Resgate de fundos no exterior | Aproveitando o alto retorno das a...

Edição 270

 

A forte volatilidade do dólar frente ao real se tornou uma importante aliada dos fundos de pensão que apostaram em investimentos no exterior no ano passado. A moeda americana, que chegou a bater R$ 3,30 no começo deste ano, tem impulsionado a rentabilidade de fundos offshore e, por conta disso, algumas entidades até já resgataram os lucros do período para fazer alocações táticas em outros segmentos, como renda fixa, e, assim, garantir a meta de 2015.
Este é o caso da Fundação Fibra, que aproveitou a alta do dólar para realizar os resultados de seus dois fundos no exterior, um da BlackRock e outro da J.P. Morgan – ambos receberam, juntos, R$ 22 milhões para investimento. Em quase um ano de aplicações, os fundos renderam 35%, alavancando a aplicação da Fibra para R$ 30 milhões. Foi quando a fundação decidiu resgatar os R$ 8 milhões excedentes para apostar em NTN-Bs e, em menor escala, em fundos DI.
“Embora o CDI não esteja batendo meta este ano, ele traz mais liquidez à carteira, o que é importante em tempos de incertezas”, afirma Sílvio Rangel, diretor superintendente da Fibra. O objetivo da estratégia é bater a meta atuarial deste ano, que está bastante pressionada pela inflação, que já ultrapassa o patamar de 8%.
Entretanto, a estratégia de longo prazo da fundação é realocar e até mesmo ampliar essa carteira de investimentos no exterior. “Há algumas semanas, quando o câmbio chegou ao patamar de R$ 2,90, quase reaplicamos novamente os R$ 8 milhões nos fundos do exterior”, explica.
Conforme destaca Rangel, apenas as NTN-Bs estão conseguindo atender à demanda de rentabilidade dos planos das entidades atualmente, já que a meta atuarial é a soma do IPCA e da taxa de desconto de 5,76%, segundo as novas regras estabelecidas pela Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc). A duration do plano BD da entidade é de 14 anos.
A inflação, que este ano pode passar de 8%, também prejudicou a meta da Fibra no ano passado. A rentabilidade das carteiras em 2014 ficou em 11,08%, contra uma meta de 12,26%. “O que salvou a carteira de renda fixa, a única que superou a meta no ano passado, foram as NTNB-s antigas. Nenhum outro ativo conseguiu superar a inflação”, comenta. Os fundos de renda fixa encerraram 2014 com ganhos de 13%. Já a renda variável puxou a média para baixo. O patrimônio da Fundação Itaipu chegou a R$ 2,8 bilhões.
Para não ser prejudicada pelo mercado de ações novamente este ano, a Fibra reduziu o percentual previsto para investimentos na bolsa. Investimentos em fundos de ações, que representavam 14% do patrimônio da fundação em 2014, foram reduzidos para 7% em 2015. “Este ano estamos realizando operações táticas a conta gotas. Assim que o cenário se torna mais claro para uma classe de ativos, definiremos o que fazer com nossa carteira. Bolsa é um segmento que continuamos observando, mas ainda não achamos o melhor momento para retomar alocações”, diz. Os investimentos no exterior, por outro lado, têm surpreendido positivamente.

Regras de solvência – De acordo com Rangel, a necessidade de bater uma meta em 2015, somada a regras inadequadas de solvência, torna as fundações reticentes demais para diversificar e tomar risco, o que leva as estratégias de investimentos deste ano para o limite do conservadorismo. “Com as regras de solvência vigentes, as fundações são levadas a adotar como horizonte de investimento um período de curto prazo”, justifica Rangel.
De acordo com o executivo, que também preside a comissão temática da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) que trata da precificação e solvência dos planos, o prazo estipulado de três anos para equacionamento de déficits inferiores a 10% acaba se tornando o horizonte de investimento das fundações.
O ideal, de acordo com Rangel, é que as entidades trabalhem com um prazo de equacionamento alinhado à duração dos planos, visto que a marcação de ativos e passivos já segue esta lógica. “A Previc atendeu as sugestões do mercado, encabeçadas pela Abrapp, no que compete aos ativos e passivos. Hoje, as fundações podem alinhar suas marcações com as suas durations. É um cálculo personalizado, pautado na necessidade de cada plano. Faltou aprovar nova regulamentação para a solvência, medida que estávamos esperando no ano passado”, destaca.

