Porque a Sasse interessa à concorrência | Entre outras coisas, po...

Edição 76

A venda de parte das ações da Funcef na Sasse Caixa Seguros, quarta maior seguradora do país em volume de reservas, deve deflagar uma guerra entre os interessados. Com 50,75% das ações da Sasse, a Funcef precisa reduzir para 20% ou menos sua participação na empresa, para enquadrar-se na legislação de investimentos das entidades fechadas de previdência. A formatação de venda da Sasse está sendo feita pelo banco de investimentos Goldman Sachs. “O Goldman Sachs está preparando 8 cenários para a venda, baseados na experiência nacional e internacional. Cada um deles leva a um preço diferente”, diz o presidente da Funcef, Edo de Freitas.
As vantagens de ter parte da seguradora que já acumula uma carteira de R$ 1,2 bilhão em ativos, e ligada ao segundo maior banco do país em ativos são evidentes. “Certamente deve ser um grande negócio, porque existem pouquíssimas seguradoras disponíveis no mercado com um canal de distribuição do porte da Caixa”, opina José Rubens Alonso, sócio da KPMG responsável pelo setor de seguros.
O lucro da Sasse em 99 foi recorde, de R$ 90,2 milhões, representando um salto de 144% sobre o exercício anterior. Embora a maior parte disso venha de receitas financeiras, o balanço da companhia mostra percentuais de crescimento de três dígitos na maior parte dos segmentos nos quais atua (ver tabela).
Segundo fontes do mercado, os principais interessados são seguradoras internacionais que buscam uma oportunidade de entrar no mercado brasileiro. No âmbito nacional, a candidata mais forte seria a Icatu Hartford, que já tem uma participação de 24,5% na Federal Capitalização, subsidiária da Sasse nesse segmento. Para Carlos Trindade, presidente da Icatu Hartford Seguros, qualquer companhia teria interesse em analisar a compra da Sasse, inclusive a sua. “O fato de sermos parceiros já mostra que valorizamos a instituição. Certamente vamos olhar com carinho se ela for apresentada ao mercado”, disse.

Controle – De acordo com especialistas do setor de seguros, o cenário mais provável para a Sasse é a venda do controle acionário da companhia, tanto que o governo já acenou com a possibilidade de se desfazer de parte ou totalidade de sua participação de 48,206% na Sasse. Além de agregar valor à operação, uma vez que o mercado paga o chamado ‘prêmio pelo controle’ nas operações de fusões e aquisições em geral, no mercado segurador é pouco comum o comprador aceitar a condição de minoritário. “Em geral, quem entra nesse tipo de negócio precisa pelo menos ter a perspectiva de que vai poder aumentar sua participação no futuro”, diz o consultor Jorge Maluf, da Booz-Allen.
As vendas da Sasse cresceram no ano passado, em comparação a 98. “A nova diretoria da Caixa adotou uma postura mais empresarial em 99, com fixação de metas e objetivos, buscando também a melhoria dos serviços prestados”, comenta o presidente da seguradora, Pedro de Freitas. Segundo ele, os melhores resultados foram obtidos nos segmentos de capitalização e previdência, sub-explorados pela Caixa. Na capitalização, as vendas cresceram 143,8% e na área de planos de previdência, 370,7%.
A seguradora, que já obteve assinatura do ‘contrato de fidelização’ por parte da CEF, comprometendo-se a distribuir com exclusividade os seus produtos na rede, criou a Sasse Vida e Previdência no ano passado, para atuar no ramo de previdência. Segundo especialistas, isso adiciona valor à empresa.

Prevhab – Um dos fatos que alavancaram a Sasse no mercado de previdência foi a absorção da carteira de aposentados do fundo de pensão do extinto BNH, a Prevhab, que projetou a Sasse repentinamente para a 5ª posição do ranking. Com a extinção do BNH, no final dos anos 80, a Caixa Econômica Federal teve de absorver seu passivo previdenciário, optando no final de 98 por transferir os funcionários ativos para a Funcef e os aposentados para um fundo da Sasse – que hoje detém reservas no valor de R$ 692,3 milhões.
Tanto o presidente da Funcef como o da seguradora negam que haja alguma relação entre a transferência dos aposentados do BNH e a intenção de valorizar a Sasse para vendê-la em melhores condições. A operação com a Prevhab praticamente não gera lucros, segundo Pedro de Freitas.
Quem levar a Sasse ganhará, ainda, um forte relacionamento com governos estaduais e prefeituras, que estão em meio ao processo de criação de fundos previdenciários, e por isso constituem um dos filões mais promissores desse mercado. A seguradora já administra os passivos de 5 estados e cerca de 70 municípios de médio porte.

Passivo na origem
A participação de 50,75% da Funcef na seguradora Sasse tem origem em sua criação, em 1977, quando ainda não existiam limites de investimentos para fundos de pensão. Essas ações foram repassadas à Funcef pela patrocinadora como forma de integralizar as reservas constituidoras da fundação, a qual já nasceu com um imenso passivo atuarial herdado da antiga Sasse – que na época era uma caixa de assistência aos funcionários da CEF.
Junto com os benefícios da antiga Sasse, entre os quais previdência e pensão por morte, a Funcef absorveu também a gestão dos benefícios, o que tornou-se a base para a criação de uma seguradora que já nasceu administrando alguns benefícios remanescentes, como seguro de vida.
Posteriomente, com a elaboração de uma série de regras de investimentos para fundos de pensão, a Funcef ficou desenquadrada. A situação ficou pendente até 1995, quando o Conselho de Gestão de Previdência Complementar permitiu que a entidade mantivesse sua participação na seguradora, em caráter excepcional, para desfazer-se dela num momento mais favorável. “A espera foi acertada, porque agora vamos fechar negócio num momento em que ela apresentou lucro recorde”, diz Edo de Freitas.