Edição 83
Estudo da William M. Mercer, elaborado pelo consultor Lauro Araújo, mostra que no longo prazo a rentabilidade média das aplicações em renda fixa não compensaram os riscos reduzidos. Por outro lado, a rentabilidade das aplicações em renda variável, de maior risco, resultaram em retornos médios mais elevados no longo prazo.
Considerando-se períodos de cinco e de dez anos, a relação retorno/risco de uma carteira com 100% dos ativos aplicados em renda fixa é menor que a de uma carteira que tenha 25% ou 50% em renda variável (ver tabelas). Isso ocorre porque, embora o risco de uma carteira com até metade dos ativos concentrados em renda variável seja maior, a rentabilidade média é bastante superior. “Para um fundo jovem, que não apresenta grandes necessidades de caixa de curto prazo, é aconselhável aumentar a exposição em renda variável”, afirma Araújo.
Segundo o consultor, com a tendência de queda nas taxas de juros, a concentração excessiva em ativos de renda fixa deixa de ser uma estratégia consistente para um fundo de pensão que precisa atingir uma meta atuarial.
A pesquisa da William M. Mercer mostra o retorno da renda fixa (Taxa Selic) e da renda variável (Ibovespa) desde janeiro de 1975 até junho de 2000. São considerados os melhores e os piores retornos em períodos de um, cinco e dez anos. A análise traz o desempenho de carteiras com diversas composições de portfólio, desde 100% em renda fixa até 100% em renda variável. Os dados mais importantes, porém, referem-se à rentabilidade média das carteiras e ao risco das aplicações, medido pelo desvio padrão (quanto maior o desvio, maior o risco).
Desta forma, para um período de 5 anos, a rentabilidade média da carteira com 100% em renda fixa é de 59,25% enquanto o desvio padrão é de 74,97%. Alocando 25% dos recursos para a renda variável, a média de retorno sobe para 112,11%, ou seja, mais que o dobro, enquanto o risco fica em 99,59%. Com metade do portfólio em renda variável, a rentabilidade média em cinco anos dá outro salto, para 155,96% e o risco sobe para 145,19%. “Para um horizonte de longo prazo, de cinco ou dez anos, vale a pena correr um risco um pouco maior em troca de um aumento expressivo da rentabilidade”, orienta Lauro Araújo. O consultor observa, porém, que ultrapassando o limite de 50% em renda variável, os riscos crescem tanto que não compensam o aumento da rentabilidade.
Mesmo para um período de um ano, a relação entre a rentabilidade média e o risco é mais favorável para a carteira que tem uma parte dos ativos alocados em renda variável. Porém, para fundos de pensão maduros, que possuem necessidades imediatas de caixa, a principal recomendação é manter a maior parte dos ativos aplicados em renda fixa.
Juros negativos – O consultor da William M. Mercer lembra que apesar das altas taxas de juros verificadas nos últimos anos, a economia brasileira já registrou diversos momentos de juros reais negativos. Ou seja, a renda fixa no Brasil também apresenta um risco significativo, embora o consultor considere que a possibilidade de repetição de taxas reais acentuadamente negativas nos próximos anos seja menor que no passado.
Por isso, a pesquisa também traz uma outra série de dados que exclui períodos nos quais os juros foram inferiores à inflação. “Como daqui para a frente existe pouca probabilidade da taxa de juros anual ficar abaixo dos índices de preços, resolvemos retirar de nossa pesquisa períodos em que os juros foram acentuadamente negativos. Nestes períodos, também foram desconsiderados os desempenhos da renda variável.
A análise dos dados da pesquisa, desconsiderados os períodos de baixas taxas reais de juros, também reforça que, para o longo prazo, os riscos de uma carteira totalmente alocada em renda fixa podem ser, inclusive, maiores que os riscos de uma carteira com 25% dos recursos em renda variável. Isso ocorre especificamente na tabela que considera o período de 10 anos, na qual o desvio padrão da carteira com 100% em renda fixa é de 5,14%, maior que os 4,97% do risco da composição com 25% em renda variável. Mesmo a carteira com metade dos ativos em renda variável apresenta um desvio de 6,02%, mas com uma rentabilidade média anualizada de 33,58%, contra 19,45% da carteira de renda fixa.
Cenários futuros – Segundo Araújo, com a queda gradual das taxas de juros, os fundos de pensão devem começar a aumentar a exposição em renda variável. A migração dos ativos de renda fixa para as bolsas ainda não ganhou força, mas no ano que vem o movimento deve ser acentuado, prevê o consultor.
“Além da redução dos juros, os fundos de pensão precisam buscar maiores rentabilidades para superar o aumento dos custos da gestão dos recursos provocado pelas novas regras dos investimentos impostas pelos órgãos reguladores”, prevê. Ele acrescenta que, daqui em diante, adotar uma estratégia conservadora não significa concentrar tudo em renda fixa. “Quando os juros anuais chegarem próximos a um dígito, vale a pena aumentar os riscos de bolsa”, conclui o consultor.
