Preparado para crescer | Instalado em novo endereço, num prédio e...

Edição 127

Uma pesquisa realizada a cerca de dois anos pelo Banco Santos entre a sua clientela, para conhecer os pontos mais valorizados por ela em uma instituição financeira, mostrou que a segurança dos investimentos ocupava o primeiro lugar. A pesquisa também pedia aos entrevistados que escolhessem, entre vários ícones, aquele que melhor expressasse a sua noção de segurança. Policiais armados, veículos blindados, caixa forte, ouro, dólar? Nada disso! Na opinião dos entrevistados, o ícone que melhor expressava a noção de segurança de uma instituição financeira era um prédio! Um sólido prédio!
Ao tomar conhecimento do resultado da pesquisa, o presidente e principal acionista do banco, Edemar Cid Ferreira, franziu o cenho, preocupado. Era o pior resultado que poderia esperar, afinal o Santos tinha um endereço modesto, ocupando alguns andares de um prédio comum localizado numa rua transversal à avenida Paulista, em São Paulo. Espremido entre vários prédios iguais, com uma entrada escondida, jamais ele transmitiria aos clientes uma sensação de segurança e solidez.
Aquela noite foi longa para o presidente do Santos. Nos dias seguintes ele foi amadurecendo a idéia de transferir a sede do banco para um prédio que pudesse corresponder àquilo que, na percepção dos clientes, era a imagem da solidez. Buscou a construtora JHS F e propôs que ela contruísse uma nova sede para o banco, sob encomenda, com contrato de locação garantido por um longo prazo. A JHS F topou a parada.
Em meados deste ano o Santos mudou-se para a nova sede, um prédio de oito andares em estilo neoclássico localizado na Avenida Marginal de São Paulo, por onde passam cerca de 300 mil veículos por dia, nos dois sentidos. Além disso, o novo prédio permite uma bela vista do rio Tietê e do Jóquei Clube. Claro que o Tietê não é o Sena, mas visto das amplas e razoavelmente distantes janelas de um prédio, forma uma bela paisagem.
A entrada do edifício é imponente, com manobristas para receber e estacionar o carro dos visitantes. O hall de entrada tem pé direito alto, recepção discreta e rápida, e catracas que destravam a partir da leitura das impressões digitais dos funcionários nos sensores. Os andares do prédio são todos simétricos, sem paredes, divisórias ou salas privativas, com executivos e diretores dividindo os mesmos espaços em grupos de mesas padronizadas. As paredes, como não poderia deixar de ser, são todas ocupadas por obras de arte da coleção particular de Edemar, que vão de fotos famosas a documentos históricos e quadros de pintores brasileiros.
A sua coleção de arte, que começou a formar a partir dos 11 anos por influência da mãe, uma pintora amadora, é impressionante. São 1.500 documentos históricos, 800 mapas, 2 mil fotos e centenas de pinturas e esculturas. “Venho acumulando isso há mais de 40 anos”, conta Edemar. As obras de arte espalham-se por todo o banco, desde o saguão de entrada onde foi montada uma espécie de galeria, que hoje abriga a sua coleção de mapas, até as paredes dos banheiros. A foto de uma sensual modelo, de calcinha de renda preta e olhar provocante, decora sugestivamente um dos banheiros masculinos do 8º andar, demonstrando a preocupação com os mínimos detalhes.
Ele acha que, com isso tudo, conseguiu entregar aos clientes um prédio que transmite a sensação de segurança e solidez, além de refinamento. Para ele, isso é fundamental para permitir ao banco continuar na sua trajetória de crescimento de cerca de 20% ao ano como vem conseguindo desde que estreou, em 1994, originado de uma corretora criada na cidade de Santos 25 anos antes.
No último balanço publicado pelo Santos, referente a junho último, o patrimônio total estava em R$ 4,48 bilhões, o patrimônio líquido em R$ 364 milhões e os empréstimos em R$ 1,71 bilhão. Na posição de final de outubro, segundo Edemar, esses valores correspondiam a R$ 5 bilhões, R$ 400 milhões e quase R$ 2 bilhões, respectivamente. O total de recursos administrados, que era de R$ 450 milhões em meados do ano, saltou para a casa do R$ 1 bilhão.

