Previ aposta em estruturados | Carteira de private equity do fund...

Dan Conrado, da PreviJonas Gomes, da Bozano InvestimentosEdição 259

 

A Previ pretende ampliar o tamanho da carteira de investimentos estruturados nos próximos cinco anos. A ampliação será realizada tanto no Plano 1 de benefício definido, que passará dos atuais 0,6% para algo entre 2% a 3%, quanto para o Previ Futuro, de contribuição definida, que saltará de 1,8% hoje e alcançará até 5%. O tamanho atual da carteira de estruturados da Previ, considerando os aportes já realizados em fundos de participações somam R$ 1,16 bilhão. Se fossem considerados os novos percentuais hoje, a carteira saltaria para mais de R$ 3 bilhões.

O aumento da carteira foi definido na política de investimentos da Previ, aprovada para os próximos cinco anos e revisada anualmente. A política foi aprovada pelo conselho deliberativo e já está valendo para o ano de 2014. A decisão coincide com o forte desempenho desta carteira no ano passado, que alcançou o melhor desempenho nos dois planos da Previ (ver abaixo). O bom resultado, porém, não é o fator decisivo para a nova orientação da política de investimentos.
“A boa rentabilidade do ano passado da carteira de estruturados não necessariamente vai se repetir nos próximos anos. O mais importante da ampliação dos estruturados é a oportunidade de promover maior diversificação setorial”, diz André Tapajós, gerente executivo de investimentos estruturados e estratégia da Previ. Ele está ocupando interinamente o cargo de diretor de investimentos no lugar de Renê Sanda que se aposentou em março passado. A patrocinadora ainda não havia escolhido o novo titular até o fechamento desta edição.
A entrada em private equities, através de aplicações em fundos de investimentos em participações é visto como uma oportunidade para promover tal diversificação. “Queremos priorizar setores que apresentam baixa representatividade em Bolsa, que tenham correlações negativas com nossa carteira de renda variável. É uma forma de reduzir a volatilidade de nossas carteiras”, diz Tapajós. Um dos exemplos de setores é o de tecnologia. O fundo de pensão já possui alocação em um único Fip de tecnologia, o Fipac II, que conta com gestão da asset DGF. Agora está olhando para outros do setor.
Outros exemplos são os setores de saúde e educação, que também possuem baixa representação na Bolsa local. “Saúde é um dos segmentos que está no radar. Não estamos olhando para hospitais propriamente, mas sim para laboratórios e empresas de serviços de imagem”, diz o gerente de investimentos. No caso de educação, ainda que as empresas do setor listadas em Bolsa estejam aumentando nos últimos anos, a Previ pretende continuar procurando boas oportunidades de investimento através de Fips.
O fundo de pensão já possui um caso bem sucedido de investimento em private equity focado em empresas de educação. Trata-se da aplicação no Fip BR Educacional (ver box), que conta atualmente com gestão da Bozano Investimentos. A Previ investiu R$ 35 milhões em 2010 e garantiu um alto retorno do capital investido no ano passado. O Fip tem propiciado alta rentabilidade desde 2010, quando se beneficiou do IPO (abertura de capital em Bolsa) da Abril Educação. No ano passado, houve o IPO de outra investida, a Anima. “Estamos satisfeitos com o retorno do fundo de educação, que já está na fase de desinvestimento”, diz Tapajós.
O caso é interessante também pelo incentivo à abertura do capital de empresas fechadas. “Outro objetivo de investir em private equity é o incentivo ao desenvolvimento do mercado de capitais, com o aumento do número de IPOs”, explica Tapajós. Isso tem acontecido com as empresas de educação, que já somam seis companhias listadas na BM&FBovespa, duas das quais investidas pelo BR Educacional.
Ele revela que a Previ está olhando para outros fundos do setor de educação. “Investir em saúde e educação vai na linha da diversificação setorial. São setores que têm se beneficiado com o fortalecimento do poder de consumo das classes C e D”, explica o gerente de investimentos da Previ. Ele reforça que na mesma linha de raciocínio, também faz sentido procurar opções de private equity que investem em empresas de varejo. Um dos exemplo, que já faz parte da carteira da previ, é o 2bCapital. É um fundo de R$ 320 milhões que conta com gestão do Bradesco e do BES (Banco Espírito Santo). O fundo prioriza dois temas de investimento: empresas de mid-market e capital de crescimento.
Outro tipo de Fip que está no radar da Previ são os fundos de base imobiliária da área residencial. Os Fips de infraestrutura também não estão descartados, ainda que o veículo principal de investimento neste setor é a Invepar. Esta empresa é controlada pelos fundos de pensão e desenvolve empreendimentos como o do Aeroporto de Guarulhos.
A tendência de aumentar a diversificação dos setores de investimentos da Previ também coincide com a meta de reduzir o tamanho da carteira de renda variável da fundação. Com uma das maiores exposições em renda variável do setor, 57% do Plano 1, e 40% do Previ Futuro, o fundo de pensão pretende ir reduzindo gradualmente alocação nesta modalidade. Com isso, as demais carteiras, como as de imóveis e de private equity, irão ganhando maior espaço.
A redução da renda variável também tem a ver com a necessidade de pagamento dos benefícios aos assistidos da Previ. Em 2013, foram pagos R$ 9,2 bilhões em benefícios aos participantes. Para tornar a carteira mais líquida, o fundo de pensão terá que ir se desfazendo das participações diretas em empresas, que representam a maior parte de sua carteira de renda variável. Neste caso, os recursos teriam que migrar para ativos mais líquidos, como por exemplo os fundos de renda fixa.