Resgate total – Aproveitando o elevado patamar de rentabilidade dos títulos públicos – as NTN-Bs mais longas (2050) já bateram juros de 6,3% este ano – a Petros, fundação de previdência dos funcionários da Petrobras, mandou liquidar no final de abril um fundo de investimentos no exterior de R$ 100 milhões que tinha iniciado em outubro de 2014.
O veículo era um fundo de investimentos em cotas, que aplicava recursos por meio de gestores internacionais selecionados pela BB DTVM. Quando foi criado, a previsão inicial era que esse fundo no exterior chegasse a R$ 300 milhões. Porém no meio do caminho houve mudança em toda a diretoria executiva do fundo de pensão (ver matéria pág. 54).
De acordo com Luis Antonio dos Santos, gerente executivo de operações de mercado da Petros, no período em que os recursos ficaram no fundo, entre setembro e abril, a rentabilidade atingiu mais de 30%. “Foi uma valorização muito rápida, em função do comportamento do mercado internacional e da alta do dólar frente ao real. Decidimos realizar os ganhos para aproveitar o momento atual de aumento de taxas dos títulos públicos, que estão rendendo juros acima da meta atuarial”, explica, durante o Seminário Gestão Ativa de Renda Fixa, promovido pela Investidor Institucional no último dia 12, em São Paulo. “É importante diversificar, mas em um cenário econômico como este é natural que adotemos uma postura mais conservadora”, complementa.
Pressionada pelos conselheiros eleitos pelos participantes e pelas investigações em torno de envolvimento com operações irregulares do fundo de pensão com empresas da operação Lava Jato, a Petros decidiu mudar a política de investimentos. E uma das mudanças imediatas, foi a liquidação do fundo no exterior. Com a atitude, a fundação consegue surfar na alta rentabilidade das aplicações no exterior no período, ao mesmo tempo que sinaliza mudanças na nova gestão.
Segundo um gestor de fundos no exterior do mercado, que pediu para não se identificar, o movimento da Fibra e da Petros são casos isolados entre os fundos de pensão. “São apenas duas fundações que fizeram resgates de fundos no exterior recentemente. Uma delas por pressões políticas internas”, disse a fonte. No caso da Fibra, o gestor esclarece que se trata de um resgate parcial, apenas do ganho adicional no período. “A Fibra fez um resgate parcial, que acabou dando certo, mas é uma operação arriscada”, conta a fonte.
O gestor comenta ainda que a tendência majoritária é de aumento no ingresso dos recursos de fundações no fundo no exterior. “Do total de fundações que estão em nosso fundo, cerca de 20% delas fizeram aumento nas aplicações”, diz a fonte.

BB DTVM – Os quatro fundos lançados pela BB DTVM em parceria com as assets globais – BlackRock, J.P.Morgan, Schroders e Franklin Templeton – já somam 44 cotistas. O fundo com a BlackRock tem atualmente 20 cotistas, com o J.P.Morgan, 13 cotistas e com a Schroders, 10. O fundo que não avançou até o momento é aquele lançado em parceria com a Franklin Templeton, que conta com apenas um cotista. Depois de um período de adesão mais acelerada durante o ano passado, neste momento, a entrada de novas cotistas se estabilizou. A leitura dos investidores é que o dólar já andou o que tinha que andar, e que a bolsa americana já não tem muito espaço para seguir se valorizando indefinidamente.
É por isso também que os gestores já começam a preparar fundos no exterior voltados para outros mercados além das bolsas dos EUA. É o caso do HSBC Gestão de Recursos que prepara um novo fundo focado em Europa, com benchmark o MSCI Euroland.
“Estamos preparando um novo fundo, que deve estar pronto entre 3 a 6 meses, com o foco na recuperação da Europa. Com o programa de quantitative easing europeu e a desvalorização do Euro, as exportações das empresas europeias deve aumentar e puxar a recuperação da economia da região”, diz Alcindo Canto, diretor executivo da asset do HSBC.
A própria BB DTVM também prepara novos fundos de investimentos no exterior, alguns deles com foco nas bolsas europeias. São quatro novos fundos que a BB DTVM deve lançar em parceria com assets globais, algumas delas com sede e com atuação predominante da Europa.