Pensando fora do quadrado | Fundação inova e abre novas verticais...

Edição 362

Com 106 mil participantes e um patrimônio que deve atingir R$ 9 bilhões ainda em 2023 ou no começo de 2024, a depender da performance das carteiras, a Funpresp-Exe entende que precisa se reinventar para manter o ritmo de crescimento registrado nos últimos anos. Criada em 2013, a fundação tinha naquele ano 2,1 mil participantes, menos de 2% do número atual, e cerca de R$ 90 milhões na carteira de investimentos, 1% das reservas atuais. “Para manter o ritmo de crescimento precisamos inovar”, afirma o novo presidente da entidade, Cícero Rafael Dias, que tomou posse no último dia de novembro.
Embora tenha sido empossado há poucas semanas, ele é um veterano na Funpresp-Exe. Ingressou na entidade em 2013, junto com o atual superintendente da Previc, Ricardo Pena, que então dirigia a entidade, e como gerente atuarial ajudou a montar a estrutura do fundo de pensão dos servidores públicos federais. Assumiu interinamente a diretoria de seguridade em 2016 e três anos foi empossado como eleito, cargo que deixou para assumir agora o comando da casa.
Ele dá exemplos do quer dizer com “inovar”. Ainda no primeiro semestre de 2024 a entidade vai lançar seu plano de saúde, além de passar a oferecer seguros aos participantes e assistidos em diferentes áreas, como doenças graves, residencial, automotivo e pet. Também vai entrar na área de academia de ginástica, com o objetivo de oferecer qualidade de vida aos participantes. “Queremos criar um verdadeiro ecossistema em torno do nosso produto principal, de previdência”, diz. “Tudo através de empresas parceiras”.
Ele sabe que o segmento de previdência vive um momento de mudanças e é preciso entender as necessidades dos participantes para mantê-los próximos da entidade. Para isso, a Funpresp está digitalizando toda sua rotina de funcionamento, devendo inaugurar também no ano que vem uma nova sala de participantes e uma inédita sala de assistidos, funcionando ambas em modo internet e por aplicativos. “Criamos na entidade uma área de transformação digital que vai implementar e depois lidar com todas essas mudanças”, explica Dias. “O objetivo final é trazer os participantes mais para perto da gente”.

Portabilidade – Essa proximidade deve render frutos. Um dos instrumentos no qual a fundação aposta para crescer é a portabilidade, que permite aos participantes e assistidos transferir para a entidade recursos aplicados em outros planos de previdência, como PGBL e VGBL, além de outros planos de seguradoras. Segundo o diretor de investimentos da Funpresp-Exe, Gilberto Stanzione, isso já está acontecendo. Nos últimos dois anos, segundo ele, o volume de recursos migrados desses produtos externos para os planos da entidade cresceu 213%.
Uma das explicações para esse crescimento está numa norma que a entidade mudou em 2020, permitindo aos participantes acessar os recursos migrados a qualquer tempo, sem nenhum tipo de restrição. Antes dessa mudança, os recursos migrados ficavam travados e só podiam ser acessados na época da aposentadoria. Resultado da mudança, os recursos captados mais que dobraram no primeiro ano, passando de um total de R$ 7 milhões captados em 2021 para R$14,6 milhões em 2022. Neste ano, até novembro a captação já estava em R$ 19 milhões, e até o final de 2023 deve alcançar R$ 23 milhões, calcula Stanzione.
Claro que isso não é o mais importante para o crescimento de uma entidade, o que conta realmente é a rentabilidade das carteiras e o aumento no número de participantes. Em relação ao primeiro, a Funpresp espera fechar este ano acima da sua referência atuarial, ao contrário do que aconteceu no ano passado quando a carteira rendeu 7,40% para um objetivo de 10,02%. Neste ano, até novembro, a rentabilidade acumulada já é de 11,70% contra um objetivo de 7,87% (IPCA + 4%). “Estamos quase 4 pontos percentuais acima do nosso objetivo”, comemora Stanzione.
Segundo ele, no acumulado de janeiro de 2022 até novembro de 2023 a rentabilidade da carteira soma 19,97%, contra uma referência atuarial de 18,68% no mesmo período. “Aquele pouquinho que a gente deixou para trás no ano passado, esse ano mais que compensamos”, diz.
Segundo ele, a maior parte dessa rentabilidade acumulada vem da compra de títulos públicos longos, com taxas superiores aos objetivos da entidade. Atualmente, 82% da carteira estão alocados em títulos públicos. Para 2024, a política de investimentos não prevê grandes mudanças. “A gente acredita que, sobretudo no curto prazo, ainda tem muita rentabilidade para colher na renda fixa. A gente vai continuar concentrado em títulos públicos”, afirma.
Claro que a fundação está levando em conta a queda das taxas de juros, iniciada pelo Comitê de Política Monetária (Copom) em setembro último. Em quatro reuniões realizadas desde então a Selic já caiu 2 pontos percentuais, de 13,75% ao ano para 11,75% ao ano, 0,5 ponto percentual por reunião. “As taxas de juros estão caindo, mas a inflação também está”, pondera o diretor de investimentos.
Segundo ele, a política de investimentos aprovada pelo Conselho Deliberativo no início de dezembro mantém não só o percentual alocado em títulos públicos, mas também a alocação em bolsa, hoje próxima de 5%. “A bolsa andou bastante em novembro, mas não podemos esquecer que passou praticamente o ano todo parada”, diz. “Não estamos com uma perspectiva tão favorável prá bolsa, porque os patamares da taxa de juros ainda são muito elevados”.
Em relação à investimento no exterior, Stanzione conta que a atual alocação de 0,7% a 0,8% em treasuries será até aumentada um pouquinho. “O problema lá fora é o mesmo daqui, havia muita inflação e os juros subiram para patamares que a gente não via há décadas, então as treasuries estão rendendo bem”, explica.
Outro investimento heterodoxo da fundação, embora pequeno, é uma aplicação de cerca de R$ 7,5 milhões feita em ouro no ano passado. “Fizemos como proteção contra a inflação, o ouro costuma ir na contramão do mercado em momentos de crise”, afirma. Segundo ele, a alocação será mantida e pode até crescer um pouco, mas nada muito significativo.

