Quadruplicando a aposta | Funpresp vai ampliar em quase quatro ve...

Edição 348

A Funpresp-Exe, fundo de pensão que reúne servidores do poder executivo e legislativo federal, pretende ampliar de 1,8% para cerca de 7% a participação dos fundos exclusivos de crédito privado na sua carteira de investimento, cujo total atingiu R$ 5,7 bilhões em julho último. Essa ampliação será feita através de duas gestoras, a Daycoval e Santander Asset, selecionadas em dezembro do ano passado para administrar os fundos exclusivos de crédito privado da entidade.
Desde a constituição dos fundos exclusivos a Funpresp repassou R$ 360 milhões aos gestores, dos quais R$ 100 milhões foram efetivamente alocados e o restante foram mantidos em operações compromissadas. De agosto e dezembro, explica o gerente de controle de investimento da Funpresp-Exe, Helano Borges, essas operações compromissadas de aproximadamente R$ 260 milhões serão desmontadas para reforçar os fundos exclusivos de crédito privado. Os recursos devem ser direcionados basicamente à aquisição de letras financeiras e debêntures.
“O momento é muito favorável, as taxas de juros reais subiram bastante e os spreads estão bastante abertos, então há dois elementos contribuindo para que esse tipo de ativo tenha bons retornos”, avalia Borges. “Enquanto tivermos esse ambiente de política monetária mais restritiva continuaremos dando bastante atenção ao crédito privado, com o olhar bem atento a essa classe de ativos”, complementa. O interesse deve continuar em 2023, com os aportes nesses fundos exclusivos evoluindo de acordo com o crescimento do patrimônio da entidade.
Segundo Borges, a carteira dos exclusivos está atualmente em papéis de empresas consideradas de baixo risco, a maior parte em letras financeiras de bancos high grade e os demais diversificados em setores como siderurgia, petróleo, saúde, construção e aluguel de veículos em papéis que tem gerado ganhos acima do CDI ou das NTN-Bs.
“Esse é um movimento bastante importante e iremos intensificar ao longo do segundo semestre. Em função de serem ativos privados, que contém um risco de crédito, pagam um spread acima da média e isso tem se mostrado vantajoso do ponto de vista de rentabilidade e também de risco”, explica.

O aumento da alocação em crédito privado reforça a percepção de que, após alguns anos de Selic baixa que incentivou os fundos de pensão a diversificarem para ativos de renda variável local e no exterior, a volta da taxa básica para os dois dígitos trouxe um incentivo ao contrário. Os fundos de pensão voltaram ao chamado “velho normal”, aumentando sua exposição à renda fixa em detrimento da diversificação.
Incertezas domésticas e um cenário externo igualmente imprevisível têm motivado os investidores a diminuirem ou minimizarem o risco de mercado das carteiras, em uma migração para ativos de renda fixa pós-fixados de prazos mais curtos, especialmente indexados à taxa básica.
Na Funpresp-Exe, a opção foi pela redução dos investimentos em mercados globais, a partir da visão de que a inflação nos Estados Unidos viria alta e levaria o Fed (Banco Central norte-americano) a subir sua taxa básica de juros, gerando impactos na economia mundial e afetando o desempenho das empresas e de seus papéis em bolsa. Em resposta a isso, a fundação reduziu sua alocação em fundos no exterior, de 5,6% da carteira para 2,2%. Desse corte de 3,4 pontos percentuais, cerca de 1 ponto percentual decorreu de desinvestimento feito em janeiro deste ano e o restante foi devido ao efeito da queda de preços.

Com 92,5 mil participantes ativos, a Funpresp-Exe finalizou o primeiro semestre deste ano com rentabilidade de 3,14% em sua carteira de investimentos. O resultado, que ficou distante do índice de referência de IPCA + 4% (4,74%) usado pelo seu plano de Contribuição Definida (CD), se deveu em parte à conjuntura econômica adversa, diz Helano Borges.
Segundo ele, a marcação a mercado dos títulos públicos federais é outro fator que pesou desfavoravelmente nos resultados do semestre. “Nossa carteira está sofrendo com a marcação a mercado. Mas a longo prazo, dada a estratégia de carregamento desses títulos até o vencimento, a superação do índice de referência está garantida”, avalia Borges.
Dos R$ 5,7 bilhões da carteira de investimentos da Funpresp-Exe, R$ 3,99 bilhões estão sob gestão própria da fundação e o restante em gestão terceirizada. Da carteira de gestão própria, 90% é composta por títulos públicos federais indexados ao IPCA, 1,53% integrada por títulos públicos federais prefixados, 1,36% refere-se a operações com participantes e 7,09% por ações.
A gestão terceirizada exibe uma diversificação maior, mas ainda assim mantém um peso significativo na renda fixa: os títulos públicos federais indexados à taxa Selic respondem por 45,48%, os títulos indexados ao IPCA por 12,71%, as operações compromissadas por 12,33%, as ações por 11,94%. Na sequência estão os investimentos no exterior com participação de 7,55%, os títulos de crédito privado com 6,21%, os papéis públicos federais prefixados com 2,70%, com restante de 1,07% classificado como outros investimentos.
A Funpresp–Exe avalia que grande parte do ajuste monetário para o combate à inflação já foi realizado e que a tendência é a indicada pelo Boletim Focus, que sinaliza taxa básica de 13,75% ao fim deste ano. “Acreditamos, portanto, que os ajustes nas curvas de juros tendem a ser menores nos prazos mais curtos. E para os prazos mais longos da curva de juros, a sinalização fiscal do próximo governo é determinante”, diz o gerente de controle de investimento.