Programa da Previ casará ativos e passivos | Software permitirá s...

Edição 71

O principal plano previdenciário da Previ, de benefício definido, vai chegar à sua fase de maturidade dentro de três anos. Até lá, espera-se que as despesas com o pagamento dos benefícios igualem-se às receitas das contribuições, o que tornará a tarefa de gerir o seu portfólio de investimentos extremamente complexa. O casamento entre ativos e passivos, um modelo conhecido como Asset Liability Management, torna-se uma questão essencial principalmente para fundações nessas condições: qualquer deslize pode levar a uma falta de recursos para o pagamento das complementações de aposentadorias.
Para monitorar este processo com maior acuidade, a Previ está incorporando uma nova ferramenta de gestão de risco, que será desenvolvida pela empresa canadense Algorithmics. Trata-se de um software que auxiliará a fundação no casamento dos seus ativos com os seus passivos. “Vamos conseguir fazer simulações de cenários e medir os impactos dos investimentos nos nossos passivos”, afirma o diretor de planejamento da Previ, Arlindo Magno. A ferramenta ajudará também na detecção de qualquer vácuo atuarial no plano de previdência. “Teremos toda a necessidade de desembolso do passivo projetada no tempo”, explica o gerente de risco do fundo de pensão, José Reinaldo Magalhães.
O trabalho com o novo software começará com a modelagem de risco de mercado, abrangendo os segmentos de renda fixa, renda variável, imóveis, participações estratégicas e empréstimos a participantes. Nos casos da renda fixa e variável, bastará adaptar os modelos já desenvolvidos para o Banco do Brasil. No que se refere ao risco de mercado, o grande diferencial do software da Previ serão os módulos específicos para a carteira de imóveis e para os empréstimos a participantes. No primeiro caso, o programa, alimentado pela base de dados da Previ, analisará como um determinado shopping center, por exemplo, será afetado por sua localização ou pela evolução da renda da população. No caso dos empréstimos a participantes, a análise se concentrará na verificação do risco de crédito.
Com todo o portfólio de ativos mapeado, a tarefa seguinte será identificar todas as variáveis que impactam o passivo atuarial da Previ, como as políticas de recursos humanos da sua patrocinadora, o Banco do Brasil. De acordo com o diretor de produtos de previdência da Algorithmics, Juan Zeballos, com o aumento da concorrência em todos os setores da economia, os passivos atuariais têm de ser encarados, cada vez mais, em termos probabilísticos. “Qual a probabilidade, por exemplo, da empresa patrocinadora realizar um plano de demissão voluntária ou mudar sua política de RH? Estes eventos impactam diretamente o passivo atuarial do plano de previdência e, por isso, representam um risco para a fundação”, disse Zeballos.
Concluída a análise de ativos e passivos, completa-se a montagem de um modelo de gestão de risco integrada. Segundo Zeballos, uma das ferramentas de simulação a ser implementada na Previ será o SaR – Surplus at Risk. Inspirado no conceito de VaR (Value at Risk), o SaR mede o perfil de risco dos ativos e passivos de um plano de previdência no longo prazo. A fundação vai simular mudanças nos retornos dos seus ativos e no perfil de seus passivos. Unem-se as duas simulações e observa-se então, na tela do computador, um gráfico com a distribuição de probabilidades de superávit. “Com esta ferramenta, pode-se identificar a probabilidade de ocorrência de um superávit ou déficit violento”, explica Zeballos.

Migração de investimentos – Devido à aproximação da fase de maturidade do plano BD da Previ, o novo planejamento estratégico da fundação determina um aumento progressivo da liquidez dos investimentos. A carteira de ações, por exemplo, perderá peso relativo: ela representava, no final de dezembro, 64% dos ativos da fundação e a meta é reduzir este percentual a 45% até 2003. Segundo o diretor de planejamento da Previ, Arlindo Magno, embora este número seja uma meta, poderá ser revisto em função do comportamento do mercado de ações.
A carteira de renda variável será segmentada e uma das fatias vai ser indexada ao IBX, justamente para aumentar a liquidez do fundo de pensão. Outro segmento da renda variável será uma carteira ativa, composta por papéis de empresas consideradas estratégicas. Os dez setores componentes desta carteira foram definidos em estudos realizados com a participação de diversos centros acadêmicos, como a Fundação Getúlio Vargas, a Unicamp, a UFRJ, a UERJ e o Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA). A carteira terceirizada, por sua vez, se voltará para a exploração de nichos de mercado com boa potencialidade de retorno, como fundos de private equity e de empresas emergentes, além de setores novos, como a Internet. Por fim, uma parcela da carteira de renda variável será reservada para as operações de giro.
A parcela da renda fixa nos investimentos da Previ saltará dos atuais 19% para cerca de 40% em 2003. Este aumento significativo é para fazer frente aos compromissos crescentes do fundo de pensão com aposentados e pensionistas. “A tendência é a carteira de renda fixa ir crescendo aos poucos porque não se desfaz dos outros ativos com facilidade”, afirmou o diretor de planejamento, Arlindo Magno.
Segundo ele, embora a carteira de renda fixa vá se expandir, a proporção atual entre títulos públicos federais e privados deverá ser mantida. A Previ estabeleceu também algumas normas para controlar o risco dos investimentos em renda fixa. Entre as regras de maior destaque colocam-se o limite de 40% para investimentos em títulos privados e a eliminação da possibilidade de investimentos em títulos públicos municipais e estaduais.
O fundo de pensão dos funcionários do BB também incorporou uma análise mais rigorosa do risco de crédito tanto das instituições financeiras como das empresas. “Passamos a monitorar mais de perto o risco de crédito tanto de bancos como de empresas onde a Previ está exposta em debêntures”, disse o gerente de risco da fundação, José Reinaldo Magalhães.

Algorithmics vence concorrência
A empresa canadense Algorithmics venceu a concorrência para criar o software de gerenciamento de risco da Previ. A solução proposta chama a atenção por sua abrangência: serão desenvolvidos diversos módulos de risco, entre os quais se colocam o corporativo, as participações estratégicas, o passivo atuarial, os empréstimos a participantes e a carteira de imóveis. De acordo com o diretor de produtos de previdência da Algorithmics, Juan Zeballos, será elaborada “uma solução integrada, que abrangerá todos os aspectos que impactam no risco do plano”.
O trabalho deve durar aproximadamente um ano e servirá de parâmetro para a criação de uma modelagem padronizada de risco. Fruto de um convênio da Algorithmics com a Associação Brasileira de Entidades Fechadas de Previdência Fechada (Abrapp), esta solução padronizada será comercializada via Internet pela eRisk. Os clientes potenciais deste produto são os pequenos fundos de pensão, que possuem restrições orçamentárias e, por isso mesmo, não podem adotar soluções mais customizadas. “A Internet cria uma economia de escala, para se oferecer este tipo de serviço para fundações pequenas e médias”, disse Zeballos.
Hoje, já está no ar no site da eRisk o módulo-piloto de risco de mercado e análises de performance. Em seis meses, deve ser disponibilizado o módulo de passivo atuarial. Outros serão incorporados ao site à medida que for avançando o trabalho realizado pela Algorithmics na Previ.