Trava na volatilidade | Após o traumático 2013 na renda fixa, fun...

Eléu Baccon, da EmbraerPrevLuiz Paulo Brasizza, da VWPPEdição 260

 

O ano passado foi marcado pela forte volatilidade na renda fixa, que pegou de surpresa participantes ativos e assistidos, acostumados com a relativa segurança e estabilidade do segmento. Os fundos de pensão sentiram um aumento da insatisfação dos participantes com as rentabilidades entregues por seus planos.

Dado que a renda variável também não conseguiu apresentar um bom desempenho no período, um trabalho de Asset and Liability Management (ALM) tinha pouco espaço para buscar retornos muito além do que já estava sendo obtido nas classes de investimento mais tradicionais.
Com a dificuldade de achar opções no mercado para alavancar os ganhos dos planos, a saída encontrada por algumas entidades foi a de minimizar as perdas, via redução da volatilidade na carteira. Para isso, as fundações foram atrás de uma metodologia complementar ao ALM, que ainda é pouco utilizada no país, o Liability Driven Investment (LDI), que em uma tradução livre significa “investimentos definidos pelo passivo”.
Na EmbraerPrev, Eléu Baccon, diretor superintendente e de seguridade, recorda que os canais de comunicação da fundação ficaram entupidos quando a Selic começou a subir, derrubando a rentabilidade da renda fixa e as cotas pagas aos beneficiários. “Tivemos várias reuniões, fizemos apresentações para explicar a situação”. Apesar dos encontros, parte dos assistidos não se convenceu, e começou a ocorrer um movimento de saída do plano. “Mesmo tendo a contrapartida da patrocinadora, mesmo com um plano sem taxa de carregamento, características do plano corporativo que por si só se vendem, as pessoas estavam propondo abrir mão dos benefícios para não ter uma rentabilidade negativa”, fala Baccon.
Em função disso, a entidade começou a procurar formas de manter os participantes e assistidos motivados dentro do plano de contribuição definida (CD), e em conversas com alguns consultores lhe foi apresentado o conceito do LDI, que tem como maior objetivo neutralizar a volatilidade de forma combinada com as necessidades do passivo. “O LDI é um modelo que gosta da marcação a vencimento”, resume o diretor. Com a nova metodologia, a EmbraerPrev, que ainda não fazia uso dessa prática, passou a marcar na curva 60% da sua carteira de renda fixa, e com os bons resultados obtidos, esse percentual já está hoje próximo dos 80%, sendo que a parcela de renda fixa dentro do PL total da casa corresponde a quase 90%. A concentração em renda fixa é justificada pelo fraco desempenho da bolsa domeśtica verificado nos últimos três anos.
Em julho de 2013, após a aprovação pelo conselho, o LDI foi implantado apenas no perfil conservador da entidade, no qual há uma concentração maior de aposentados, e que aplica 100% dos recursos em renda fixa. “Percebemos o anseio de todos os participantes por esse mesmo modelo, e acabamos implantando o LDI para os outros perfis na virada do ano”, afirma Baccon. O perfil moderado aplica 80% em renda fixa e 20% em renda variável, e o arrojado, 60% em renda fixa e 40% na variável. “O maior mérito do LDI não é ganhar mais, sabemos que os títulos, marcados ou não na curva, vão ter o mesmo resultado. O ponto principal é que a marcação a vencimento consegue neutralizar toda a volatilidade, que incomoda tanto o participante”.
O fato do plano da EmbraerPrev ainda ser novo, explica o diretor, é um ponto que favorece a aplicação do LDI na casa, uma vez que a entidade conta com relativa folga para fazer a marcação na curva, já que a maior parte dos pagamentos começará a ocorrer daqui duas ou três décadas. O plano existe desde 1999, mas foi apenas em 2009 que foi criada uma entidade de previdência complementar própria para fazer a administração dos ativos – antes a BB Previdência que fazia a gestão. Com patrimônio de R$ 1,32 bilhão, a EmbraerPrev tem aproximadamente 17 mil participantes, dos quais apenas 400 são assistidos.
