Santander define estratégia de mercado | Asset do banco espanhol ...

Edição 77

Amaior dificuldade dos profissionais da área de asset do Santander, nos primeiros meses de operação no Brasil, era explicar a muitos investidores que se tratava de um banco espanhol com forte penetração nos mercados europeu e latinoamericano e não de um novo banco nascido na região do ABC paulista. “Não, não é Santandré, é Santander”, eles tiveram que repetir inúmeras vezes aos investidores.
Hoje, esse problema não existe mais. Cerca de três anos após ter comprado o Banco Geral do Comércio e o Noroeste, e acoplado neles a sua placa, tanto o nome como o apetite do Santander por novas fatias de mercado passaram a ser amplamente conhecidos. Recentemente, o banco incorporou o Meridional/Bozano, Simonsen do empresário Júlio Bozano, e se prepara para o leilão que promete ser disputadíssimo pelo controle do Banespa. “Também podemos nos interessar por outras instituições, além do Banespa”, declara o diretor da Santander Brasil Asset Management, Danny Rappaport.
Ele está assumindo a direção da empresa, o braço de administração de recursos do Santander. Para aproveitar a estrutura e os relacionamentos do Bozano, Simonsen na área de gestão de recursos a Santander Asset irá funcionar no Rio de Janeiro. Além disso, a separação também será usada como arma de marketing para destacar a “chinese wall” entre o banco e a asset. “Para a matriz, a separação das atividades bancária e de gestão de recursos é fundamental”, declara o diretor da área.
Rappaport, um paulista de 30 anos que deve seu sobrenome à sua ascendência polonesa, tem uma visão ampla dos interesses da casa espanhola no Brasil. Antes de assumir a área de asset da instituição, ele foi por três anos o seu economista-chefe, refletindo sobre os problemas macros do país e em como esses problemas acabavam afetando o valor dos diversos tipos de ativos. “Sou um economista com uma visão muito prática, muito voltada para o mercado. Quando saia a taxa de desemprego, imediatamente eu buscava analisar como isso iria se refletir nas taxas de juros”, diz.
Esse acompanhamento do ambiente econômico é fundamental para qualquer casa. Porém, no caso do Santander, ele era vital. Com um perfil muito voltado para a renda fixa, o Santander tinha que ter uma análise bastante apurada dos cenários econômicos para poder apontar os riscos e as oportunidades de ganhos aos clientes. Dos acertos dessa análise dependiam a evolução das suas captações no varejo e entre os clientes institucionais, que cresceram de R$ 495 milhões em dezembro de 97 para R$ 3,52 bilhões em dezembro de 99, segundo pesquisa desta revista publicada nas edições do TOP ASSET.
Nos seus três anos de operação comercial no Brasil, o Santander enfatizou fortemente a área de renda fixa. Tanto que, dos R$ 3,52 bilhões em recursos administrados em dezembro do ano passado, nada menos de R$ 3,35 bilhões (95,1%) tinham mandato de renda fixa. Agora, com a absorção do Bozano, Simonsen, um banco com maior tradição na área de renda variável, essa relação deve mudar. Segundo a mesma pesquisa, o Bozano tinha na mesma data R$ 2,51 bilhões em recursos administrados, dos quais R$ 979 milhões com mandato de renda variável (38,9%).

