Seguradoras trocam planos abertos por PGBL | Muitas empresas plan...

Edição 70

O avanço do Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) está promovendo a mudança do perfil do mercado de previdência privada aberta no Brasil. O novo produto começa a tomar o espaço dos planos tradicionais de previdência com garantia mínima de rentabilidade. Algumas entidades abertas já estão retirando os planos tradicionais da prateleira para comercializar exclusivamente o PGBL. Além disso, esta nova modalidade de plano aberto está impulsionando o segmento corporate, atraindo a atenção de muitas empresas que têm projetos de oferecer benefícios complementares a seus funcionários.
Semelhante ao plano 401K norte-americano, o PGBL deve fechar o ano com um total de reservas próximo aos R$ 500 milhões, apresentando excelentes perspectivas de crescimento para 2000 (ler matéria na edição n° 69). O apelo do PGBL é tão grande que a maior entidade do mercado, a Bradesco Previdência, parou de comercializar os planos tradicionais com garantia mínima de rentabilidade neste mês de dezembro, substituindo-os pelo novo produto.
“Nossos clientes estarão bem atendidos com o PGBL que é um produto mais moderno e vantajoso que os planos tradicionais”, diz Antônio Lopes Cristovão, presidente da Bradesco Previdência. Ele explica que o PGBL está sendo oferecido para clientes com capacidade de arcar com contribuições mensais acima de R$ 150 ou aportes únicos de R$ 5 mil. O Fapi (Fundo de Aposentadoria Programada Individual) fica direcionado para os clientes de menor renda e os planos com garantia mínima saem das prateleiras das agências.
A Bradesco Previdência planeja ainda realizar uma migração opcional dos participantes de planos tradicionais para os novos PGBLs. A migração deveria ter sido aberta ainda neste final de ano, mas com a alta do IGP-M, que é o índice utilizado como garantia, a Bradesco decidiu adiar por alguns meses a transferência entre os planos antigos e os novos. Como os planos antigos garantem IGP-M mais 6% ao ano, além de uma parte do excedente de rentabilidade da entidade, a alta do índice de inflação não incentivaria a mudança para o PGBL nesta época.
A entidade aberta do Bradesco deve terminar o ano com reservas de aproximadamente R$ 6,5 bilhões, o que representa mais de metade do volume de recursos de todo o mercado de previdência privada, que projeta um fechamento em torno de R$ 12 bilhões. Em termos de receita, a Bradesco deve crescer cerca de 60%, atingindo a marca de R$ 1,65 bilhão em 99 contra R$ 1,03 bilhão do ano anterior. Todo o mercado havia acumulado receitas de R$ 2,8 bilhões até o final de outubro passado, segundo dados da Associação Nacional de Previdência Privada (Anapp).
Os PGBLs da Bradesco devem atingir reservas de aproximadamente R$ 250 milhões, o que representa menos de 4% de sua carteira total. “Nossa carteira é composta predominantemente por recursos de planos tradicionais mas este perfil pode mudar rapidamente com a abertura da migração dos planos antigos para os PGBLs”, revela Cristovão, que também é diretor da Anapp.
A atitude da Bradesco de colocar o PGBL na linha de frente dos produtos de previdência consolida uma tendência que vinha se desenhando desde o início de 99. A AGF, a CCF e o Icatu ganharam bastante espaço na comercialização do PGBL, sobretudo para o segmento corporate. Agora a Bradesco Previdência inaugura definitivamente o mercado de varejo para o PGBL e incentiva os concorrentes a seguirem na mesma linha. Nas últimas semanas, várias seguradoras, entidades abertas e até bancos e corretoras lançaram seus PGBLs no mercado. A Porto Seguro, a Safra Seguradora, o Sudameris e o Citibank são alguns exemplos de instituições que estão começando a comercializar o novo produto.

Crescimento – A Brasilprev também está se preparando para começar a comercializar os PGBLs no mercado. Depois de alcançar uma expressiva ascensão no ranking da previdência privada nos últimos dois anos, a entidade do Banco do Brasil prepara-se agora para completar o leque de produtos e de segmentos atendidos. “Estamos preparando o lançamento de novos PGBLs com o objetivo de atender a todos as demandas do mercado de previdência”, explica Fuad Nomam, presidente da Brasilprev e vice-presidente da Anapp.
A entidade do BB alcançou a segunda colocação no ranking das carteiras de investimentos da previdência aberta no último mês de setembro, quando ultrapassou a Unibanco AIG, priorizando basicamente a distribuição dos planos tradicionais de varejo e de produtos voltados para o público infantil e juvenil. Até o mês de outubro passado, a Brasilprev possuía uma carteira de investimentos de R$ 1,06 bilhão e havia arrecadado R$ 384 milhões desde o início do ano. O presidente da entidade projeta um crescimento de 40% tanto para as reservas como para as receitas no encerramento de 99.
Com o lançamento dos PGBLs, a Brasilprev pretende continuar avançando no segmento de varejo, mas o objetivo principal é realmente entrar de cabeça no nicho de previdência empresarial. “O mercado de planos corporate deve registrar grande expansão no ano que vem”, prevê Nomam. Para avançar neste segmento, a Brasilprev aposta na utilização da experiência de seu novo sócio, o grupo norte-americano Principal, que adquiriu cerca de 40% da empresa do BB. “A Principal é a maior empresa de previdência privada corporate dos EUA e sua entrada no país deve propiciar a alavancagem dos negócios da Brasilprev”, diz o presidente da entidade do BB.
Se por um lado a Brasilprev está se estruturando para entrar no segmento empresarial, a Unibanco AIG adota o caminho oposto. A entidade aberta do Unibanco, que também é associada a um grupo norte-americano, o AIG, está lançando novos PGBLs voltados para clientes pessoas física. A partir do início de 2000, a Unibanco começa a oferecer PGBLs para o varejo através da rede de agências do banco. Esta atitude possibilita a diversificação do foco de atuação da entidade, que historicamente concentrou-se no segmento empresarial.
Os cenários projetados para o início de 2000 são muito mais alentadores em contraposição com a instabilidade econômica ocorrida no começo de 99. A crise cambial prejudicou a situação financeira das empresas brasileiras, o que refletiu na disposição de constituição de novos planos de previdência para seus empregados. “O mercado de previdência corporate deve começar muito mais aquecido no ano que vem em comparação ao que se verificou no primeiro trimestre de 99, quando houve uma retração provocada pela crise cambial”, explica Miguel Leôncio Pereira, diretor de planos corporate da Unibanco AIG.
Apesar das dificuldades enfrentadas no início do ano com a instabilidade econômica do país, a Icatu Hartford, que também tem a atuação focada no ramo de planos empresariais, termina 99 com uma significativa evolução das reservas. “Os PGBLs empresariais foram o carro-chefe de nosso crescimento”, revela Flávio Ramos, diretor de previdência da Icatu Hartford. A seguradora deve fechar 99 com um volume de reservas em torno de R$ 400 milhões e uma receita próxima aos R$ 200 milhões.