“Temos que gerar maior liquidez para nossas carteiras, principalmente do Plano 1 que é mais maduro, mas atualmente ainda temos uma situação confortável”, revela Tapajós. Já para o Previ Futuro, que é um plano mais novo com menor número de assistidos, as alocações podem ter um perfil menos líquido. Essa é uma das razões da exposição dos private equities até o limite de 5% da carteira, bem maior que a política do Plano 1.
Campeã em 2013 – A carteira de estruturados da Previ alcançou as melhores rentabilidades do ano passado para os dois planos de benefícios da fundação. No Plano 1 a rentabilidade líquida foi de 20,46%; já no Previ Futuro alcançou 30,74%. Ambos os resultados foram bem acima de outras carteiras, como a de renda fixa, que ficou com 7,96% no Plano 1, e 5,42%, no Previ Futuro. Mesmo as carteiras de imóveis, que estão registrando altas rentabilidades nos últimos anos, ficaram abaixo do resultado dos investimentos estruturados (ver quadro).
No resultado global, a rentabilidade média da Previ ficou em 7,19%, abaixo da meta atuarial, de 10,84%. “Comparando a Previ com outros fundos de pensão e com o próprio mercado, o resultado foi bom. Mesmo em um ano de crise, tivemos um aumento de R$ 3 bilhões no patrimônio no último ano, superando a marca de R$ 170 bilhões”, diz Dan Conrado, presidente da Previ. O resultado abaixo da meta fez com que a Previ tivesse que suspender, a partir do início de 2014, a distribuição do superávit, através do BET (Benefício Especial Temporário). Isso ocorreu porque o superávit total do Plano 1 ficou abaixo de 25% das reservas matemáticas.
Seleção de gestores – A Previ está em fase adiantada de seleção de três novos fundos de participações. Até o final de 2014, esse número deve chegar a 5 novos Fips. Para selecionar os produtos, a fundação prioriza critérios como o currículo da equipe de gestores e a tese e investimentos da asset. “A análise da equipe é um ponto central, sua capacitação e experiência na atuação de um setor específico”, explica Tapajós. Outros fatores como o histórico da taxa de retorno e os projetos no pipeline também são levados em consideração, mas nenhum deles é mais importante que o histórico da equipe.
“A experiência da equipe é importante em qualquer modalidade de investimento, mas ganha especial relevância nos fundos de participações, porque é necessário ter conhecimentos muito específicos da área de atuação”, diz o gerente da Previ. Outro ponto importante é o tamanho do Fip, que no caso da Previ, tem que atingir o montante mínimo de R$ 300 milhões. Para fundos acima desse valor, a fundação costuma trabalhar com o tíquete de até R$ 25 milhões. “É uma questão de tamanho, a Previ é muito grande e não vale a pena olhar para fundos muito pequenos”, explica Tapajós.
BR Educacional tem retorno de 35% anual
Um dos fundos de participações com melhor resultado na carteira da Previ é o BR Educacional, que conta atualmente com gestão da Bozano Investimentos. Quando o fundo de pensão começou a investir no fundo em 2010, o produto ainda era gerido pela BR Investimentos, asset comandada pelo economista Paulo Guedes. A partir do ano passado, foi realizada uma fusão entre três assets, a Mercatto, a Trapezus e a BR, para formar a Bozano Investimentos, controlada pelo veterano empresário Júlio Bozano.
O fundo fechou a captação em 2009, alcançando R$ 360 milhões, com recursos de apenas sete investidores – o BNDES e seis grandes fundos de pensão, entre elas a Previ e a Funcef. Já no ano seguinte, participou do Ipo da Abril Educação, uma das empresas investidas. O mesmo ocorreu com a Anima Educação, uma empresa que controla universidades mineiras. A empresa realizou a abertura de capital no segundo semestre do ano passado. Uma terceira investida é a Affero, a maior empresa de treinamento corporativo do mercado brasileiro. O Fip participou na aquisição da Lab SS pela Affero, que resultou no surgimento da Affero Lab, que mantém o capital fechado.
O Fip já promoveu a devolução de parte dos recursos aos cotistas. “A rentabilidade média anual é de 35% e os recursos desinvestidos representam mais de três vezes o capital investido”, informa Jonas Gomes, da Bozano Investimentos. Ele não quis informar o valor dos recursos já devolvidos aos cotistas. A previsão é que o fundo complete todo a fase de desinvestimento até meados de 2015. “Não temos pressa para encerrar o fundo. Temos vários ativos em bolsa e vamos esperar o melhor momento para sair das posições”, diz Gomes, em referência às ações da Abril Educação e da Anima que ainda permanecem no fundo.
No caso do BR Educacional, a equipe liderada por Paulo Guedes tem alcançado forte reconhecimento no mercado de educação. “Desde o início decidimos focar no setor de educação, no qual víamos uma excelente perspectiva de crescimento. Isso foi em 2008 e 2009, quando poucos tinham a mesma percepção”, diz Gomes. Hoje a educação é uma das vedetes do mercado de capitais, com seis empresas com capital aberto em bolsa. Ele destaca a fusão da Kroton com a Anhanguera que está criando uma das maiores empresas de educação do mundo.
Atualmente, Jonas Gomes e Paulo Guedes participam do conselho de administração da Anima. No caso da Abril Educação, o BR Investimentos tem direito a uma vaga no conselho, que é ocupada por Paulo Guedes. “É importante influenciar na gestão das empresas investidas. Não buscamos o controle das empresas, mas procuramos participar da gestão na figura de minoritários”, explica Gomes.
A Bozano Investimentos está em fase de captação de um segundo Fip de educação. É o BR Educacional II, que pretende captar R$ 200 milhões em uma primeira fase. Depois, o fundo pretende abrir nova captação para alcançar entre R$ 400 milhões e R$ 800 milhões.