A Previ, maior fundo de pensão do país com investimentos de R$ 188 bilhões, planeja dar início, nos próximos meses a profundos ajustes em seu portfólio de participações em empresas, que em maio último alcançava a marca de R$ 29,6 bilhões. A intenção, anuncia o novo diretor da área, Denísio Augusto Liberato Delfino, é reduzir paulatinamente posições acionárias expressivas em um grupo de 33 companhias, nas quais a entidade ocupa assentos nos conselhos deliberativo e/ou fiscal, ou detém mais de 0,25% do patrimônio total.
“Queremos migrar, de forma absolutamente suave, de posições majoritárias para minoritárias e ampliar o leque de empresas e setores investidos. Esse processo, cuja implantação foi postergada em razão da crise causada pela pandemia da Covid-19, deverá ser retomado no segundo semestre desde que haja condições favoráveis de mercado”, comenta Delfino, que é funcionário de carreira do BB e assumiu o comando da diretoria de participações há pouco mais de um mês.
A estratégia de diversificação da Previ é ditada pelas características do plano onde está alocado o maior volume dessas fatias acionárias mais robustas, o Plano 1. O plano, o maior da modalidade de Benefício Definido (BD) do sistema, com investimentos de R$ 171,15 bilhões, conta com cerca de 7 mil participantes ativos, dos quais 70% já reúnem condições para se aposentar. “Se um número expressivo de participantes do Plano 1 tomasse essa decisão, seríamos obrigados a realizar alguns prejuízos para pagar benefícios, devido ao alto grau de concentração das participações”, assinala Delfino. “Para fazer frente a situações como essa, vale muito mais a pena deter 5% do capital de quatro empresas do que 20% de apenas uma.”
A boa e velha prática de distribuir os ovos em um número maior de cestas também tende a livrar a Previ de surpresas em termos de rentabilidade. Embora as participações tenham apresentado perdas menores do que a carteira de renda variável do Plano 1 nos cinco primeiros meses do ano (-15,15% ante -23,55%), o seu desempenho em 2019 deixou a desejar, com uma desvalorização acumulada de 10,14% até novembro. O desafio será encontrar opções com volumes de negociação ao menos próximos de algumas das principais ações presentes no estoque da casa, casos de Vale, BRF, Banco do Brasil e Petrobras. “Há, de fato, poucos papéis no mercado doméstico com volumes expressivos de liquidez diária. Mas a bolsa deve ganhar novas empresas nos próximos anos”, diz Delfino.
Além de outras companhias abertas, a entidade também pretende expandir o leque de setores presentes em sua carteira de participações, hoje dominado pelos ramos de energia, mineração, financeiro, bebidas e alimentos, petróleo, gás e petroquímico. Algumas opções atualmente em análise são empresas de menor porte com perfil inovador que fazem planos de abrir capital a curto ou médio prazo. Outra vertente contempla negócios ligados à saúde, nicho no qual a Previ já marca presença com participações na Notre Dame Intermédica, Raia-Drogasil e na HapVida Participações, a maior operadora de planos de saúde das regiões Norte e Nordeste.
“O setor de saúde ganhou gás durante a pandemia, com o desenvolvimento de ferramentas como a telemedicina, e tem tudo para agregar graus ainda maiores de inovação às suas operações”, diz Delfino. Ele evita traçar metas quantitativas e temporais a respeito da estratégia de diversificação da entidade. “É difícil traçar números e prazos, mas uma coisa é certa: a diversificação da carteira de participações da Previ tende a aumentar.”
Outra diretriz que norteia as participações da casa é o conceito ASGI – acrônimo de Ambiental, Social e Governança ao qual a Previ adicionou, em 2018 por conta própria, o “I” de Integridade. A entidade, que participa junto com Petros, Valia e Real Grandeza do grupo de trabalho de Políticas de Integridade nos Negócios, deve apresentar ainda neste ano recomendações sobre condutas ambientais às empresas investidas pelos 4 fundos de pensão.
Carteira de peso | ||
Algumas das principais fatias detidas pela Previ em companhias abertas |
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Empresa | Participação do Plano 1 (em %) |
Participação do Previ Futuro (em %) |
Neoenergia | 30,29 | 0,00 |
Tupy | 25,88 | 0,00 |
Vale | 15,34 | 0,18 |
Fras-le | 12,41 | 0,00 |
BRF | 9,12 | 0,26 |
Springs Global | 8,41 | 0,00 |
Banco do Brasil | 4,61 | 0,15 |
Petrobras Dist. | 3,41 | 0,17 |
IRB | 2,39 | 0,38 |
Ambev | 1,27 | 0,00 |
Fonte: Previ |