Processo de consolidação das assets já começou | Para dirigentes ...

Edição 75

Qual o patamar mínimo de recursos capaz de viabilizar, hoje em dia, uma empresa de asset management? Essa pergunta tem freqüentado as rodas de conversas de importantes dirigentes do setor nos últimos meses, que entre uma reclamação e outra a respeito da contínua redução das taxas de administração das carteiras e fundos de clientes institucionais e do fim da cobrança de taxa de performance dos clientes de varejo, arriscavam-se a falar de um número mágico em torno de R$ 2 milhões, abaixo do qual o negócio de asset estaria inviabilizado.
As fusões e incorporações dos últimos meses foram, por assim dizer, a senha para que o tema viesse à tona com mais força. Primeiro foi o Santander comprando o Bozano, Simonsen no final do ano passado, juntamente com o Meridional; depois foi a vez do BBA e do Icatu Investimentos se fundirem numa única empresa de gestão, no início deste ano; e mais recentemente o Itaú incorporou a administração dos fundos do Matrix, o Unibanco comprou as operações do Credibanco e o Deutsche e o Dresdner anunciaram que iriam se fundir internacionalmente, incluindo suas operações no Brasil.
Com exceção da fusão internacional do Deutsche/Dresdner, esses negócios mostram que são justamente as empresas sem rede varejista as que têm maior interesse em acordos de fusões e aquisições. Na verdade, a rede de varejo funciona hoje como um canal privilegiado e rentável de vendas de fundos de investimento, pois as taxas de administração que o investidor de varejo paga, mesmo com a proibição da cobrança das taxas de performance, ainda são muito mais elevadas do que aquelas que paga o concorrido mercado dos investidores institucionais.
Calcula-se que as taxas de administração para esses grandes investidores estejam hoje entre 0,3% e 0,5%, incluindo as operações de renda fixa e renda variável. Uma empresas com R$ 2 bilhões sob gestão poderia obter, então, algo entre R$ 6 milhões e R$ 10 milhões de receita para pagar analistas e equipe comercial, investir em tecnologia e gastar com marketing. E seria uma conta apertada. Abaixo dessa espécie de Linha Maginot, riscada em R$ 2 bilhões de recursos, uma asset teria que operar sub-otimizada ou então encarar a perda de dinheiro na operação.
É o que muitas fizeram e ainda estão fazendo, pagando para tentar conquistar uma parcela significativa do mercado a médio prazo. Porém, como as taxas continuam a cair persistentemente e os custos crescem em razão do uso de tecnologias cada vez mais sofisticadas e das exigências das autoridades por procedimentos cada vez mais detalhados e caros, algumas assets já começam a rever a estratégia. “O processo de consolidação da indústria das assets é inevitável, e já começou”, sentencia Jorge Benjamin Rosas, presidente da UAM (Unibanco Asset Management). “Os bancos menores, tanto privados quanto estatais, são a bola da vez”.
Para Rosas, as asset com assinatura estrangeira demorarão mais a entrar nesse processo. Afinal, elas investiram bastante para chegar ao país, contrataram equipes dando a elas garantia de remuneração mais bônus de três anos, em média, e sabem que o negócio de asset apresenta um retorno lento em qualquer parte do mundo. Então, provavelmente, aguentarão mais. “Mas algumas delas, em algum momento, também vão jogar a toalha e encerrar o negócio ou buscar parcerias”, afirma Rosas.
Uma conta baseada no último levantamento feito pela Anbid, referente ao mês de janeiro deste ano, mostra que com as recentes consolidações apenas 9 instituições encontram-se acima da linha de R$ 2 bilhões em recursos de clientes institucionais. São elas: BB DTVM ; Bradesco; Itaú + Matrix; Unibanco + Credibanco; CCF Brasil; Icatu + BBA; Citibank; Safra; e Santander + Bozano, Simonsen. Significativamente, elas concentram 75% do volume de recursos dos fundos e carteiras dos fundos de pensão, seguradoras e previdência aberta. Outras 33 instituições ficam abaixo da linha de R$ 2 bilhões em recursos de institucionais, incluindo a fusão Deutsche + Dresdner, e dividem os 25% restantes do bolo.
Dessas 33 instituições com menos de R$ 2 bilhões em recursos de institucionais (algumas têm muitíssimo menos que isso), apenas 8 possuem redes de varejo a qual poderia socorrer sua rentabilidade. Exatas 25 outras têm menos de R$ 2 bilhões e não possuem rede de varejo. É nesse universo que estão as principais candidatas a fusões e aquisições.
