Sem risco, não há petisco | Diante das perspectivas de queda do j...

Edição 153

A participação em fundos de direitos creditórios e investimentos em pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) são as novidades que as fundações devem implementar em suas carteiras para turbinar os ganhos em 2005. De acordo com consultores e gestores dessas entidades, a tendência geral é assumir um pouco mais de risco no próximo ano para conseguir alcançar as metas atuariais, apesar da alta dos juros neste ano. “O Banco Central subiu os juros por uma situação conjuntural, mas a tendência de queda deve se manter e a bolsa deve subir”, analisa o diretor financeiro e de investimentos da Petros, Ricardo Malavazi.
O fundo de pensão dos funcionários da Petrobras é um dos que deve investir em fundos de direitos creditórios no ano que vem. Ele também estrutura, em parceria com outras quatro entidades e com o BNDESPar, um fundo de participação em infra-estrutura, o Brasil Energia, que será lançado no início do ano e cujo patrimônio deve chegar a R$ 740 milhões. O fundo vai investir em programas de energia alternativa como a eólica e as PCHs, entre outros. “A Eletrobrás garante um contrato de 20 anos para esse tipo de projeto”, informa Malavazi.
A Petros já vinha gradativamente reduzindo a sua carteira de renda fixa para ampliar sua participação em renda variável e continuará seguindo essa política de investimentos em 2005. Atualmente, a entidade tem 20% em renda variável e deve chegar a 30% ao longo dos próximos cinco anos. Já a carteira de renda fixa representa 69% do patrimônio da fundação e será reduzida por meio da venda de títulos públicos de curto prazo, que serão substituídos por títulos privados mais agressivos, como debêntures. Os títulos públicos de longo prazo e os papéis indexados ao Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) serão mantidos. “Já temos uma boa posição em IGP-M, não queremos aumentar”, acrescenta.
Na mesma linha da Petros, a fundação São Rafael, da Xerox, também aposta em uma inflação mais baixa em 2005. Segundo o seu diretor-superintendente, Peter Rasch, a entidade vinha reduzindo sua posição em IGP-M desde 2003. “Tínhamos a carteira carregada desses títulos em 2002, e a reduzimos no ano passado e neste ano. Nos arrependemos, porque em 2004 o IGP-M está surpreendendo, mas em 2005 a inflação deve ficar calma”, explica.
A São Rafael, que tem toda a sua gestão terceirizada, também vai comprar cotas de fundos de direitos creditórios no ano que vem. “Teremos um limite geral para a carteira total da fundação e um limite para cada Fundo de Investimento Financeiro (FIF) exclusivo comprar essas cotas. No momento, estamos definindo esses limites”, acrescenta o superintendente. Ele explica que a agressividade da fundação ficará por conta do aumento do Value at Risk (VaR) – valor em risco – da carteira de renda fixa, que vai praticamente dobrar. A renda variável será mantida nos patamares atuais, de 14% do patrimônio da entidade.

Alongamento de prazos – Boa parte das entidades ainda deve tentar alongar os prazos de sua carteira de renda fixa indexada a índices de preços. Uma delas é a Faelce, dos funcionários da Companhia de Eletricidade do Ceará (Coelce). O fundo de pensão baseia sua política de investimentos em estudos de Asset Liability Management (ALM), que segregam o patrimônio em duas partes: a de benefícios a conceder e a de benefícios concedidos. Para essa última, existe espaço para alongar a carteira indexada a esses índices.
“Deveremos alongar um pouco mais nossa posição de investimentos vinculados a índices de preços da carteira de benefícios concedidos. Porém não tão longo, visto que mesmo o estudo de ALM não pode mostrar com 100% de certeza que, em alguns anos, a fundação não terá uma mudança representativa em seu passivo atuarial ou nos cenários econômicos projetados”, diz o operador de investimentos Átila Einstein de Oliveira.
Quanto aos investimentos de renda fixa vinculados a benefícios a conceder, a Faelce continuará com uma parcela representativa de papéis indexados ao Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), porque projeta uma taxa de juros reais ainda elevada para o próximo ano. Na renda variável, a fundação vai alterar o perfil de gestão do fundo de renda variável de IBrX-50 para um perfil de retorno absoluto, sem indexação, tomando como parâmetro apenas a meta atuarial. “As projeções indicam para o médio prazo ainda taxas reais de juros acima de 7%, logo não vemos a necessidade de correr riscos para obter taxas maiores”, afirma.
Os fundos de pensão monitorados pela Mercer Investment Consulting são exemplos de entidades que devem alongar o prazo de sua renda fixa indexada à inflação. “Existe uma tendência de aumento dos investimentos nos papéis indexados”, diz o consultor da Mercer, Lauro Araújo.
Ele conta que, hoje, a presença média desses títulos nas carteiras é de 20% indexados a IGP-M, mas essa participação deve subir porque os fundos ficaram assustados com a alta repentina dos juros e da inflação em 2004. Por esse motivo, devem aproveitar as oportunidades na renda fixa de longo prazo enquanto ainda existem. “Não se esperava inflação tão alta e a subida dos juros. Tem muita gente que perdeu no pré-fixado, que está perdendo feio para o CDI”, conta.
Na renda variável, Araújo acredita que as fundações devem manter o nível atual, apesar da perspectiva de valorização de cerca de 30% da bolsa, queda na taxa Selic para até cerca de 14,5% e inflação baixa. Já os investimentos alternativos, como os fundos de direitos creditórios, geram curiosidade, mas devem ficar um pouco mais para frente.
O apetite das fundações por título de mais longo prazo e indexados à inflação também é verificado pelo sócio-consultor da PPS, Everaldo França. Ele ressalta que mesmo com a elevação deste final de ano, os juros atuais são os menores em dez anos e que o desconto das taxas administrativas reduz ainda mais os ganhos das entidades, dificultando a obtenção das metas atuariais. “Hoje os juros dão IGP-M mais 8%, por isso felizes são aqueles que encheram as carteiras de papéis de longo prazo com IGP-M mais 12%”, acrescenta.

