Edição 108
A despeito das recentes decisões governamentais que podem levar a um desestímulo à expansão do setor previdenciário no País, empresas de consultoria atuarial ligadas a grandes grupos multinacionais ampliam sua presença em solo brasileiro e apertam o cerco contra as pequenas consultorias independentes.O mais recente movimento nesse sentido foi a fusão entre a norte-americana Watson Wyatt & Co. Holdings e a brasileira Atual.
Com atividades em 29 países e presente no Brasil desde 1997, a Watson Wyatt é resultado da fusão das consultorias Wyatt norte-americana (fundada em 1946), voltada para projetos, auditorias atuariais, estruturação de fundos de pensão e de entidades de previdência privada, e a inglesa Watson, (1878), especializada em consultoria estratégica em RH, aquisições e fusões e tecnologia da informação.
Segundo Francisco Ramirez, diretor geral da Watson Wyatt, a fusão com a Atual permitirá expandir a base de clientes no Brasil e agregar novos clientes à rede mundial da companhia. A estabilização da economia também realimentou o interesse. “A estabilidade faz com que as pessoas comecem a pensar no longo prazo. O Brasil ainda tem muito a fazer na área de previdência privada”.
Para o atuário diretor da área atuarial, Newton Cezar Conde, a parceria tem como causa a infinidade de oportunidades que se desenham para o sistema de previdência complementar no País. “Temos pessoal qualificado e a Watson Wyatt tem muito a oferecer em tecnologia de sistemas e em capacidade de investimentos. É um casamento perfeito”, resume.
Ele admite que o sistema vive um período atípico em função dos imbróglios jurídicos em discussão no Congresso. “Mas isso não anula o potencial de crescimento que têm os fundos, tanto abertos quanto fechados”, aposta Conde, para quem as grandes empresas brasileiras ou multinacionais aqui instaladas não irão abrir mão dos seus fundos de pensão por causa dessas pendengas.
“Além disso, há milhares de empresas de médio e pequeno portes que ainda não se preocupam com a questão previdenciária. Diante do cenário atual, o empregado quer mais é se manter no emprego, não está em condição de reivindicar benefícios, mas essa fase vai passar e esses benefícios passarão a ser importantes para a manutenção e conquista do trabalhador.”
Conde acredita na proliferação dos fundos multipatrocinados, ainda não devidamente explorados, mas cuja adesão já é sinalizada por bancos e entidades como Sistel e Petros, para ficar apenas nas grandes fundações. Não bastasse, o segmento de previdência complementar demanda novos serviços na área de saúde, na qual a Watson Wyatt também atua, e com a aprovação da PLC 9 também os municípios poderão ter sua previdência complementar, abrindo ainda mais o campo para a consultoria.
Tecnologia – Com a fusão, os clientes passam a contar com modernos recursos tecnológicos e pesquisas atuariais disponíveis nos escritórios da Watson Wyatt. Mesmo com legislações específicas, há várias coisas em comum que podem ser úteis ao perfil brasileiro, como estudos comparativos sobre envelhecimento das populações em vários países do mundo e suas conseqüências, custos de desenvolver planos de pensão etc, explica Ramirez.
Antes mesmo de oficializada a união, as duas empresas já vinham atuando em parceria em alguns projetos. Caso do FAS (Financial Accounting Standards), demonstrativo de avaliação obrigatória nos EUA às patrocinadoras de fundos. “Mesmo as brasileiras que vão atuar no exterior, ou as multinacionais aqui instaladas, precisam desse demonstrativo, e a Watson Wyatt detém esse know how”, diz Conde, lembrando que o equivalente brasileiro ao FAS é a deliberação 371 da CVM. Essa instrução, que passa a vigorar a partir do ano que vem, refere-se à obrigação das empresas de capital aberto informarem em demonstrativos seus compromissos com planos de saúde, previdência privada, programas incentivados de desligamentos, convênios.
Mesmo com a fusão, a meta de expansão da empresa mantém-se conservadora: 20% ao ano. “Nossa preocupação é expandir a base com segurança e cuidado. Das três grandes, somos a menor. Não temos planos de ser a maior, mas quem sabe um dia chegamos lá”, diz Ramirez. Ele discorda de que possa estar havendo um estreitamento do mercado às pequenas consultorias independentes. “Uma consultoria só poderá auditar aquelas entidades para as quais não presta serviços de atuária, conforme consta da Lei da Auditoria Atuarial 865. Com isso, o cliente não fica preso a uma única empresa, diferentemente do que acontece na área de auditoria contábil”, acredita.