Edição 240
As carteiras de ações líquidas da Funcef estão passando por uma completa reformulação. As estratégias indexadas ao Ibovespa e IBrX estão migrando para mandatos de valor, dividendos e sustentabilidade.
O volume de recursos a ser movimentado até o final do terceiro trimestre de 2012 é de R$ 1 bilhão. “Estamos reduzindo nossa estratégia relacionada com os índices tradicionais de bolsa com o objetivo de diminuir a correlação com commodities. As novas carteiras com mandatos de valor e dividendos estão mais alinhados com nossos estudos de ALM e cenários futuros”, explica Maurício Marcellini, diretor de investimentos da Funcef.
A carteira de sustentabilidade receberá R$ 300 milhões em recursos e contará exclusivamente com gestão externa. Os gestores serão o Santander, BB DTVM (Banco do Brasil) e Caixa Econômica. Já a estratégia de valor contará com R$ 400 milhões que serão divididos entre 4 gestores e mais uma carteira interna. Nesta estratégia, as assets já foram selecionadas, mas a Funcef ainda não está divulgando os nomes porque ainda depende de aprovação de documentação e da escolha dos administradores. Já os novos mandatos de dividendos somarão R$ 300 milhões e também prevêem a contratação de gestores externos e a criação de uma carteira interna. Neste caso, o processo de seleção ainda não foi finalizado.
A fundação possui atualmente patrimônio que gira em torno de R$ 50 bilhões, dos quais cerca de R$ 17,5 bilhões estão alocados no segmento de renda variável. Esta carteira está composta de 65% de participações societárias e 35% em ações líquidas de bolsa. Esta parte de ações corresponde a cerca de R$ 6 bilhões. Quase a metade dos recursos correspondentes às ações líquidas contam com gestão passiva realizada pela equipe interna da Funcef. O restante está terceirizado com gestores externos que possuem mandatos de gestão ativa. “É uma questão de mudança de índices. Queremos desconcentrar a parte indexada do Ibovespa e IbrX para dar lugar a índices como o de dividendos ou de sustentabilidade”, diz o diretor de investimentos.
Além disso, o dirigente explica que as novas estratégias têm a finalidade também de reduzir a exposição em Vale, que a Funcef já possui alta concentração na companhia através de participação societária via Litel e Valepar. Como as estratégias baseadas no Ibovespa possuem alta correlação com Vale, o problema da concentração é amenizado com a redução desta carteira.
A maior parte da carteira de renda variável líquida, cerca de 70%, vinha seguindo o Ibovespa e o IbrX. O restante, apenas 30%, estava relacionado com outras estratégias. Uma delas é uma estratégia de small caps, que foi aberta a partir de 2009, inicialmente com R$ 200 milhões. A carteira foi crescendo e atualmente concentra cerca de R$ 500 milhões do patrimônio do fundo de pensão – cerca de R$ 400 milhões está terceirizada e R$ 100 milhões encontra-se sob gestão interna da equipe da Funcef. “Percebemos que os mandatos de ações com baixa liquidez estão com desempenho bastante superior se comparados com as carteiras indexadas ao Ibovespa”, explica Marcellini.
Enquanto a carteira própria de small caps rendeu 9% no primeiro semestre de 2012, o Ibovespa ficou com 2% negativos no mesmo período. Já a média dos quatro gestores externos (Rio Bravo, Orbe, Fama e Tarpon) que realizam a gestão com mandatos de valor, alcançaram rentabilidade de 5%, também bastante acima do Ibovespa.
Liquidez intermediária – Motivada pelo bom desempenho da carteira de small caps, a Funcef decidiu abrir uma estratégia similar. “São ações consideradas small caps mas com uma liquidez intermediária”, diz o diretor de investimentos. A carteira atual de small caps é composta por papéis de baixa liquidez. A nova carteira será formada por ações com liquidez de 10 a 15 dias, considerada de nível médio. O processo de seleção de gestores externos foi finalizado em meados de agosto. A nova carteira denominada de liquidez intermediária será dividida entre 3 ou 4 gestores e mais uma parte que ficará sob gestão da equipe interna da fundação.
Em geral, os mandatos vão buscar papéis de empresas com boas perspectivas de valorização. São ações que possuem uma diferença expressiva entre o valor descontado e o justo. Por isso, oferecem boas perspectivas de rentabilidade no médio e longo prazos. Os resultados dos gestores serão avaliados a cada três anos e de acordo ao desempenho, poderão ser trocados ou mantidos.
Na carteira atual de small caps, os gestores que trabalham com a Funcef são todas independentes, ou seja, não estão ligados aos grandes bancos do mercado. “As assets mais especializadas são mais focadas na renda variável ativa e tendem a conseguir melhor desempenho”, diz o diretor do fundo de pensão.
Situação diferente terá a nova carteira de ações de sustentabilidade, que contará com gestão de assets pertencentes a instituições financeiras de grande porte. “O processo de seleção indicou que poucos gestores atendem aos princípios de governança e sustentabilidade”, afirma Marcelini. Segundo o executivo, apenas uma gestor, o Santander, conseguiu atender todos os requisitos utilizados no processo seletivo da nova carteira.
A abertura da nova carteira foi incentivada com a adesão da Funcef aos indicadores do PRI – Principles for Responsible Investments. Os mandatos de sustentabilidade contarão com um benchmark híbrido composto pela maior parte do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial), mas também aberto para empresas que seguem princípios de governança corporativa.
Diferente dos mandatos de liquidez (small caps) e dividendos, o segmento de sustentabilidade não contará inicialmente com uma parte da gestão interna. Isso deve ocorrer quando a Funcef concluir a elaboração de uma metodologia própria para avaliação de ações nesta categoria. Quando isso acontecer, também será possível manter a orientação de mesclar as gestões externas e interna seguida pelo fundo de pensão nas demais carteiras de renda variável. “Buscamos um equilíbrio entre a gestão interna e terceirizada de forma a gerar o alfa esperado nas carteiras de renda variável. Além disso, buscamos a troca de conhecimento e desenvolvimento das equipes internas com a gestão de terceiros”, diz Marcellini.
Os recursos das novas carteiras serão provenientes dos mandatos atuais de renda variável indexados ao Ibovespa e IbrX. Eram 7 os gestores que vinham realizando a gestão ativa dessa carteira. Dois deles, o Santander e a Caixa estão migrando para a estratégia de sustentabilidade. Nessa nova carteira, houve a seleção de um gestor novo, a BB DTVM, que ainda não trabalhava com a Funcef na renda variável. Os outros cinco gestores de renda variável, por enquanto, não serão dispensados. Outra parte dos recursos serão migrados da carteira interna do fundo de pensão, que vinha seguindo uma gestão passiva com os indexadores tradicionais de bolsa.