Edição 367
Os planos família têm se tornado uma alternativa cada vez mais atrativa para os fundos de previdência. Atualmente, 43 das 236 fundações ligadas à Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp) possuem esse tipo de plano. E a expectativa é de que esse número aumente.
“O plano família é um instrumento de fomento muito forte. A previdência privada tem crescido muito nesse sentido, e a gente tem convicção de que esse é mesmo o caminho. Temos de oferecer alternativas de crescimento financeiro também para quem não tem vínculo formal de emprego”, afirma o presidente da Abrapp, Jarbas de Biagi.
Em quase 10 anos, o plano família viu seu público crescer em mais de 25 vezes. Em 2015, eram apenas 5.368 participantes, contra 141.419 ao fim de 2023, segundo dados consolidados da própria Abrapp. A evolução do patrimônio foi ainda superior. De R$ 30 milhões em 2015, passou para R$ 1,85 bilhão no ano passado, representando um aumento de 60 vezes.“Esse crescimento é muito positivo. Afinal, trata-se de uma forma de disseminar a importância da previdência e da educação financeira, além de ótima alternativa para proporcionar planejamento financeiro para aqueles que amamos. Com as incertezas quanto ao futuro da previdência social, a melhor forma de garantir um futuro mais tranquilo é investir em formas de complemento à aposentadoria. Os planos para familiares são ideais para isto”, avalia a superintendente da Previsc, Regidia Frantz.
Para o participante, o plano família é uma forma de assegurar renda a seus entes para o futuro. E para os fundos de previdência, incluir esta alternativa entre os serviços oferecidos também traz benefícios.
“É um plano facilmente administrável. O custo, a escala, são fáceis de absorver. É uma forma de fortalecer a marca, com viés positivo. Deve crescer cada vez mais. Não vejo perdas, apenas ganhos para as instituições”, considera Juliana Koehler, superintendente do InfraPrev.
O presidente da Abrapp considera que outra vantagem dos planos família é o ingresso de uma população mais jovem na entidade. “É uma população que pode garantir a perenidade da entidade”, diz Biagi. “Tem também a questão vocacional, que é a proteção previdenciária, mas como negócio o plano família barateia o custo da entidade”, completa.
Segundo Biagi, por desinformação, mais de 80% das associadas da Abrapp ainda não possuem planos família. “Muitas vezes, isso acontece por dificuldades com a patrocinadora do plano. É preciso negociar, e elas, muitas vezes, acham que essa opção vai trazer uma massa de participantes diferente dos empregados, apesar de serem familiares. É questão do modelo de negócio, tem fundo que não quer ter família no seu portfólio. Tem dirigente que não é vocacionado para o fomento.”
Histórico do plano – O atual modelo de plano família foi desenvolvido pela própria Abrapp e incluído na categoria de plano de benefício instituído. Para o presidente da Abrapp, tratou-se de um movimento natural em resposta à modernização das relações de trabalho, que obrigou a entidade a buscar novas alternativas que “abrangessem toda a população” em seus planos previdenciários.
“Se você observar o histórico da relação de emprego no Brasil, saímos de um estado empresário para um estado liberal. Então, a relação formal foi diminuindo, a ‘pejotização’, a mudança cultural dos novos trabalhadores, que passaram a não ficar mais toda a vida em um só emprego. Então, era preciso pensar em mudanças.”
O plano família se consolidou como forma de trazer novos participantes para os fundos.“A gente precisava de um plano mais barato e flexível em relação aos que já tínhamos. O plano família tem uma flexibilidade maior no regulamento. Podemos oferecê-lo aos participantes como uma forma de não perdê-los para outros planos de mercados, como os dos bancos. E ainda tem a questão de dar educação financeira para uma população mais jovem”, aponta Koehler.
Mais participantes – Duas das primeiras entidades a apostarem no plano família, a InfraPrev, fundo de pensão patrocinado por empresas do setor aeroportuário, e a Previsc, sociedade de previdência complementar fundada pelo sistema Fiesc, se mostram bastante satisfeitas com o modelo.
Atualmente, a Previsc possui 1,3 mil participantes no plano exclusivo para familiares, quase 10% do total de participantes. “É um número expressivo e que queremos que cresça cada vez mais. Temos algumas estratégias elaboradas pelo nosso setor de mercado para divulgar o plano, como: campanhas comerciais, palestras, visitas de divulgação etc.”, comenta Frantz.
No caso da entidade catarinense, a criação do plano aconteceu em 2010, com o nome de Previsc Família. De lá para cá, foram diversas mudanças de nome, estratégia e identidade visual, até 2021, quando a última reformulação resultou no “Previtê”, mantido até hoje.
“Os planos voltados aos familiares são uma forma de ampliar o número de pessoas com cobertura previdenciária. Por isso, vamos continuar atuando na conscientização da educação financeira, e na divulgação do plano Previtê por meio de campanhas comerciais, palestras e visitas nas empresas que fazem parte dos nossos instituidores”, conta a superintendente.
Atualmente, a Previsc mantém três opções de investimentos dentro do plano família, com aporte mínimo de R$ 30. O perfil Conservador, com benchmark de CDI, rendeu 3,48% no acumulado do ano (até abril) e 11,34% nos últimos 12 meses. O Moderado, com benchmark de CDI + 1%, rendeu 1,52% de janeiro a abril e 12,49% nos últimos 12 meses. Já o arrojado, com benchmark de CDI + 2% foi o que mais sofreu com a atual instabilidade econômica, rendendo negativamente em 2024, – 0,91%, mas chegando a 13,49% nos últimos 12 meses.
InfraPrev mira futuro – Para o InfraPrev, a criação do plano família foi um pouco mais conturbada. Ela aconteceu em 2012, ainda chamado de plano instituído, mas o novo produto não decolou. O número de participantes foi diminuindo, até chegar a 20, com um patrimônio de cerca de R$ 400 mil.
“Cogitamos fechar o plano, achamos que não era viável”, relata Koehler. “Mas decidimos fazer um movimento em 2022, e tivemos como ‘cereja do bolo’ a entrada da Abrapp como instituidora. Abrimos bastante o nosso leque e pudemos oferecer essa nova opção. E, desde então, vem crescendo cada vez mais.”
Atualmente, são 369 participantes no plano, sendo 213 ativos e 156 assistidos, com contribuição mínima de R$ 28,75. A rentabilidade acumulada dos últimos 12 meses foi de 12,96%, contra 12,33% do benchmark (CDI), resultando em um patrimônio de R$ 26 milhões ao fim de abril.
“Em um ano e meio conseguimos sair de um patrimônio de R$ 400 mil para R$ 26 milhões. E isso sem ter custo nenhum. A campanha é toda feita internamente, justamente para não gerar gastos. Era uma aposta nossa, que acabou dando muito certo”, aponta a superintendente do InfraPrev.
“Nossa estratégia para o futuro é ensinar educação financeira voltada para as crianças. No curto prazo, queremos aproximar as famílias, trazer elas para dentro do Infraprev. Vamos ter movimentos em breve.”