Edição 141
A compra de debêntures das concessionárias de rodovias Econorte e Ecosul e da Universidade Luterana Brasileira (Ulbra) derrubou, na última semana de novembro, a diretoria da fundação Copel. A demissão do presidente e dos diretores financeiro, de administração e seguridade foi pedida pelo governador do Estado, Roberto Requião que, segundo assessores, julgou inadmissível um fundo de pensão patrocinado por uma estatal adquirir papéis de empresas com as quais o governo estadual se encontra em litígio aberto (Econorte e Ecosul) e de uma instituição de ensino apontada como tendo sérios problemas financeiros (Ulbra).
A entidade, que acumula patrimônio de R$ 2,3 bilhões, adquiriu em abril de 2003, R$ 16,9 milhões em papéis das concessionárias Econorte e Ecosul e, em outubro do mesmo ano, outros R$ 30 milhões em debêntures do centro universitário com vencimentos para quatro e cinco anos, informa o ex-diretor financeiro da fundação, Othon Mader Ribas (ver quadro ao lado). “Não houve qualquer irregularidade na compra dos papéis. É uma reação política”, acusa o ex-diretor administrativo e de seguridade da entidade, Pantaleão Muniz da Silva, que hoje atua no Comitê de Planejamento da Copel. O atual diretor financeiro da entidade, Élzio Batista Machado, afirmou, através de sua assessoria, que não pretende fazer qualquer declaração até que seja finalizado o processo de auditoria nas contas e administração do fundo.
Para o consultor da Risk Control, Mathias Fulda, uma saída para a fundação seria vender os papéis. “A questão é saber qual a demanda pelo papel, ou sua liquidez”, diz. Ainda segundo Fulda, o melhor seria aguardar a taxa de juros cair mais para só então resgatar e não perder um bom negócio.
Os rendimentos dos papéis, como se percebe no quadro abaixo, não são ruins. Desse ponto de vista, portanto, a fundação Copel não parece ter feito um mau negócio. O problema é que, antes mesmo de assumir o governo, ainda durante a campanha eleitoral, o governador tornou-se um dos maiores críticos dos valores cobrados pelas concessionárias a título de pedágio. E prometeu reduzir as tarifas cobradas nas estradas paranaenses, alegando que os elevados lucros que as concessões estariam proporcionando, ao render uma arrecadação perto de R$ 400 milhões, não estariam se traduzindo em investimentos nas rodovias. Esse descompasso, segundo Requião à época, estaria causando severos prejuízos à economia do Estado.
Segundo Benedito Pires, assessor direto do governador do Paraná, o fundo de pensão não poderia ter investido em papéis de empresas que a qualquer momento podem sofrer intervenção do Estado e ter seus contratos anulados. “Há inúmeras irregularidades (por parte das empresas). Elas superfaturam e inflacionam as despesas para dizer que não têm lucros”, acusa Pires. Segundo ele, tal comportamento engessa a economia local, a ponto de o Paraguai ter deixado de importar combustível via porto de Paranaguá (PR) para fazê-lo pelos estados de Santa Catarina ou Rio Grande do Sul. “E isso era de conhecimento da fundação”, conclui.
Debêntures da discórdia
Econorte: R$ 8,7 milhões
Rating: A
Compra dia: 10/abril2003
Vencimento: 4 anos e meio
Rentabilidade: IGP-M +12%
Ecosul: R$ 8,2 milhões
Rating: BBB+
Compra dia: 11/abril/2003
Vencimento: 4 anos
Rentabilidade: IGP-M+9%
Ulbra: R$ 30 milhões
Rating: A
Compra dia: 25/outubro/2003
Rentabilidade: IGP-M+12,83%