Edição 108
Depois de um ano de atividades, a área de gestão de risco da Fundação Cesp pode considerar-se madura. Planejada ainda na posse da nova diretoria de investimentos, em março de 1999, ela foi concretizada em fevereiro de 2000. Mas apenas em fevereiro deste ano passou a calcular diariamente os riscos de mercado das carteiras de renda fixa e variável e a participar mais ativamente das decisões do comitê de alocação da fundação. Inicialmente, os cálculos de risco eram feitos semanalmente, intervalo insuficiente – e perigoso – para um mercado financeiro tão volátil.
A importância do aperfeiçoamento da nova área pôde ser colocada à prova em setembro deste ano, quando a gestão de risco do fundo de pensão das empresas do setor elétrico de São Paulo, de um modo geral, teve seus dias mais agitados. Os trabalhos foram redobrados após os ataques terroristas nos Estados Unidos. As discussões no comitê de alocação, que normalmente são feitas semanalmente, chegaram a acontecer, ainda que informalmente, três vezes por semana durante aquele fatídico mês.
Além dos atribulados dias que se seguiram após a tragédia nos EUA, a nova área tinha pela frente outra tarefa importante para cumprir: fazer a segunda rodada do Asset Liability Management (ALM), o planejamento entre ativos e passivos para um período de trinta anos. O trabalho requer um acompanhamento detalhado dos cálculos atuariais e das necessidades de fluxo para o período escolhido, a fim de decidir qual a melhor alocação e evitar o descasamento entre os ativos e os passivos durante o período determinado. Ao contrário do que aconteceu com a área de gestão de risco, implantada internamente, a fundação resolveu contratar o modelo de ALM da consultoria Rabbat, Prandine & Associados (RPA). “Os modelos de ALM existentes no mercado são muito recentes. Quando o produto estiver mais maduro, pretendemos implantá-lo internamente, assim como fizemos com o modelo de gestão de risco”, diz o gerente da área de risco, Roberto Amaral.
Desde a criação da nova área, aprovada em assembléia em junho de 1999, até a sua concretização e seu desenho atual, foi percorrido um longo caminho. Amaral conta que inicialmente, em fevereiro de 2000, quando começou de fato a operar, era avaliado apenas o risco de crédito das carteiras de renda fixa e variável. O risco de mercado começou a ser analisado apenas em fevereiro de 2001.
Amaral lembra que foi preciso “educar” os gestores no que diz respeito ao preenchimento das planilhas e ao envio correto, para a fundação, de informações sobre preços, prazos e outros dados sobre os ativos. “Foi um lento processo de aprendizado”, recorda.
Outra grande dificuldade foi “ensinar” a precificação correta dos preços de ativos menos líquidos, como os títulos indexados ao IGP-M. Segundo o gerente de risco da Fundação Cesp, existia muita divergência sobre qual a melhor forma de precificar esses papéis, já que não existia um padrão. “Cada gestor precificava de um jeito, o que resultava em diferença enorme no valor das cotas”, lembra. Hoje, como a liquidez desses papéis aumentou e existe um mercado secundário mais ativo, se chegou a uma padronização para precificar esses ativos, que facilita e muito o trabalho da área.
Com a profissionalização do mercado, hoje também existe um detalhamento maior e as informações são bem mais ágeis. Atualmente, a área de risco recebe diariamente todas as carteiras abertas, de cerca de 20 instituições financeiras, com os dados necessários sobre cada ativo da fundação.
Além do gerente Amaral, economista formado e pós-graduado pela Universidade de Paris I (Sourbonne), e ex-diretor financeiro da Emplasa (Empresa Metropolitana de Planejamento de São Paulo) durante 1,5 ano, a área de risco da Fundação Cesp conta com outros três integrantes, Ricardo Onório (responsável pelo risco de crédito); o analista sênior de risco de mercado, Júlio Taurinato, e o analista pleno, Alberto Handfas.