Sem garantia de renda mínima, PGBL deslancha | Empresas de previd...

Edição 71

As empresas de previdência aberta já elegeram o PGBL como seu carro chefe neste ano. As que ainda não têm o produto preparam-se para colocá-lo em suas prateleiras em breve, e as que já o possuem estão se preparando para ampliar a família. Elas estão agindo de acordo com as tendências já notadas no ano passado, de uma grande aceitação do público por essa modalidade de produto.
Os planos do tipo PGBL iniciaram o ano passado com reservas de R$ 22,3 milhões, chegando em dezembro com aproximadamente R$ 500 milhões, o que representa um crescimento de mais de 2.000% no período. Nada mal, considerando que nenhum tipo de fundo de investimento teve performance sequer parecida em 99: os Fundos de Investimento Financeiro (FIFs) passaram de R$ 134,8 bilhões para R$ 198,6 bilhões, enquanto os fundos de ações e carteira livre evoluíram de R$ 13,4 bilhões para R$ 20,7 bilhões, um crescimento de 47,3% e de 54,9%, respectivamente.
Claro que a comparação percentual é injusta com os FIFs e com os fundos de renda variável, que partiram de bases bem mais elevadas. Para eles, agregar cada ponto percentual às bases consolidadas é uma tarefa superlativa, bem mais difícil que a enfrentada pelos PGBLs, cuja base era baixa. Porém, servem como comprovação da simpatia do mercado em relação ao novo produto. “Este é o ano do PGBL porque o produto vai ao encontro ao que o cliente deseja: um produto rentável e com menores taxas de carregamento”, diz o diretor de produtos de varejo da Unibanco AIG, Vitor Chiavelli.
A seguradora lançou em dezembro do ano passado dois novos PGBLs voltados para clientes com maior poder aquisitivo – um de renda fixa e outro com 30% de renda variável. Outros produtos, voltados para consumidores de menor poder aquisitivo, devem sair do forno entre fevereiro e março, adaptados dos modelos de planos tradicionais como o Prever Kids, o Prever Salários, o Prever Profissional Liberal e o Prever sob Medida. No caso deste último, haverá uma versão com 100% de renda fixa e outra com 30% de renda variável.
Segundo Chiavelli, a prioridade em termos da campanha de comunicação será para os novos PGBLs. Além disso, assim que eles estiverem no mercado devem começar a receber migrações dos planos tradicionais. “Vamos incentivar os participantes a mudar”, diz Chiavelli. “A primeira comunicação será direcionada aos clientes gold, por meio de um contato telefônico e, posteriormente, faremos uma mala direta para o varejo.”
A Itaúprev é outra que está ampliando a família de produtos PGBL neste início do ano. Ela está criando um plano com 49% de renda variável – o limite permitido pela legislação, para se juntar ao PGBL de renda fixa lançado em meados de 99. “Com estes dois produtos, o cliente poderá fazer o mix que desejar”, afirma o superintendente comercial de planos da Itaúprev, João Carlos Rossi. Durante este ano, a empresa deve lançar outros PGBLs voltados para nichos específicos, dependendo da evolução do cenário macroeconômico.

Indexação – De forma inversa, os planos tradicionais que reinaram soberanos por um longo período começam a perder espaço. Alguns bancos chegaram mesmo a retirá-los de comercialização, enquanto outros preferiram simplesmente relegá-los a um segundo plano no ano passado. Além da boa aceitação do PGBL, os planos tradicionais também tiveram contra eles no ano passado a subida do IGP-M, que indexa a rentabilidade dos participantes.
Concentradas em renda fixa, muitas carteiras de planos tradicionais abertos tiveram dificuldades em superar o IGP-M mais 6%, soma que representou algo ao redor de 27% no ano passado. A carteira da Real Previdência e Seguros, por exemplo, rendeu ao redor de 22%, ficando abaixo da garantia de rentabilidade mínima. Na AGF Seguros, a rentabilidade da carteira de planos tradicionais não gerou excedentes financeiros em 99. “Não tivemos ganhos extras nem para o participante nem para a companhia”, diz o diretor de previdência da empresa, Geraldo Magela. “Fechamos a carteira praticamente empatados com a rentabilidade garantida aos participantes.”
A carteira de planos tradicionais da CCF Seguros fechou o ano com rentabilidade de 27,16% e também ficou muito próxima do IGP-M mais 6%. “O IGP-M subiu muito no segundo semestre e a alta da Bolsa chegou muito no final do ano”, explica o sub-diretor da CCF Seguros, Maurício Ferreira.
Poucas carteiras de planos tradicionais conseguiram bater o IGP-M mais 6%, gerando excedentes financeiros. A da Bradesco Previdência foi uma delas, engordando 38,91% no ano e garantindo aos participantes uma retorno de 34,4%. A empresa vem aplicando ao redor de 15% desta carteira em renda variável. “Sempre tivemos posicionamento de médio e longo prazo”, explica o presidente da Bradesco Previdência, Antônio Lopes Cristóvão.
A alta do IGP-M no ano passado evidenciou o risco das carteiras com rentabilidade garantida, levando as empresas a buscarem os caminhos do PGBL, que não garante rentabilidade. “Nos Estados Unidos, apenas 3% dos produtos possuem algum tipo de garantia”, diz o diretor de previdência da AGF Seguros, Geraldo Magela.
A estratégia que vem sendo adotada pelas empresas, por enquanto, é de ressaltar as qualidades do PGBL. “Não temos feito campanhas maciças pela migração, mas sim mostrado as comparações de rentabilidade”, diz o sub-diretor da CCF Seguros, Maurício Ferreira. “Os produtos de previdência que oferecem a garantia de rentabilidade têm uma sobrevida relativamente curta”, afirma Magela.
A evolução dos PGBLs poderá ser facilitada pelo cenário macroeconômico deste ano. Os analistas prevêem um recuo significativo do IGP-M, o que deve favorecer a migração voluntária de milhares de participantes de planos tradicionais para os novos PGBLs. Resta saber qual será o ritmo e a extensão desta migração. Na avaliação do sub-diretor de previdência da CCF Seguros, Maurício Ferreira, haverá por algum tempo a convivência dos dois tipos de produto no mercado. “O PGBL não vai matar os planos tradicionais, não pelo menos de uma só tacada”.
A Bradesco Previdência, com mais de 50% do mercado de previdência aberta, tomou uma atitude reveladora das tendências do mercado varejista no ano passado: recolheu seus produtos tradicionais das prateleiras no início de dezembro e concentrou o esforço de venda nos PGBLs. As reservas técnicas destes novos planos já ultrapassaram os R$ 230 milhões e aumentam diariamente entre R$ 1,5 milhão e R$ 2 milhões.
Porém, ainda restam mais de 200.000 clientes nos planos tradicionais da Bradesco Previdência, desfrutando da garantia mínima de rentabilidade. Segundo o presidente da Bradesco Previdência, Antônio Lopes Cristóvão, a alta do IGP-M em 1999 retardou o processo de migração para os PGBLs. “Ainda não fizemos um grande esforço para a migração, porque o cliente estava muito sensível à elevação do IGP-M”, afirma Cristóvão. “Mas se a previsão de IGP-M para este ano se confirmar, entre 6% e 7%, a migração vai ser natural.”