Fundos imobiliários – Uma classe de ativos que deve ganhar espaço no portfólio da Funpresp-Exe são os fundos imobiliários. A entidade está promovendo uma licitação para alocar 3% da sua carteira, o que dá uns R$ 270 milhões, em dois fundos imobiliários. Serão cerca de R$ 135 milhões em cada um deles, ambos híbridos, voltados a investimentos em papel e tijolo. Segundo Stanzione, o processo terminará no final do segundo trimestre de 2024, quando serão conhecidos os dois gestores desses FIIs.
Atualmente, 2/3 dos investimentos estão sob a responsabilidade da equipe própria, que basicamente compra títulos públicos e ETFs, tanto de bolsa no exterior quanto de treasuries, entre outros. “O outro 1/3 da carteira tem gestão terceirizada, representando algo como R$ 3 bilhões em mãos de gestores externos”, conta Stanzione.

Novos participantes – Como dito anteriormente, o crescimento do volume de recursos de uma entidade vem da rentabilidade dos investimentos e também do ingresso de novos participantes. Na última “janela” que o governo abriu para funcionários federais migrarem do Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) para o regime geral, abrindo mão da aposentadoria integral e tendo que ingressar na Funpresp se quiserem complementar a aposentadoria, foram incorporados cerca de 10 mil novos participantes. Essa “janela durou seis meses, de maio a novembro de 2022, embora segundo Cícero Dias, “o grosso da migração tenha ocorrido na última semana do prazo”.
Ele relembra que as vantagens oferecidas para a migração não eram inicialmente atrativas, mas foram modificadas na última semana do prazo final. Além disso, também contribuiu para o sucesso dessa operação o fato de ter ocorrido a reforma da previdência em 2019, que elevou as contribuições nos RPPS. “O aumento das contribuições ao RPPS e a volta de vantagens significativas para quem fizesse a migração levaram o funcionalismo a fazer contas e ver os benefícios da migração”, explica Dias.
Segundo ele, na primeira “janela” de migração, ocorrida entre 2013 e 2015, apenas 120 servidores aderiram. Na segunda, que durou de 2016 a 2018, a adesão foi de 9 mil servidores. Na terceira, que pegou parte de 2018 até 2019, a adesão chegou a 8,8 mil servidores. E nessa última, que durou seis meses e foi encerrada em novembro de 2022, a adesão superou todas as outras, com 10 mil adesões. “A volta das vantagens iniciais foi fundamental para incentivar a migração, principalmente na última semana, diz Dias.

“Norma está em processo de reavaliação”
Em maio do ano passado, assentada a primeira poeira da crise de crédito que envolveu a Lojas Americanas e a Light, a Funpresp-Exe surpreendeu o mercado anunciando que estava vendendo esses papéis que tinha em carteira e realizando um prejuízo de R$ 18,9 milhões no caso de Americanas e de R$ 7,5 milhões no caso de Light. No total, assumindo um prejuízo de R$ 25,4 milhões.
A fundação tinha uma exposição de R$ 21,5 milhões à rede varejista, que vendeu por R$ 2,6 milhões, e de R$ 11,6 milhões à companhia de distribuição de eletricidade, que vendeu por R$ 4,1 milhões.
“A gente agiu de acordo com as normas da entidade, cuja finalidade é proteger os investimentos dos participantes”, afirma o atual presidente, Cícero Rafael Dias, que na época ocupava o cargo de diretor de benefícios. “Mas normas estão sujeitas a melhorias contínuas, então no momento estamos com um processo de reavaliação dessas normas mas ainda não chegamos à uma conclusão”, diz.
Segundo o dirigente, a revisão das normas é um processo que ocorre regularmente na entidade. “Fazemos uma revisitação dessas normas a cada dois anos, para ver as que permanecem e as que devem ser mudadas”, explica.