Middle Market – A próxima tacada do Santos será redirecionar a atuação do banco das pequenas e médias empresas para o middle market, uma faixa que cobre das empresas médias às médias grandes e cujas atenções nesse momento estão grandemente voltadas para as possibilidades de exportação. “Achamos que a solução para o Brasil é exportar mais”, diz Edemar. “E queremos ajudar as empresas brasileiras a realizarem essa missão”.
Para tanto, o banco está fortalecendo suas áreas de mercado internacional e mercado de capitais, de forma a oferecer aos clientes linhas de crédito nacionais e internacionais para exportação, assim como alternativas de capitalização que vão da simples emissão de debêntures até o lançamento de ADRs e Bonds internacionais. É um mercado que esteve relativamente parado no último ano, devido à instabilidade da economia brasileira, mas que deve voltar a aquecer-se com a perspectiva de retomada do crescimento econômico, avalia Edemar.
A busca de soluções para essa faixa de mercado nessa área envolve também outras saídas, como parcerias com grandes compradores estratégicos para fortalecer a empresa local. Hoje, as grandes empresas internacionais de commodities agrícolas são as tradings internacionais, mas poderiam ser empresas locais fortalecidas por associações com compradores estratégicos nas áreas de soja, milho e carne, por exemplo. “O Brasil vive nas mãos das tradings, podemos mudar isso trazendo sócios estratégicos para as exportadoras, que fortaleceriam sua estrutura de capital, ajudariam na colocação dos produtos e até no eventual lançamento de ADRs, se fosse o caso”, analisa Edemar.
O crescimento da área de mercado de capitais é algo que vem sendo esperado pelos analistas há anos, a partir da percepção de que, com a retomada econômica, as empresas não terão como alavancar novos projetos baseadas apenas em financiamento bancário. Cada vez mais elas vão recorrer ao mercado de capitais para financiar esses projetos, através da colocação de títulos ou ações. Para os investidores de longo prazo, esses papéis são a saída para aumentar a rentabilidade das suas carteiras quando as taxas de juros finalmente caírem, o que se espera que comece a ocorrer já no ano que vem.

Poupança interna – Além de direcionar o banco para essas novas áreas, Edemar está otimista com as promessas do novo governo de que irá incentivar a formação de poupança interna de longo prazo. “O futuro está no desenvolvimento da poupança interna”, diz. “Os sinais do governo, no sentido de fazer a reforma da previdência, são muito animadores”.
O Santos está apostando que, com a reforma da previdência, os institutos de previdência de estados e municípios, chamados de regimes próprios, podem ter um crescimento significativo. Essa tem sido uma das principais áreas de atuação do banco nos últimos meses, na área de previdência fechada, tanto que ganhou parte da gestão da carteira da Amuprev, o consórcio previdenciário que reúne os municípios pernambucanos. O banco tem mandado representantes comerciais à maioria dos encontros e reuniões desse sistema.
O Santos também está apostando no crescimento da previdência aberta, com a criação de planos PGBL e VGBL, tanto individuais como empresariais. O relacionamento com o middle maket, assim como a recém criada área de clientes private (sob o comando do ex-diretor comercial do Opportunity, Celso Portásio) formam uma base promissora para o desenvolvimento desses novos produtos do banco, avalia Edemar.
Entretanto, esses produtos ainda estão engatinhando no banco. No final de junho passado, dos R$ 450 bilhões sob gestão, R$ 300 milhões eram provenientes de investimentos de fundos de pensão, o seu principal nicho de atuação da área de gestão de recursos.

Tecnologia – Nos últimos anos, o banco tem enfatizado o binômio inteligência e tecnologia ao lado de sua logomarca. Para Edemar, essa é base estratégica do crescimento do banco, que aposta em investimentos tecnológicos e em pessoal qualificado para crescer.
Os investimentos em tecnologia permitiram a criação da empresa E-Finance, que além de desenvolver soluções próprias para as necessidades internas do banco também vende serviços para terceiros, tendo sido a responsável pela montagem do sistema que roda o novo Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB). Também é da E-Finance a solução das senhas para ingresso em ambientes restritos através de impressão digital, a qual é utilizada não só nas catracas de entrada do prédio mas também nos ambientes que rodam os sistemas de informática do banco.
Sobre a contratação de funcionários, Edemar é taxativo. “Não trabalhamos com trainees, contratamos apenas o que o mercado tem de melhor, com pelo menos um curso de MBA”, diz. “Não temos tempo a perder, queremos crescer rápido e para isso precisamos dos melhores profissionais”.