Elas trazem resultados | Trio de executivas à frente do fundo de ...

O Metrus, o fundo de pensão dos funcionários do Metrô de São Paulo, se tornou, há pouco mais de um ano, um ponto fora da curva no conservador sistema fechado de previdência complementar nacional. Sua cúpula executiva é 100% composta por mulheres: a diretora-presidente Alexandra Leonello Granado, que assumiu o comando em dezembro de 2018, a diretora de investimentos e previdência Keite Bianconi, no posto desde maio de 2018, e Cícera Simoneide Figueiredo Carvalho, titular da área de saúde há 13 meses. As nomeações pelo conselho deliberativo, segundo Alexandra, não tomaram como referência qualquer política de diversificação de gênero, atendo-se, única e exclusivamente, aos critérios de qualificação profissional.
“Ficamos muito contentes, claro, pelo fato de as mulheres estarem ocupando espaços de destaque na sociedade em geral, mas no caso específico do Metrus a mudança foi fruto exclusivo de critérios profissionais. Foi uma feliz coincidência resultante da conjuntura da entidade”, diz Alexandra, que antes de se presidente do Metrus foi presidente do conselho deliberativo da fundação, de 2015 a 2018, e diretora do Metrô, de 2012 a 2013, onde respondeu pela área de assuntos corporativos.
Diversos estudos realizados pelo meio acadêmico, consultorias e instituições internacionais atestam que o talento feminino agrega valor a empresas e organizações em escala significativa. O relatório “Conclusões sobre gênero”, publicado em 2013 pela International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial voltado ao setor privado, revela, por exemplo, que a remoção de obstáculos à atuação das mulheres em setores e ocupações dominados por homens, caso dos fundos de pensão, gera ganhos de produtividade na faixa de 13% a 25%.
A maioria da população atendida pelo Metrus – composta por 12.130 participantes ativos e aposentados na previdência e 72 mil vidas nos planos de saúde – pode até ignorar essas conclusões, mas parece confiar no trabalho da equipe feminina. Tanto que as contribuições espontâneas ao Plano II, de contribuição variável (CV), e ao instituído Metrus Família, de contribuição definida (CD), atingiram a marca recorde de R$ 2,43 milhões em 2019, valor 131,77% acima do pico anterior, registrado em 2018. “Os participantes reconheceram os benefícios resultantes dos ajustes efetuados na entidade”, comenta a presidente.
A nova diretoria tem apostado em cortes de custos e busca de retornos fortes para as aplicações. Em abril de 2019, com a revisão e a unificação dos equacionamentos dos déficits apurados em 2008, 2011 e 2015 no Plano I (BD), as contribuições extraordinárias dos participantes ativos pode cair entre 35% e 2.771,19% e a dos assistidos 26,71%.
Os riscos de novos desequilíbrios do Plano I, constituído há 27 anos, poderão ser eliminados de vez. O Metrus se prepara para dar início à análise de um projeto de substituição do BD por até dois planos, de CV e CD. A proposta será objeto de detalhados estudos atuariais e negociações com as partes envolvidas – patrocinadores, participantes e assistidos. “A iniciativa atende a uma demanda apresentada pela própria população do Plano I, que em boa parte se arrependeu de não ter migrado para o Plano II, criado em 1999”, observa Alexandra.
Além da redução das contribuições extraordinárias do BD, a fundação também cortou na carne, enxugando o quadro de pessoal e os níveis hierárquicos, incluindo as extinções de uma diretoria e algumas gerências, a renegociação de contratos com fornecedores, entre outros itens, que permitiram uma economia de cerca de 30% em 2019. O rearranjo contemplou, ainda, a desocupação de um dos quatro conjuntos comerciais utilizados pela entidade, que será alugado ou transformado em ambulatório. “Ganhamos em eficiência e repassamos essas conquistas aos nossos participantes e assistidos na forma de uma redução nas taxas administrativas: de 0,66% para 0,56% dos recursos garantidores”, diz Alexandra.