Planos de CD devem continuar a crescer, prevê Sue Velleman
Responsável pela área de previdência privada da William M. Mercer em 36 países, logo abaixo do presidente mundial da empresa, Sue Velleman veio ao Brasil para participar do evento que a unidade brasileira promove anualmente. Neste ano, sob o tema “Soluções Estratégicas para o Novo Milênio”, o evento enfocará as tendências mundiais da previdência privada. Sue concedeu entrevista exclusiva à Investidor Institucional, falando sobre as principais tendências da previdência no mundo. Veja, a seguir, os principais pontos:
Investidor Institucional – Quais as principais tendências mundiais?
Sue Velleman – A tendência mais forte que vemos atualmente é o crescimento dos planos de contribuição definida, tanto como um suplemento para os planos de benefício definido como para a sua substituição. Uma pesquisa realizada recentemente por nós, entre nossos clientes, mostrou o predomínio desse tipo de plano ao redor do mundo e nossa expectativa é que eles continuarão a crescer.
II – Porque a Previdência Pública perde espaço?
SV – Em virtude do envelhecimento das populações e da pressão financeira que isso exerce nos sistemas oficiais de Previdência Social, a maioria dos países com sistemas maduros de Previdência Social está se deparando com a necessidade de reduzir os benefícios pagos ou de aumentar significativamente os financiamentos. E essa realidade tem levado os governos a transferir parte da responsabilidade pelos benefícios de aposentadoria para as empresas.
II – Isso tem fortalecido os sistemas de previdência privada?
SV – Sim, os problemas enfrentados pelo sistema oficial de Previdência Social têm resultado num sentimento de maior confiança das pessoas em relação aos planos privados de pensão. Os planos privados têm crescido na mesma proporção que as organizações multinacionais têm se expandido para novas regiões, tais como a Europa Oriental, e estendido a cobertura de seus planos para os empregados dessas regiões.
II – No Brasil, ainda se discute a tributação dos lucros dos fundos de pensão. Como essa questão é tratada em outros países?
SV – Basicamente, existem dois tratamentos para essa questão, colocados de forma a encorajar as poupanças de aposentadoria. Assim, temos a possibilidade de dedução das contribuições para fins de cálculo do Imposto de Renda devido e também o diferimento desse imposto sobre os ganhos dos investimentos, até que as poupanças sejam resgatadas na forma de benefícios de aposentadoria.
II – A questão tributária seria uma das principais vias para obter um crescimento da Previdência Privada no Brasil?
SV – Realmente, o caminho mais viável para a obtenção de um crescimento da previdência privada no Brasil seria um tratamento tributário mais favorável e uniforme para todos os tipos de fundos destinados à aposentadoria, sejam abertos ou fechados. Mas, além disso, existem outros mecanismos que podem contribuir para o fortalecimento do sistema de previdência privada, como por exemplo dar aos participantes a opção de decidir sobre onde investir os recursos destinados à sua aposentadoria. Outro ponto relevante seria a permissão para que as fundações investissem fora do Brasil.
II – Que tipos de planos são os mais comuns hoje, nos Estados Unidos?
SV – Os de benefício definido e de contribuição definida, mas os planos híbridos, que possuem algumas das características de cada um dos 2 planos que citei, estão crescendo muito em popularidade.
II – Qual a participação dos funcionários norte-americanos nos planos de previdência?
SV – Nos Estados Unidos, enquanto a maioria dos planos de benefício definido é completamente financiada pelas empresas, a maioria dos planos de contribuição definida é financiado, parcial ou totalmente, pelo empregado. Uma abordagem muito comum é um plano de contribuição definida no qual o empregado contribui com um valor e a empresa acrescenta uma porcentagem, entre 50 e 100% do valor contribuído pelo empregado.
II – Quais as principais preocupações das patrocinadoras norte-americanas, hoje?
SV – As grandes preocupações das empresas residem em questões como o fortalecimento de uma estratégia global de recursos humanos, visando o controle dos custos, o estabelecimento de níveis de benefícios adequados, a atração de talentos e, cada vez mais, a criação de instrumentos que permitam ao empregado acumular recursos para a sua aposentadoria, independentemente da sua mobilidade dentro da própria empresa ou entre empresas.
II – Qual é a cultura previdenciária predominante entre as multinacionais que se instalam no Brasil?
SV – De uma forma geral, a cultura previdenciária predominante entre as multinacionais no Brasil está em linha com a filosofia da matriz. Mas isso não quer dizer que não haja peculiaridades. Uma delas, que chama a atenção em muitos desenhos de planos de multinacionais no Brasil, é a presença de características de benefício definido em estruturas de contribuição definida. Por exemplo, a compra de serviço passado, o benefício garantido, os benefícios especiais em casos de eventos de risco, como invalidez ou morte, são típicos de planos de benefícios definidos, mas aparecem em muitos planos de contribuição definida.