Edição 263
Para minimizar riscos em suas carteiras de investimento, os fundos de pensão brasileiros passam a adotar cada vez mais estratégias de alocação em empresas com boas práticas de governança e responsabilidade ecossocial. O chamado ESG (Environmental, Social and Governance) são os princípios fundamentais defendidos pelo PRI – Principles for Responsible Investment, que as fundações seguem. O PRI, por sua vez, é uma rede internacional de investidores que trabalham juntos para colocar os princípios de investimento responsável em prática.
Para aprimorar essa prática, algumas entidades fazem planejamento com gestores terceirizados e na gestão interna, enviando questionários às empresas investidas ou potenciais abordando tópicos específicos sobre responsabilidade ecossociais, ou em uma estratégia mais agressiva, trabalham com carteiras exclusivamente sustentáveis, como é o caso da Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, signatária do PRI desde 2010. De acordo com Adriano Suzarte, gerente de operações financeiras da Funcef, a área de renda variável da fundação implementou em 2012 a estratégia com a contratação de três gestores de fundos de investimento em ações (FIA) com mandato exclusivo em governança e sustentabilidade. “O principal pré-requisito é que o gestor tivesse uma avaliação pró-ativa, levando em consideração os conceitos do PRI”, explica Suzarte. Os escolhidos foram Santander, BB DTVM (Banco do Brasil) e Caixa Econômica Federal.
Suzarte diz ainda que essa estratégia não impede que outros gestores também sigam esses princípios, mas a escolha deles não será exclusivamente baseada nisso, como foi o caso dos três citados. “Para esses três, seguir os princípios são critérios fundamentais. Não selecionamos gestores que são passivos ao Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE); queremos uma gestão ativa que faz mais do que replicar o ISE”.
Já no lado da renda fixa, a fundação seleciona gestores responsáveis por propostas de investimento e, ao escolher as companhias para receberem o aporte, devem aplicar um questionário sobre políticas de responsabilidade socioempresarial e socioambiental. “O questionário é levado em consideração na hora do desembolso”, salienta Suzarte. As carteiras que são geridas internamente na fundação levam em consideração a política de investimentos.
Os princípios ESG estão inerentes na avaliação da fundação e, dependendo da avaliação da empresa, os fatores são ponderados, conforme explica Suzarte. “Para uma empresa do setor de agronegócio, o princípio ambiental tem um peso maior. Para uma empresa financeira, é a governança”. A política interna da Previ é não investir em indústrias de tabaco e armas.
Governança – No âmbito das melhores práticas, a Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, começou com um código de governança. A ideia básica é incentivar as empresas nas quais têm participação acionária a adotarem melhores práticas de governança corporativa. “Incentivamos as empresas a seguirem esse modelo de governança e procuramos fazer com que as empresas respondam a questões para saber no que podem se aperfeiçoar”, destaca Marcel Barros, diretor de seguridade da Previ.
Os conselheiros da fundação são orientados e preparados para agir desta forma dentro das empresas, explica Barros. “Preparamos os conselheiros para que eles garantam que as empresas sigam essas questões de sustentabilidade”, salienta. “Se uma empresa respeita as normas, fica menos sujeita a sofrer penalidade e maximiza seus resultados. Além disso, a sociedade olha uma empresa responsável ambientalmente com mais valor, e isso gera mais resultado”.
A Previ também possui estratégias de pré e pós-investimento levando em consideração os princípios ESG. No pré-investimento, Barros explica que é aplicado o chamado filtro negativo e filtro positivo. “Definimos alguns setores nos quais não vamos investir, como tabaco. Temos os filtros positivos também, ou seja, se a empresa priorizar questões socioambientais, se o modelo de governança for adequado, etc., ganha pontos”.
No pós-investimento, a fundação procura fazer com que a empresa se engaje nos princípios de investimento responsável, com relatórios para dar mais transparência. “Avaliamos se as empresas estão em linha com o PRI. Estamos também tentando desenvolver uma metodologia quantitativa para saber a aderência aos princípios, por exemplo, quantificar autuações na empresa, etc.”, destaca Barros.
Na renda variável, a Previ busca empresas bem posicionadas no Ibovespa, separando por setores da economia. “Não seguimos necessariamente o ISE, buscamos empresas que seguem aqueles princípios, previsto que tenha responsabilidade socioambiental”, salienta o executivo.
Na hora de medir os resultados dessas estratégias, a fundação conta com o feedback dos relatórios e dos próprios conselheiros. “Empresas que dificilmente se envolvem em problemas jurídicos e questões ambientais já são empresas com menor risco. Passamos aos conselheiros algumas orientações e o fato da não ocorrência de problemas nos leva a crer que fizemos o trabalho corretamente”, ressalta Barros.
Metodologia em desenvolvimento – Signatária do PRI há três anos, a Fundação Cesp (Funcesp), fundo de pensão da Companhia Energética de São Paulo, possui um grupo de investimentos onde são avaliadas as principais ferramentas para introduzir as questões de ESG na metodologia de investimentos da entidade, ou seja, colocar a questão social, ambiental e de governança no modelo de avaliação. “Esse é um modelo ainda em curso que não foi implementado por uma questão operacional”, explica Paulo de Sá, gerente executivo de renda variável da Funcesp.
Na avaliação dos investimentos, a fundação separa as empresas por setor e discute com analistas para saber quais são os itens a serem considerados de acordo com os princípios de ESG. “O setor financeiro é pouco exposto aos princípios ESG, mas mineração e siderurgia, por exemplo, são muito. O nosso grupo busca um modelo para introduzir o ESG na avaliação das ações. Se descobrimos que uma empresa da bolsa corre algum risco de desvalorização por conta de falhas nesses princípios, avaliamos”, destaca Sá.
O executivo explica ainda que a fundação está montando um seminário para passar os aspectos de sustentabilidade para outras áreas, como de renda fixa e imóveis. “Dentro de renda variável, todos os participantes estão no contexto de sustentabilidade. Colocamos na nossa norma que gestores e corretoras que trabalharem conosco e trabalharem com esses princípios, são privilegiadas. E montamos um comitê de sustentabilidade”.
América do Sul em destaque na pesquisa do PRI
Anualmente, o PRI encaminha aos signatários um questionário para responder como está a perspectiva do trabalho da organização, se o papel que o PRI desempenha está adequado, se as orientações estão dentro do que os signatários esperam, etc. Em agosto, a diretora da iniciativa, Fiona Reynolds, esteve no Brasil para um workshop no qual foi apresentado o resultado dessa pesquisa.
Numa perspectiva geral, os pontos com maior satisfação foram sobre o papel do PRI na promoção do investimento responsável, o engajamento dos signatários e a satisfação geral com a iniciativa. Já os pontos que precisam de aperfeiçoamento incluíram comunicação e suporte à implementação dos princípios, governança do PRI e trabalhos em rede, eventos e engajamento colaborativo.
Além disso, os resultados dos signatários da América do Sul foram acima da média dos resultados globais em todos os quesitos da pesquisa. As características que se destacaram na avaliação foram os trabalhos em rede, eventos e engajamento colaborativ, e a comunicação e suporte à implementação dos princípios.
Marcel Barros, que também é representante da América Latina no conselho de administração do PRI, explica que estão sendo discutidas as questões para melhorar a governança interna do PRI. “Os signatários esperam ter uma orientação para realização de investimento responsável. Para isso será selecionado um representante no Brasil”, diz Barros.