De acordo com o presidente da UAM, um terço dos recursos que estão nas assets com menos de R$ 2 bilhões tendem a se concentrar nos próximos 18 a 24 meses, juntando-se às 9 empresas líderes ou criando novas assets de mais de R$ 2 bilhões. “Nós mesmos, no Unibanco, temos interesse em incorporar novas empresas, independente do processo de privatização do Banespa”, diz Rosas.
A compra do Credibanco, segundo ele, foi uma compra de oportunidade e não estratégica para o Unibanco. Como o Credibanco possuía R$ 630 milhões em recursos totais administrados, e o Unibanco R$ 13,9 bilhões em janeiro último, a compra não agregou muito em volume. “Mas trouxe um nicho importante, que eram as operações de repasse de BNDES, nas quais o Credibanco era líder”, explica Rosas.
Sem ter volume, a única forma de um gestor menor sobreviver de forma independente é se especializando em um nicho de mercado. “Não tem mais espaço para uma empresa de pequeno a médio porte atuar em amplo leque de produtos”, avalia Francisco Pinto, presidente da BBA Icatu Investimentos. “Ela terá que se especializar ou se consolidar”.
Essa é também a visão de Luiz Stuhlberger, diretor da Hedging-Griffo, uma asset de pequeno porte com foco na renda variável. “Os especialistas ainda terão seu lugar ao sol”, declarou Stuhlberger ao jornal Gazeta Mercantil. Mas ele faz a ressalva de que os custos da indústria estão crescendo, e isso dificulta a vida dos menores.
Pinto, do BBA Icatu, também estima que o mínimo necessário para uma empresa de asset sobreviver, sem ser especializada em algum nicho, é em torno de R$ 2 bilhões em recursos administrados. “O processo de consolidação será contínuo daqui para a frente, não vai estancar”, diz ele. “Por uns 2 ou 3 anos esse processo estará em curso”.
No caso do BBA Icatu Investimentos, além da busca de escala contribuiu para o acordo um relacionamento anterior já existente. O BBA e Icatu já tinham uma operação conjunta na área de corretagem e uma visão bastante semelhante do negócio. Quanto ao mercado em que atuam, 80% dos recursos dos Icatu e 50% dos recursos do BBA eram de clientes institucionais. Na nova empresa, que passa a administrar R$ 5,1 bilhões em recursos totais, 70% provêm de institucionais, 20% da área corporate e 10% da área private.
Para o analista de fundos da Austin Asis, Luis Miguel Santacréu, as fusões e aquisições podem elevar os custos das operações num primeiro momento, em função da integração de áreas, mas depois os custos caem e justificam o negócio. Foi o que aconteceu nas fusões bancárias, analisa ele. Hoje, as operações dos bancos que se juntaram são enxutas e mais baratas.
É o caso do Unibanco, que em meados da década de 90 absorveu o Nacional. Hoje, depois do processo de reestruturação que se chamou Unibanco 2000, a casa tem exatos 17 mil funcionários, mesmo número que tinha antes da absorção do banco da família Magalhães Pinto. Para os funcionários do Credibanco, cerca de 200, isso é uma boa notícia. “Já antes da compra, todas as áreas do Unibanco tinham objetivo de crescer, e isso estava nos orçamentos. O pessoal do Credibanco que não puder ser aproveitado nas suas funções originais, por superposição com funcionários do Unibanco, terá prioridade nas novas contratações”, afirma Rosas.
A empresa de asset do Unibanco fechou 1999 com R$ 13 bilhões em recursos administrados, um crescimento de 30% sobre o final de 1998. Para este ano, a projeção é de um crescimento de mais 30%, fechando com cerca de R$ 17 a R$ 18 bilhões.
No caso do BBA Icatu, as dispensas foram muito reduzidas, basicamente 10 pessoas, porque as operações de back-office do Icatu Investimentos, que eram feitas pelo Banco Icatu, vão passar à nova empresa, que já fazia essa operação para o BBA Capital, de forma separada do Banco BBA. Além disso, segundo Francisco Pinto, a união das duas casas resultou em perdas de clientes coincidentes, que eram poucos.
As famílias de fundos estão sendo mantidas separadas, pois ainda depende de um parecer do Banco Central. Depois desse parecer do BC, haverá um processo de fusão/incorporação dos fundos, explica Pinto. A mesma coisa no caso do Unibanco, que espera primeiro um parecer do BC. O Itaú está fazendo um processo de “due diligence” nos fundos do Matrix, que passarão a fazer parte da carteira do banco.