de si ativos de diferentes vertentes, os captados pelo Bradesco até agora foram mais direcionais, e envolveram, além de moedas, Bolsa brasileira, S&P 500, juros e inflação. Scarpelle acredita ser questão de tempo, até que o investidor com perfil adequado ao risco do instrumento enxergue boas perspectivas de negócio em uma possível correlação de inflação com juros futuros, ou de um índice com uma ação específica. Dado o bom nível de captação realizado até agora, o executivo acredita que, até o final do ano, o banco pode ter uma carteira própria de COE ao redor dos R$ 2 bilhões.
Secundário – Uma importante diferença em relação às operações estruturadas que eram feitas até então pelos bancos é o fato de o investidor poder formatar o COE com uma instituição e conseguir vendê-lo para outra após sua concepção. “O instrumento é muito melhor do ponto de vista do cliente, pois ele pode ser negociado no mercado secundário. Já tivemos casos de clientes que vieram com um COE emitido por outra instituição, para negociarmos esse certificado”, pondera Luis Barros, especialista da área de produtos estruturados do BTG Pactual. “Como a operação era feita anteriormente ficava impossível reverter a operação junto a uma outra instituição”, acrescenta o especialista.
Ainda que se trate de um produto de captação bancária, Barros destaca que, diferentemente de outros instrumentos de captação como o CDB ou a poupança, o COE não tem o custo do depósito compulsório, e tampouco a salvaguarda do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) caso a instituição emissora feche as portas. “O COE não tem esse tipo de custo, o que mostra que o investidor que compra esse tipo de ativo deve ter consciência de que vai correr o risco de crédito do emissor”, fala o especialista do BTG Pactual.