Na mesma linha, as carteiras de investimentos foram submetidas, nas palavras da executiva, a uma “operação pente fino”. A entidade realizou uma análise de todos os ativos de seus planos e passou a cobrar mais frequente e intensamente os 56 gestores externos. A regra se aplica até mesmo aos responsáveis por fundos DI, voltados a aplicações de recursos em caixa com remunerações alinhadas ou mesmo abaixo do CDI. “Cobramos retorno, qualquer que seja a classe do veículo. Um de nossos fundos DI, por exemplo, entregou 115% do CDI em 2019”, destaca.
A elevação da régua levou, no entanto, a poucos desinvestimentos. A fundação encerrou aplicações em apenas dois fundos imobiliários, que eram lastreados em três edifícios corporativos de São Paulo. “Estamos muito atento a oportunidades no segmento de fundos imobiliários”, diz Alexandra. “Mas nosso foco está voltado para veículos que estejam realizando novas chamadas de capital e que tenham vários ativos em carteira. Só um ativo, ou poucos, nem pensar.”

Ajustes em planos, cortes de custos e uma maior exposição à renda variável – na contramão do ALM (Asset Liability Management), que recomendava apostas mais firmes em renda fixa – trouxeram bons resultados. O Plano I, com patrimônio líquido de R$ 1,37 bilhão, fechou 2019 com rentabilidade de dois dígitos pelo segundo ano consecutivo: 12,35%, superando a meta atuarial em 2,38 pontos percentuais. Já o Plano II, com volume de R$ 1,33 bilhão, colheu o maior retorno dos últimos seis exercícios: 15,81%, acima do alvo em 6,32 pontos percentuais.
“No Plano I, que é maduro e está fechado para adesões, aumentamos a parcela de renda variável de 1,1% para 4,48% atendendo inclusive a pedidos dos próprios participantes. Deu certo, pois a renda variável garantiu um retorno de 38% em 2019”, conta Keiti Bianconi. “O mesmo ocorreu no Plano II: a fatia de renda variável cresceu de 11% para 17,4%, gerando um ganho de 41%.”
Outro destaque foram os investimentos no exterior, que representam pouco mais de 4% das carteiras dos planos BD e CV, cerca de 0,5% acima do registrado há um ano. Pilotados por gestores distintos, os sete fundos de investimentos no exterior com os quais opera, todos abertos (três de renda variável e quatro macros), renderam 24,6% em 2019. Segundo Keiti, essa classe tende a ganhar espaço nas aplicações da fundação, em razão dos bons retornos alcançados. “Pretendemos constituir dois novos fundos exclusivos para investimentos externos, um para cada plano”, revela Keiti. “Eles permitirão alocações em mercados e ativos diferentes daqueles contemplados nos fundos abertos que aplicamos.”
Além disso, o portfólio da entidade elevou seu nível de risco no exercício passado. A renda variável aumentou de 5,95% para 10,84% e os investimentos estruturados, centrados em multimercados, saltaram de 7,61% para 10,42%. Já a renda fixa declinou de 72,18% para 66,73%, embora tenda a ganhar gás neste ano com aplicações em crédito privado (ver reportagem nesta edição).
“A diversificação é o melhor seguro de risco”, diz Alexandra, que além dos FIIs com poucos ativos em carteira decidiu vetar, assim que assumiu a presidência da fundação, também aplicações em fundos de investimento em participações (FIPs). “Não é possível descartar a possibilidade de novas incursões em FIPs, em razão da queda dos juros, mas por conta de algumas más experiências que tivemos nessa área esses fundos não figuram em nosso planejamento.”
A carteira de imóveis encolheu em 2019, com a venda da participação no Plaza Sul Shopping, em São Paulo. A diretoria da entidade, entretanto, não tem pressa alguma em alienar ou transferir para fundos os ativos remanescentes – cotas dos shoppings Metrô Itaquera e Boulevard Tatuapé, duas torres residenciais e quatro salas comerciais – para se enquadrar à Resolução 4.661, que estabeleceu a zeragem dos investimentos diretos dos fundos de pensão em imóveis até 2030.
“Só vendemos a participação no Plaza Sul porque recebemos uma boa oferta”, diz Alexandra, que, a exemplo de outros dirigentes do sistema, acredita em uma revisão, ainda que parcial, da exigência imposta pela Resolução 4.661. “Tudo bem em proibir as fundações de não comprar novos imóveis, mas não faz sentido exigir que se livrem do estoque, inclusive de suas sedes, pois resultará na elevação dos gastos administrativas já que elas terão de alugar imóveis.”