Edição 348
Vários fundos de pensão têm mudado de nome em busca de uma ampliação da sua base de atuação, livrando-se de nomes mais “endereçados” que os prendiam unicamente à uma única patrocinadora e abrindo-se à novas empresas e até novos segmentos. É o caso, entre outros, da Fundação Cesp que virou Vivest, da Fundação CEEE que virou Família Previdência, da Previ-Ericsson que virou E-Invest, da Fundação Faeces que virou Capital Prev e da CuritibaPrev que virou Aprev do Servidor.
A Funcesp mudou para Vivest em meados de 2020. “Fazia tempo que a gente não era mais só fundação Cesp, já tínhamos mais de dez patrocinadores e o nome deveria ter mudado há muito tempo”, comenta o presidente da entidade, Walter Mendes. Apesar de o fundo abrigar diferentes planos de empresas do setor elétrico paulista, principalmente depois das privatizações do setor ocorridas na década de 1990, o nome da Companhia de Eletricidade de São Paulo (CESP) manteve-se na entidade ainda por mais de duas décadas.
Mendes chegou à entidade em 2018, e logo começou a ficar claro que o nome antigo era inadequado. A mudança ocorreu dois anos mais tarde. “Mudamos o nome, contratamos uma gerência de marketing e nos reposicionamos no mercado”, conta Mendes. Com esses passos, a Vivest partiu para a diversificação de patrocinadores, buscando além das empresas do setor elétrico também nomes de outros segmentos econômicos.
Além das várias companhias elétricas privatizadas, como AES, CPFL, Elektro, Enel e Emae, a Vivest já tinha conquistado, mesmo antes da mudança de nome, o patrocínio da Tim e da Sabesp, essa última para o plano de saúde. No final do ano passado, a entidade conquistou a gestão do plano previdenciário da Ford, empresa que fechou três fábricas no Brasil e abandonou o mercado nacional, e no início deste ano também o plano previdenciário da Vem Conveniência, joint-venture da Fibra (nome que a BR Distribuidora adotou após sua privatização) com as Lojas Americanas, para atuar no ramo de lojas de conveniências instaladas em postos de combustíveis.
O plano da montadora norte-americana, com 8 mil participantes e patrimônio de R$ 1,4 bilhão, tem um peso importante na estratégia de diversificação da Vivest. “Vencer essa licitação foi muito importante, pois abre portas ao ingresso de planos de outras multinacionais, com patrimônios até maiores, na casa de R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões”, afirma Mendes.
Já o plano da Vem Conveniência, embora ainda esteja em fase de aprovação junto aos órgãos reguladores e vá começar do zero, tem enorme potencial. A empresa, que possuia no início do ano um total de 540 funcionários, é uma porta de entrada para relacionamentos com empresas do porte das suas controladoras, a Vibra e a Americanas.
Ao contrário de outras entidades multipatrocinadas que optaram por crescer com adesão de entes federativos, obrigados pela Emenda Constitucional 103 a criar planos de previdência complementar, a Vivest resolveu focar no potencial das entidades já existentes. “Nosso planejamento estratégico delimitou a procura de novos patrocinadores nas fundações já existentes e com patrimônio inferior a R$ 5 bilhões, preferencialmente patrocinadas por empresas privadas”, conta Mendes.
Outra razão para a adoção de uma marca mais abrangente foi o fato de que a antiga carregava no nome a palavra “fundação”, remetendo diretamente à previdência, o que encobria sua segunda e importante atividade na área de saúde. A área de saúde representa hoje 140 mil vidas, despesas médicas de R$ 1,2 bilhão ao ano, 7 mil entidades credenciadas (médicos, laboratórios e hospitais) para atendimento indireto no Brasil inteiro. E é superavitária.
Um nome mais plural permite o rateio das despesas entre os dois segmentos, incluindo custos jurídicos, de comunicação e marketing, financeiro e de atendimento. Dessa forma, consegue reduzir a taxa de administração dos planos de previdência, que hoje é da ordem de 0,2%. “É menos da metade da média do mercado”, ressalta Mendes. Segundo ele, isso torna o Família Invest, oferecido a familiares de participantes e uma das apostas de crescimento da Vivest, bem mais competitivo.
Também originária do setor elétrico, a Família Previdência surgiu da Fundação CEEE, patrocinada pela empresa de mesmo nome que nos últimos anos foi dividida em três operações para serem privatizadas. A CEEE-Distribuição e a CEEE-Transmissão foram privatizadas em 2021, compradas pelos grupos Equatorial Energia e CPFL, respectivamente, enquanto a CEEE-Geração foi arrematada pela companhia Florestal do Brasil, da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), em leilão ocorrido no final de julho último.A mudança de nome, entretanto, aconteceu em 2017, quando a entidade criou o seu fundo instituído voltado a familiares, o Família Previdência, e adotou esse nome como sua nova marca. “A troca do nome ajudou muito a trazer os instituidores atuais. Antes, prevalecia o vínculo da fundação à patrocinadora de origem, confundindo o mercado”, afirma o seu presidente, Rodrigo Sisnandes.
“Para fins de independência e gestão da marca, foi fundamental alterar o nome”, diz. Ele conta que uma das estratégias da entidade, no momento, é buscar a adesão de entes federais obrigados pela EC 103 a criar planos de previdência complementar. Já eram 86 municípios até meados de julho, abrigados dentro do Família Municípios, criado em 2021. Além de cidades gaúchas, também Juiz de Fora, a quarta maior de Minas Gerais, aderiu à Família Previdência.
