Terceirização de valor | Fundação Cesp amplia estratégia de retor...

Jorge SiminoEdição 242

 

O fundo de pensão da Cesp e empresas do setor elétrico (Fundação Cesp) está reforçando uma estratégia denominada de “retorno absoluto”, que está recebendo R$ 130 milhões – valor que pode se ampliar para até R$ 500 milhões. Para isso, está aumentando de um para cinco os gestores externos para o segmento – também conhecido como “valor”. A decisão faz parte de um processo de reestruturação da carteira de renda variável promovido ao longo dos últimos anos e segue exemplos de outras fundações como Funcef, Valia, Faelba, Fibra e São Rafael, entre outras (ver box). A Fundação Cesp começou a mudança depois da crise de 2008 com a abertura de novos segmentos na renda variável e agora está ampliando com os mandatos de valor.

Duas novas assets, a Gávea e a Sul América, já foram selecionadas após passar por um processo de avaliação que durou cerca de cinco meses e vão cuidar de fundos exclusivos entre R$ 60 milhões a R$ 70 milhões cada um. “O segmento de retorno absoluto vem performando muito bem nos últimos anos, sempre acima do Ibovespa. Agora contratamos mais dois gestores e pretendemos selecionar outros dois provavelmente para o ano que vem”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp. A maior parte da carteira de ações, cerca de 84%, continua sob gestão da equipe interna, mas a parte terceirizada aumenta de 11% para 16%.

Com patrimônio total da ordem de R$ 21 bilhões, o maior fundo de pensão patrocinado por empresas privadas do Brasil possui uma carteira de renda variável de R$ 2,52 bilhões – 12,5% do total já descontando a participação no controle de empresas. Desde a crise de 2008, a Fundação Cesp não tem aumentado sua renda variável, e nem pretende aumentar agora, porém o perfil da carteira foi passando por uma completa mudança. “Antes da crise, nossa renda variável era bastante concentrada em fundos de IBrX. Nos últimos anos promovemos a diversificação com várias estratégias e agora estamos priorizando o segmento de retorno absoluto”, diz Jorge Simino, diretor de investimentos da Fundação Cesp.

O segmento contava apenas com um gestor desde 2006, a Rio Bravo – com um fundo exclusivo de R$ 75 milhões – e uma carteira interna de R$ 250 milhões. Devido ao bom desempenho alcançado desde a crise de 2008, foi decidida a ampliação da estratégia a partir deste ano. A ideia é que o segmento continue crescendo ao longo de 2013, até alcançar o mesmo tamanho da carteira atual de IbrX ativo e de dividendos (ver tabela). Os mandatos são flexíveis e dão autonomia para gestão ativa de valor, sem benchmark.

Além da boa performance do segmento, o aumento da estratégia tem a ver com o processo de diversificação da carteira. Antes da crise de 2008, a fundação tinha promovido a redução da exposição em bolsa. Em dezembro de 2007, houve uma venda de ações da ordem de R$ 1 bilhão – de um total de R$ 4 bilhões, que representavam cerca de 25% do patrimônio. No primeiro semestre de 2008, houve a redução de mais R$ 250 milhões. Depois do auge da crise, foi criada uma carteira interna indexada ao Ibovespa. Também a carteira de dividendos foi crescendo ao longo dos últimos três anos até alcançar mais de R$ 800 milhões atualmente, dos quais cerca de R$ 700 milhões contam com gestão da equipe própria da fundação, e outros R$ 100 milhões estão terceirizados.

Por outro lado, o segmento atrelado ao IBrX teve a participação reduzida gradualmente. Até final de 2007, a carteira que seguia o índice representava mais de 60% da renda variável da fundação. Atualmente, representa menos de 30%. A redução da carteira foi realizada, além da realocação para outros segmentos, através da dispensa de uma das assets terceirizadas, a Schroders, que saiu no final de 2010. O gestor não vinha performando bem desde a crise de 2008 e não estava bem posicionado no ranqueamento realizado pela equipe da fundação – estava na última colocação. Os recursos que estavam com a asset foram remanejados para o segmento de dividendos.

Seleção – Os novos gestores da carteira de renda variável tiveram que enfrentar um processo de seleção e avaliação, que durou cerca de 5 meses. Em um primeiro momento, a equipe interna da Fundação Cesp analisou dados disponíveis do mercado para selecionar nove gestores. Nesta etapa foram analisados critérios quantitativos das assets e fundos, além da relação risco e retorno em um período mínimo de 36 meses.

Em um segundo momento, o fundo de pensão promoveu processo de due dilligence e visitou os gestores para verificar condições de estrutura operacional, custódia e outros, além de recolher mais informações sobre a gestão dos produtos das assets. Na etapa final, foram escolhidos cinco gestores que fizeram apresentações presenciais. “A fase final do processo consistiu na atribuição de notas aos gestores, considerando todas as fases de avaliação. O último critério foi o preço”, explica o diretor de investimentos. A taxa de administração teve peso de 20% na nota final, mas entrou apenas para os finalistas do processo.

O diretor comenta que cada uma das assets apresentou estilos diferentes de ativismo na gestão dos papéis das empresas. “Demos preferência para um estilo mais soft de gestão ativista, ou seja, um ativismo mais construtivo”, diz. Se a bolsa mantiver a alta volatilidade em virtude dos efeitos da crise mundial, o segmento de retorno absoluto poderá ficar tão grande quanto o de dividendos.

O segmento de dividendos, que representa cerca de 30% da carteira de renda variável, é a que mais tem crescido desde o ano passado. Atualmente, a maior parte da gestão de dividendos é realizada internamente, porém, a política de investimentos para 2013 pode contemplar a contratação de mais um gestor externo. “A estratégia de dividendos faz muito sentido para as necessidades atuariais”, diz o diretor.

Por outro lado, a estratégia de dividendos não performa tão bem em períodos que a bolsa tem altas mais consistentes. “Se a bolsa voltar a andar, podemos reforçar rapidamente nossa estratégia de Ibovespa”, diz Jorge Simino. Porém, ele prevê que as dificuldades com a renda variável devem continuar por um longo prazo ainda e, por isso, a preferência pelos fundos de valor ou então, pelas carteiras de dividendos.