Ajuste fino – Assim como o ALM tem liberdade para montar estratégias diversas que casem o retorno esperado dos investimentos com as obrigações dos fundos de pensão, o LDI também pode ser aplicado em diversas situações nas quais a entidade tenha como baliza principal os passivos a serem cobertos.
Na Volkswagen Previdência Privada (VWPP), após o bom ano de 2012, quando as fundações tiveram ganhos expressivos com a queda da Selic e a marcação a mercado, a entidade se viu com um superávit de R$ 30 milhões. “A partir do momento em que fizemos o ALM e conseguimos um superávit, buscamos a melhor forma para reduzir os riscos que eventualmente tivéssemos”, afirma Luiz Paulo Brasizza, diretor de investimentos da VWPP.
“Apesar de termos o trabalho de ALM, que faz a quitação das obrigações com o casamento do ativo com o passivo, o LDI mostrou que existiam alguns pontos da curva em que havia a necessidade de uma atenção diferenciada. Compramos alguns ativos exclusivamente para períodos determinados, em que entendíamos que os recursos estavam muito exatos para cobrir a necessidade do passivo”, pondera o executivo. “O ALM te dá uma ideia dos valores que você precisa, mas o LDI é um ajuste fino desse processo, ele veio para suavizar nossa curva de pagamento”.
A VWPP tomou conhecimento e fez uso do LDI por uma solicitação da matriz alemã. No Velho Continente, nota Brasizza, o conceito dos investimentos guiados pelo passivo já está mais presente no dia dia dos grandes fundos de pensão.
Diferentemente da EmbraerPrev, na VWPP o LDI é aplicado somente no plano BD da casa, que tem um patrimônio de R$ 420 milhões, 100% dele alocado em renda fixa, dos quais 80% marcados na curva. Com a marcação majoritária na curva, o plano BD da VWPP registrou uma rentabilidade de 9,48% no complexo 2013 para grande parte das fundações, contra uma meta atuarial de 9,79%. “Tivemos no ano passado uma situação bem tranquila quando comparada com outras entidades”, diz o diretor.
Diferenças entre o ALM e o LDI
Lauro Araújo, diretor da LAS Consultoria, e que trabalhou com a EmbraerPrev na implantação do LDI junto com a Gama, explica a diferença entre o ALM e o LDI. “O ALM procura buscar um comportamento do ativo que esteja em linha com as características do passivo, tendo em vista determinado orçamento de risco. O ALM busca gerar retornos suficientes para financiar parte dos custos do plano, para não ter de haver tantas contribuições”, define o especialista. “No plano CD, o ALM visa melhorar o resutado do investimento para aumentar o saldo do participante que assume determinado risco”.
Já no caso do LDI, Araújo pontua: “o LDI está mais preocupado com a forma como você vai pagar os benefícios numa data futura do que realmente com o resultado do retorno dos investimentos. É uma metodologia que busca fazer uma carteira de ativos que esteja muito próxima de seu passivo em termos de pagamentos futuros dos benefícios. O LDI busca garantir o pagamento mais do que rentabilizar ele”.
O especialista cita dois pontos do LDI que merecem um cuidado especial. O primeiro deles é o fato de os títulos públicos, principais ativos utilizados nessa metodologia, não terem vencimentos para todos os anos a partir de 2020. “Existem buracos, você não consegue montar uma carteira de LDI perfeita, há o risco residual do reinvestimento a uma taxa de juros lá na frente”. A segunda questão citada por Araújo diz respeito justamente a planos jovens, como o da EmbraerPrev, que ainda receberão muitas contribuições. “Isso não dá a proteção total para o plano, porque só parte do ativo já está constituído. As novas contribuições entram, e essas já não tem mais a cobertura do LDI. Quando se pega um plano saldado, fechado, sem contribuições, aí sim o LDI fica muito justo”.