Outra aposta da entidade é no instituído Família Associativo (sindicato e órgãos de classe), com 5.583 participantes vinculados a 14 instituidores, entre eles, a própria Fundação, e R$ 121 milhões de patrimônio. Até 2017, quando resumia-se à Associação dos Funcionários da CEEE, primeiro instituidor, tinha menos de 700 participantes e R$ 4,8 milhões em patrimônio. Naquele ano, foi remodelado para acolher outros instituidores.
O Família Associativo, junto com Família Previdência (familiares de participantes), e Família Corporativo (empresas), forma o trio no qual a entidade projeta grandes expansões. Além deles, a fundação administra os CDs das empresas Companhia Riograndense de Mineração (CRM), Companhia Energética Rio das Antas (Ceran), Foz do Chapecó Energia, além do instituído do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio Grande do Sul (Senge-RS).
Já nos planos vinculados à patrocinadora original, o movimento é inverso ao dos novos planos, com redução de participantes e perspectiva de estabilidade ou queda do patrimônio. Em junho deste ano o patrimônio somava R$ 6,1 bilhões, com 11.224 participantes, mas esse volume de recursos pode ser reduzido drasticamente com a saída da CEEE-Distribuição e da CEEE-Transmissão, que pediram a retirada de patrocínio em novembro do ano passado. O pedido está sendo analisado na Câmara de Conciliação, Mediação e Arbitragem (CMCA).
Já a sisuda Previ Ericsson, por uma questão de rejuvenescimento de imagem, adotou a marca E-Invest em 2019, mas manteve discretamente o nome original no logo. “As novas gerações não gostam muito da palavra previdência. Acham que é coisa de gente velha, enferrujada”, afirma Rogério Tatulli, superintendente da E-Invest. “Para atrair os empregados com menos de trinta anos de idade, mudamos a roupagem da entidade”, explica.
Ele atribui a essa mudança o crescimento do Plano CD, aberto a adesões, que saltou de 475 para 881 participantes no ano. Com patrimônio de R$ 28,506 milhões, é o que mais cresce dentre os três planos da entidade (os outros dois são um CD suplementar, no qual a empresa aporta 50% das contribuições do funcionário, e um BD fechado).
Segundo o superintendente da fundação, o aquecimento do setor de telecomunicações e tecnologia, principalmente com a chegada da telefonia 5G, apresenta boas perspectivas de crescimento para as cinco patrocinadoras do grupo Ericsson, que deverão ampliar as contratações de pessoal. “Os planos vão aumentando na medida das contratações das empresas”, explica Tatulli.
Ele avalia que a nova marca ajudará na atração dos novos contratados para o fundo de pensão, até porque as gerações mais novas são bastante ligadas em investimentos. “Mas fazemos questão de deixar claro as diferenças entre investimentos pessoais e fundo de pensão”, diz. “É preciso esclarecer a importância de construir um benefício complementar à aposentadoria pública”.
Outra que adotou uma marca com imagem mais significativa, embora tenha mantido de forma secundária o nome original, foi a CuritibaPrev, fundo de pensão da cidade de Curitiba. A entidade adotou em 2021 a marca de Aprev do Servidor, na esperança de ampliar o número de adesões de entes federativos obrigados a criar regimes de previdência complementar para seus servidores com salários acima do teto do INSS, conforme estabelecido na EC 103. Mas não conseguiu passar de quatro: São José dos Pinhais, Piraquara e Campina do Simão, no Paraná, e Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso.
Segundo a diretora de previdência da APrev do Servidor, Jocelaine Moraes de Souza, “ao agregar um selo novo, estreitamos o relacionamento com as prefeituras que migram para nossa entidade. Mas também queremos atrair o público jovem”.
Segundo ela, como os convênios com novos patrocinadores municipais ainda estão sendo analisados pela Previc, eles ainda não passaram a aportar para o plano. Apenas os servidores de Curitiba, em torno de 1.600 pessoas, contribuem atualmente para o plano, que tem um patrimônio de R$ 11,04 milhões. A entidade também conta com um instituído para familiares de participantes, o CuritibaPrev Família.
A aprovação da EC 103 também motivou a Faeces, fundo de pensão dos Empregados da Companhia Espírito Santense de Saneamento (Cesan), a adotar um nome menos “endereçado”. Ela mudou para Capital Prev, marca que passou a usar para suas vertentes de previdência e saúde. Sem divulgar os resultados de adesão de entes federativos até o momento, o presidente da entidade, Luiz Carlos Cotta, discorre sobre a relevância da troca de nome no conjunto de mudanças estatutárias realizadas em fevereiro último.
“Fundação Faeces remetia muito ao patrocinador original e seus empregados. Os participantes de poupança previdenciária querem se sentir parte do negócio. É uma relação de extrema confiança”, ressalta Cotta.
No site da Capital Prev a mudança chega a ser tratada como “uma nova era, que traz perspectivas de crescimento e consolidação do fundo de pensão”. Criada em 1994 com patrocínio da Cesan, a entidade tem atualmente 1.941 participantes e um patrimônio de R$ 450 milhões, dos quais R$ 370 milhões na modalidade BD, R$ 70 milhões em Contribuição Variável e R$ 10 milhões em assistência à saúde. A entidade também criou em 2020 o seu Plano Família, para parentes de participantes.
“Estamos muito otimistas diante do potencial de ampliação dos nossos números”, afirma Cotta. “Não existe educação previdenciária no Brasil e, embora isto não seja algo trivial de fazer, boa parte dessa empreitada cabe a nossas entidades”.