Novo perfil – A soma dos ativos do Santander e do Bozano perfazia R$ 6,03 bilhões em dezembro do ano passado, dos quais 80,97% em renda fixa e 19,07% em renda variável. Essa relação, mais interessante que a do Santander visto isoladamente, deve continuar a evoluir na direção de um peso maior da renda variável. Afinal, a renda variável oferece taxas de administração mais atraentes para o gestor. “Vamos aproveitar a especialização e os relacionamentos que o Bozano tinha na área de renda variável para mudar o perfil da Santander Asset”, confirma Rappaport.
Embora haja a disposição de atuar mais fortemente na área de renda variável, a asset não pretende se transformar em uma boutique super-especializada nessa área. “Queremos manter a imagem de uma instituição ligada a um banco sólido, com produtos sofisticados voltados para todas as áreas de investimento mas não um foco super-especializado em renda variável”, diz Rappaport. “Essa é a forma como queremos posicionar a Santander Asset”.
Com pouco mais de R$ 6 bilhões em recursos administrados, a Santander Asset ocuparia o 13º lugar entre as empresas de asset no final do ano passado, deslocando o Opportunity para a 14º posição, no ranking de Investidor Institucional. Mas esse posicionamento ainda é modesto para as pretensões de Rappaport, que com uma enxuta equipe de 10 profissionais traçou a meta de chegar aos R$ 10 bilhões em recursos administrados até o final deste ano. É um salto de quase 70% no espaço de um ano. Como se dará esse salto?
As respostas ainda estão sendo trabalhadas. Para ganhar tempo, uma boa parte dessa elaboração é feita na própria ponte aérea São Paulo/Rio de Janeiro, que Rappaport tem utilizado freqüentemente enquanto não aluga um apartamento carioca. Basicamente, a estratégia é reforçar junto aos clientes institucionais a idéia de que a casa mantém uma “chinese wall” total, inclusive com endereço separado do banco, o que reduz a possibilidade de conflito de interesses. Além dos institucionais, capazes de aportar grandes somas à asset de uma só vez, o outro foco do Santander é o investidor mais qualificado do varejo e o corporate.
Hoje, o banco mantém uma rede de 800 pontos de venda, das quais 400 são agências bancárias, localizadas principalmente nos estados de São Paulo e Rio Grande do Sul. Elas vieram do Banco Geral do Comércio, do Noroeste e do Meridional, três instituições com perfil de público mais qualificado que a médias das instituições. Além disso, o Santander está de olho no Banespa, cuja compra poderá agregar outras 550 agências bancárias.
Outra estratégia que deverá ser explorada é a força do banco na América Latina, onde já é o maior do Chile e o segundo da Argentina, além de ter importantes posições na maioria dos países da região. Essa força, hoje ainda sub-utilizada por causa da impossibilidade dos investidores brasileiros aplicarem seus recursos em outros países, deve ser explorada inicialmente na venda de fundos de ativos brasileiros. O Santander pretende lançar fundos de Brasil para grandes investidores latino-americanos, num primeiro momento, e para investidores norte-americanos e europeus, numa etapa posterior. A aquisição do Bozano contribuiu com essa estratégia, através de um fundo off-shore de R$ 150 milhões que possuía e que agora será ampliado.
Para o Santander, um banco com ativos totais de US$ 90 bilhões, a abertura do mercado brasileiro de investimentos para aplicações internacionais é um passo que ainda falta ser dado. “Embora hoje os investidores brasileiros não tenham acesso a ativos de outros países, acredito que isso vai acontecer”, avalia Rappaport. “O mercado financeiro e de capitais é global, os investidores precisam ter a liberdade de buscar os melhores investimentos em qualquer país do globo”.

Sem oportunidades nas bolsas
As recentes volatilidades das bolsas nacionais e internacionais não são vistas por Danny Rappaport como oportunidades de ganhos, mas basicamente como riscos. “Ainda não está claro qual é o perfil dessas quedas, mas não acho que elas são oportunidades”, diz. Segundo ele, os fundos do Santander estão zerados, baixando a exposição dos clientes da casa.
Os fundos do Santander têm sua exposição a risco vigiada a todo momento pela área de controle de risco, que funciona de forma totalmente independente da
gestão de recursos. O controle de risco analisa o risco de crédito e o risco de mercado das posições, impedindo uma exposição excessiva e fora das políticas dos fundos. “Recebemos a todo momento as análises que dão a exposição de risco dos nossos fundos”, diz Rappaport.
A área de asset do Santander faz parte da divisão Banco de Atacado, criada no final do ano passado para tratar das operações que se diferenciavam do varejo (400 agências, 800 pontos de venda, R$ 22 bilhões em ativos). O Banco de Atacado foi dividido em quatro segmentos: tesouraria; empréstimos a corporações; operações de investimento das corporações; e administração de recursos de terceiros. Essa última, por sua vez, foi sub-dividida também em quatro: clientes private; private equity; previdência aberta; asset management.