Edição 119
Ter “confiança é ótimo, controle é melhor”. Com esse ditado alemão na cabeça, a Volkswagen Previdência Privada (VWPP) partiu para uma remodelação total da sua atividade de investimentos, contratando a Mellon Brascan como um super-xerife encarregado de cuidar de todo o operacional da área, que envolve desde a checagem dos negócios realizados até a marcação a mercado dos papéis, o controle de risco das aplicações e o relacionamento com os gestores externos. Com isso, os movimentos dos seis gestores passaram a ser acompanhados e fiscalizados pela Mellon, que os reporta à fundação e cuida para que a sua política de investimentos seja seguida.
Na opinião do tesoureiro-executivo da Volkswagen, César Favilla, uma das grandes vantagens do novo sistema é que o controle de risco passou a ser feito antes da tomada das decisões. Antes, só era feito após as medidas terem sido tomadas, o que não prevenia as perdas e apenas apontava os eventuais motivos de fracos desempenhos das carteiras. Agora, além de prevenir eventuais perdas o controle antecipado de risco também elimina a possibilidade de fraudes. “Montamos uma estrutura que é imune a gestões fraudulentas”, afirma Favilla.
A mudança, que demorou um ano para ser implementada, está em funcionamento há um mês e meio. E os primeiros resultados já começam a surgir. A rentabilidade das aplicações, sujeita a frequentes altos e baixos anteriormente, passou a sofrer menos oscilações e tem conseguido superar com mais facilidade os benchmarks usados pela fundação, o IBX e o CDI. Na busca por melhorar ainda mais a rentabilidade da fundação, a partir de maio a VWPP adotou o INPC+6% ao ano como meta atuarial, ao invés de TR + 6%.
Claro que essas mudanças não foram feitas de forma absolutamente tranqüila. Houve resistências, e várias, entre elas a dos próprios gestores que tiveram que renegociar taxas com a fundação, a partir da contratação de um administrador externo. Como algumas atividades que eram feitas pelos gestores foram assumidas pela Mellon, esse foi o mote para chamá-los para uma rodada de renegociação de taxas. O resultado foi tão satisfatório que a fundação conseguiu baixar de cerca de 1% sua taxa total de administração dos investimentos para 0,24%.
Outra grande dificuldade para implantar o novo sistema foi negociar um contrato único com os gestores, estipulando as mesmas regras e obrigações para todos e dando à fundação melhores condições de comparabilidade. “Como era um contrato único para todas as assets, havia oito departamentos jurídicos envolvidos”, explica Favilla. “Isso dá bem a idéia do que foi fechar aquele contrato”.
Sistema – De acordo com o superintendente financeiro do fundo de pensão, Luiz Paulo Brasizza, que acabou de assumir o cargo, a mudança é um reflexo da nova postura da fundação. Antes, a opção para melhorar o desempenho da área era investir basicamente na formação das pessoas, aprimorando sua capacidade de atuação. Agora, a fundação tem investido muito mais no aperfeiçoamento do sistema. “Muitas vezes há um aposta única na formação profissional dos indivíduos, mas se o sistema não tornar-se mais eficiente não haverá melhorias efetivas”, afirma Brasizza.
Na antiga estrutura, os seis gestores (Bradesco, Safra, Santander, ABN AMRO, Unibanco e Alfa) cuidavam da estratégia e da alocação de recursos, enquanto a custódia ficava com o Itaú (que também fazia a precificação dos títulos). A administração de risco, feita com softwares de acompanhamento, ficava sob responsabilidade da Dreyfus Brascan. Agora, tanto as operações cotidianas dos gestores quanto a custódia passam pelo crivo da Mellon Brascan, que faz também a marcação a mercado dos títulos e a fiscalização e avaliação dos gestores (os piores desempenhos, baseados numa média móvel dos últimos 12 meses, deixam o grupo). Além da Mellon, a VWPP contratou a consultoria PPS para fazer a auditoria dos processos e as avaliações de performance e risco e a Towers Perrin para fazer os serviços atuariais.