Fundos multimercados – Na renda fixa, França prevê que as fundações devam optar pelos fundos multimercados para turbinar os seus ganhos, mas adverte que os riscos precisam ser bem mensurados. “Os fundos de pensão devem se perguntar se têm apetite para o risco. E se o gestor erra? Muitos estavam investindo no Banco Santos e deu no que deu. Não sou contra bancos menores, mas tem que saber os riscos”, diz.
De fato, já há quem utilize essa modalidade de aplicação, mas existem controvérsias. A São Rafael é uma delas. A entidade começou a investir em fundos multimercados esse ano e tem hoje 15% do patrimônio investidos neles, com três gestores. Mas 2004 não foi um ano fácil para esses fundos, na comparação com os anos anteriores. Até agosto deste ano, estes fundos estavam perdendo recursos e muitos ficaram bem abaixo do CDI, com o agravante de que suas taxas de administração são altas.
“Estamos avaliando a performance e devemos trocar alguns dos gestores que não deram bons resultados. Apesar da volatilidade desses fundos esse ano e de algumas resistências internas pretendemos manter a experiência de investir nos multimercados”, informa Rasch, da São Rafael.
Para Lauro Araújo, da Mercer, a aplicação em fundos multimercados é dispensável. “Não acho que vale a pena investir em fundos desse tipo administrados por gestores externos. A própria fundação já faz isso ao alocar recursos em renda fixa e variável”, opina.

Resolução 13 – Outra novidade em relação à política de investimentos dos fundos de pensão em 2005 será a obrigatoriedade de pareceres semestrais dados pelo conselho fiscal, estabelecida pela resolução nº 13 do Conselho de Gestão de Previdência Complementar (CGPC) no início de outubro. A nova regra estabelece que as entidades fechadas de previdência complementar devem adotar regras de governança corporativa, gestão e controles internos visando a maior transparência na divulgação de informações e a redução dos riscos. As entidades terão até o dia 31 de março de 2005 para elaborar o plano e o cronograma de adequação à nova resolução e até dezembro para implementá-lo.
A mudança visa dar mais seriedade ao acompanhamento de patrocinadoras e participantes do andamento dos investimentos das fundações. Contudo, essas entidades dizem que, na prática, já vêm implementando a transparência nas informações, com periodicidade até mesmo menor que a exigida na norma.
A Faelce, por exemplo, realizou o treinamento de seus conselheiros esse ano. “Sempre procuramos deixar transparentes os nossos investimentos aos participantes e conselheiros, que a cada final de mês recebem um relatório financeiro e uma conjuntura do mês com todas as atividades praticadas pela diretoria financeira”, conta Oliveira, da fundação. Na Petros, a cada três meses são feitas apresentações abertas para as patrocinadoras e participantes dos resultados dos investimentos, de acordo com Ricardo Malavazi.

Infra-estrutura será pauta obrigatória para fundações
Os investimentos em infra-estrutura devem se tornar pauta obrigatória para os fundos de pensão nos próximos anos. Essa é uma das conclusões do estudo realizado pela consultoria Trevisan sobre investimentos alternativos para essas entidades. O levantamento foi encomendado pela Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Privada (Abrapp) e se baseia nas dez maiores fundações do país.
De acordo com o economista chefe da Trevisan, Luiz Guilherme Piva, o investimento em infra-estrutura deve se dar basicamente por meio do projeto de Parcerias Público-Privadas (PPPs), recém aprovado pela Câmara de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. “A tendência de queda nas taxas de juros e o amadurecimentos dos fundos de pensão vão levá-los a atuar no mercado de PPPs não só por vontade, mas por necessidade”, avalia.
Hoje, os dez maiores fundos estão sobrecarregados de renda fixa – 60% em média, com exceção da Previ, que tem sua carteira carregada de renda variável. Mesmo assim, o estudo aponta que essas entidades já dispõem de recursos para investir em infra-estrutura por meio das PPPs. Ele cita como exemplo Previ, Petros e Funcef que, em conjunto, têm de R$ 6 bilhões a R$ 10 bilhões disponíveis para realizar aportes nessa linha. “Ainda faltam acontecer a redução nos juros e avanços na legislação no Congresso e no ambiente regulatório para que essas iniciativas deslanchem. O setor de saneamento básico, por exemplo, está bem atrasado no que se refere a essas questões”, acrescenta.
Apesar disso, Piva cita que já existem iniciativas de investimento em infra-estrutura, como os fundos de PCHs que estão sendo criados pela Petros e por outras entidades. A Trevisan está trabalhando para viabilizar outros tipos de fundos de infra-estrutura.
O levantamento da Trevisan visa dar subsídios aos fundos na hora de analisar as possibilidades de investimentos alternativos. Os pontos principais são: cenários, perspectivas e análise setorial de projetos que o governo considera prioritários, como energia, transporte e irrigação; PPP – contratos, regulação, mecanismos e experiência internacional (Inglaterra, Portugal, Irlanda, México, Chile, África do Sul); e mecanismos de participação dos fundos no mercado de capitais.