Previsc amplia o portfólio | Entidade eleva alocações em crédito ...

Muitas entidades fechadas de previdência complementar (EFPCs) que pensavam, no início do ano, em implementar estratégias de diversificação de carteiras colocaram os projetos em banho maria por conta da pandemia da Covid-19. A Previsc, fundo de pensão multipatrocinado ligado à Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), é uma exceção e em plena crise vem dado sequência à abertura do leque de aplicações.
“Por volta de 2017, percebemos que a redução da taxa Selic tinha caráter estrutural e se estenderia por um longo período. Tratamos, então de reformular nossas políticas de investimentos, até então fortemente centradas em aplicações em títulos públicos”, conta o diretor de investimentos Ricardo José Machado da Costa Esch.
A diretriz ganhou escala no ano passado. A entidade ampliou suas alocações em fundos de ações, passando de sete para dez fundos alocados, além de estrear em investimentos no exterior, com o aporte, em duas etapas, de R$ 27 milhões em dois fundos de ações estrangeiras. Somadas, ambas as iniciativas elevaram a participação da renda variável no portfólio de cerca de 16% para 22,83% e contribuíram para a rentabilidade consolidada de 14,85% no exercício passado.
“Nossos resultados na renda variável foram muito bons, tanto em gestão ativa (dois terços a carteira) quanto passiva, assinala Esch. Segundo ele, o melhor gestor da carteira alcançou um retorno de 56,07% enquanto o pior marcou 34%, superando em dois pontos percentuais o Ibovespa.
Apesar disso, neste ano, com a crise do coronavírus derrubando as cotações dos papéis negociados na B3, as carteiras de renda variável acumularam perdas de 39% no primeiro trimestre. “A desvalorização das ações reduziu a participação da renda variável em nossa carteira consolidada para 15% em março”, observa Esch.
Já em relação ao crédito privado, as apostas se intensificaram no último ano com a criação de um segundo fundo exclusivo ancorado em títulos de dívidas corporativas. Os gestores desses dois fundos realizaram aquisições de forma particularmente intensa no segundo semestre de 2019, quando houve uma onda de resgates de aplicações em fundos multimercados. “Gestores de muitos fundos tiveram de vender bons papéis a preços de banana. Não desperdiçamos as oportunidades”, diz Esch.
A história se repetiria neste ano, em fevereiro e março, quando a necessidade de liquidez gerada pela pandemia da Covid-19 provocou saques de R$ 11,1 bilhões dos fundos de crédito, obrigando diversas instituições a liquidar posições a qualquer custo. “Nesse período, nossos fundos exclusivos realizaram ótimas operações, de emissores com caixas em excelentes situações, ratings triplo A e remunerações na faixa de 4,80% a 5% acima da variação do IPCA”, conta o diretor de investimentos.
Como resultado, o crédito privado ganhou espaço no estoque de aplicações da Previsc. O patrimônio do maior fundo da casa no segmento, por exemplo, cresceu 161% para R$ 94 milhões, entre 31 de dezembro e 27 de abril, tomando espaço e recursos dos multimercados exclusivos, que apresentaram recuo, em igual período, de R$ 144 milhões para R$ 84 milhões.

A entidade, que contabiliza 37 patrocinadores, 19 planos de benefícios e cerca de 19 mil participantes ativos e assistidos, quer baixar a fatia da renda fixa tradicional em 11 pontos percentuais, para 55%. As reservas serão usadas para ampliar a renda variável e o crédito privado, além de fundos de investimentos imobiliários (FIIs) e de investimento no exterior.
“A intenção é montar uma carteira com cotas de fundos imobiliários específicos para investidores institucionais, com participações em shopping centers, lajes corporativas, armazéns e centros de distribuição”, observa Esch. “A meta é que essa opção responda por 5% do nosso portfólio.”
Percentual idêntico está traçado para os investimentos no exterior, que começaram no segundo semestre do ano passado. A EFPC planejava chegar a uma alocação de 3% nessa classe em dezembro, mas em decorrência do câmbio desfavorável só conseguiu alcançar 1,83% somando os dois fundos com os quais opera – um fundo de ações e outro de cotas de fundos de ações.
“O retorno da carteira de exterior foi excepcional: 8,09% em pouco mais de dois meses”, destaca Esch. Ele vem acompanhando atentamente a oscilação da taxa de câmbio para, assim que a cotação baixar, realizar novas incursões nos mercados externos.

Diversificação à parte, a manutenção dos elevados níveis de liquidez também é uma das prioridades da Previsc. O conceito ganhou especial relevância depois que, em 7 de maio último, um grupo de cinco patrocinadores obteve a chancela do conselho deliberativo da EFPC para suspender suas contribuições a cinco planos (ver reportagem nesta edição).