Juntamente com os poderes de fiscalizar as operações, a Mellon assumiu também a responsabilidade por eventuais prejuízos decorrentes de falhas na sua atuação. Com isso, ela se compromete a ressarcir a fundação no caso de ficar comprovado que esses prejuízos resultaram de erros de fiscalização. “Se a Mellon deixar passar algo que nos cause prejuízo, vai ter de indenizar a fundação”, diz Favilla.
Quatro olhos – A política de controle múltiplo sobre cada medida faz parte da chamada política dos “quatro olhos”, em que risco, alocação, custódia e auditoria são feitos por diferentes entidades ou pessoas. “Nosso negócio é fazer automóveis, nós não podemos montar uma superestrutura para fazer a gestão e controlar o risco no fundo, então o melhor foi terceirizar. Mas tivemos o cuidado de blindar a fundação com um sistema seguro, transparente e rentável”, afirma Favilla.
Com isso, o sistema tornou-se mais eficiente e também mais seguro. A política dos “quatro olhos” garante que nada fica concentrado nas mãos de uma só pessoa. Há sempre uma instância superior, ou paralela, acompanhando o andamento dos trabalhos e o desempenho da atividade. O trabalho do superintendente Brasizza, por exemplo, é acompanhado diretamente pelo tesoureiro-executivo da patrocinadora, César Favilla, que também integra o conselho da Volks.
Na verdade, Favilla conhece profundamente a rotina do fundo de pensão já que acumula, há vários anos, o cargo de tesoureiro da patrocinadora e conselheiro do fundo. Ele comanda tudo de sua sala, que mandou decorar com antigas máquinas registradoras e quadros retratando cédulas e moedas nas paredes – uma antiga paixão. Dessa forma, o acompanhamento que faz dos trabalhos da fundação é também um importante aporte de experiência para o novato Brasizza, ainda mergulhado em conferências e cursos específicos sobre fundos de pensão, principalmente na área legal.
Uma das grandes vantagens de Brasizza, que até chegou a participar na montagem da fundação, em 1987, mas depois afastou-se da área, é o grande conhecimento que possui da estrutura da montadora alemã, onde trabalha há 14 anos. Ele chegou a ficar durante um ano na Alemanha, trabalhando na tesouraria da matriz. Na fundação, ele substitui Flávio Talasca, que antes acumulava as áreas de risco, fundo de pensão e seguro do grupo Volkswagen.
Com a mudança, Talasca torna-se o principal responsável pela área de risco. Isso reflete fortemente a filosofia da empresa, de não se acumular responsabilidades em apenas dois olhos, quer dizer, sobre os ombros de apenas um executivo.
Outros fundos – As mudanças na VWPP estão sendo acompanhadas de perto por vários fundos de pensão de grande porte, interessados em saber como irá funcionar. Um deles é a fundação Petros, da Petrobrás, que depois de vários estudos resolveu adotar modelo semelhante, contratando também a Mellon para fazer a administração da área de investimentos e o gerenciamento de risco. A custódia centralizada continua a ser feita pelo Itaú.
Além dos fundos de pensão, a própria patrocinadora da VWPP, a Volkswagem do Brasil, já começa a adotar alguns princípios da fundação dentro da sua área financeira. Afinal, uma tesouraria que movimenta milhões de reais diariamente acaba parecendo-se com um investidor institucional.
Aportes Voluntários – A VWPP tinha, em abril, patrimônio líquido de R$ 560 milhões (ver gráfico acima). Para incrementar ainda mais a sua rentabilidade, a fundação começou, no final de maio passado, uma campanha para incentivar os empregados a realizarem aportes voluntários de capital na fundação. “Se o funcionário vender um bem, receber parte do 13º salário ou a participação dos resultados da empresa, poderá engordar sua conta no fundo de pensão”, diz Brasizza. O número de participantes que fazem contribuições voluntárias foi de 3.994 em abril. Já os participantes somavam 33.470.