Edição 351
A busca pela diversificação é a base da estrutura de fundos de fundos da TAG Investimentos, gestora com R$ 10 bilhões em ativos totais sob gestão e patrimônio de R$ 6 bilhões em FoFs exclusivos. Foi esse apetite pela diversificação que fez crescer a demanda das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs) pelo modelo de fundos de fundos como veículos capazes de consolidar estratégias com maior eficiência, observa Francisca Brasileiro, diretora de investment solutions e business development.
O que se quer é ter mais grupos de gestores de modo a criar uma carteira mais resistente e essa necessidade havia levado as fundações, ao longo dos últimos dez anos, a aumentarem o número de fundos de investimento em suas carteiras. “Mas isso trouxe maior complexidade operacional em termos de burocracia, controles e monitoramento, então os comitês e grupos técnicos perceberam que faltava tempo para dedicar à parte estratégica da alocação e, portanto, havia menos eficiência”, lembra.
Para enfrentar esse desafio, os FoFs passaram a ter cada vez mais um papel-chave para consolidar as estratégias tanto nos fundos de pensão de menor porte como nos maiores e garantir, dentro dessa estrutura guarda-chuva, que haja maior eficiência.
A TAG conta com 13 clientes institucionais de FoFs exclusivos, um conjunto de 22 fundos (dos quais, cinco são de investimento no exterior) e R$ 6 bilhões de patrimônio nesses veículos. Sua atuação engloba todas as estratégias líquidas nesses mandatos: renda variável, renda fixa, estratégias específicas de crédito, multimercados e exterior, além dos Fofs multiestratégias. Há também uma seleção de fundos de fundos imobiliários, mas nesse segmento a atuação é feita por meio de parceiros. A análise de carteira é feita junto a mais de 50 gestores, com 36 deles investidos. “O time de 65 pessoas dedicadas aos FoFs contribui para trabalhar bem as questões de controle”, diz.
No caso dos FoFs exclusivos, a casa aposta num modelo de parceria com os investidores, mais do que na terceirização em si, formato em que os ganhos de escala e de controles são considerados essenciais. “Nosso papel é consolidar informações e traduzir isso da forma mais rápida e ágil possível; os mandatos têm como diferencial o dinamismo sem perder governança”, explica. O compartilhamento de capital intelectual permite que as fundações fiquem com mais informações e controles e possam dedicar seu tempo às questões de estratégia.
Em 2022, apesar de um primeiro semestre difícil, ela avalia que os fundos têm conseguido gerar alfa no segundo semestre “porque há maior previsibilidade em todas as classes de ativos, em especial no exterior porque conseguimos diversificar bem as carteiras”, afirma.
Estratégias de proteção, aumento do hedge e redução expressiva das parcelas indexadas, quase sem renda fixa tradicional, têm ajudado. “Preferimos as estratégias quantitativas e sistemáticas porque trazem maior diversificação em si e fomos para estratégias descorrelacionadas, o que foi a palavra-chave deste ano”, conta.
O aumento do interesse das EFPC por FoFs, avalia a gestora, está ligado também à percepção de que quando se dispõe de mais informações, há maior transparência e o investidor ganha mais controle sobre o que acontece com suas carteiras. “Os órgãos reguladores e supervisores também vêm esses veículos com bons olhos, desde que a entidade tenha embasamento das informações e isso as leve a ter mais governança e não menos”, observa.
Outro pilar do trabalho com fundos de fundos é a atribuição de performance em cada classe nos multi estratégias porque, ao consolidar, há maior clareza quanto ao que está sendo feito pelos gestores, o que dá maior dinamismo ao fundo. Isso vale para todas as estratégias porque, embora fique mais claro nas de renda variável, é mais importante ainda na renda fixa. “Na renda variável, há mais correlação com o Ibovespa, então fica visível, mas na renda fixa você tem efeitos diversos dos movimentos de alta ou baixa dos juros sobre as diferentes estratégias, como as de crédito mais sofisticadas e mesmo nas parcelas de caixa”, diz Francisca.
A customização dos veículos de acordo com as demandas de cada entidade é outro fator relevante porque as fundações são diferentes entre si, assim como os cortes de due diligence ou de horizontes de tempo. “Há inúmeras preocupações que as diferenciam e um FoF exclusivo é mais um serviço do que um produto porque as soluções encontradas precisam ser diferentes, ou seja, cada mandato deve ter um cara diferente para que não haja perda de controle ou de autonomia. São mandatos de gestão baseada em risco”, afirma.
Resultado da incorporação do grupo i9, em julho passado, pela gestora Galapagos, a Galapagos Investment Solutions substituiu a i9 Capital e opera como uma asset apartada, dedicada à alocação em fundos de fundos. Apesar da incorporação, os fundos da antiga gestora seguem inalterados, explica o CIO Diego Condado. Com um total de R$ 5,5 bilhões em ativos sob gestão, 80% deles vindo de investidores institucionais e o restante do segmento corporate, o foco da casa é em FoFs e quase a totalidade dos recursos está em veículos de terceiros. A busca por diversificação envolve mais de 60 casas gestoras e mais de 100 fundos elegíveis para compor as carteiras, entre renda fixa, multimercados, ações e exterior, segmento que foi reduzido este ano. “Sempre tivemos parcelas pequenas em exterior, até pelo limite de 10% dos ativos imposto às fundações, mas este ano reduzimos de forma ativa a exposição diante da piora do mercado internacional, pressionado por fatores como a inflação e a guerra na Ucrânia”, diz.
O destaque do ano até outubro ficou para os multimercados, que exploraram os movimentos de juros nos mercados local e internacional. Os multimercados surfaram muito bem a onda de apostas no aumento das taxas, com posições vendidas na curva de juros. “As nossas estratégias foram ao limite e, na renda fixa, alocamos mais em crédito para reduzir a volatilidade nos títulos públicos”, afirma. Em renda variável, as estratégias mais fundamentalistas acabaram perdendo um pouco do Ibovespa mas, como o investidor já não estava disposto a correr risco há algum tempo, suas posições eram pequenas nessa classe”, detalha.
Este ano trouxe maior proximidade dos investidores com as estruturas de fundos de fundos, mas ao mesmo tempo foi um ano difícil para a tomada de decisões frente à expectativa de forte alta dos juros lá fora e com as eleições no cenário doméstico. “O uso dos FoFs na gestão ganhou espaço e as fundações procuram conhecer melhor suas vantagens, até porque eles têm tido performances positivas”,avalia. As entidades que têm corpos técnicos enxutos vêem nesses veículos uma alternativa de gestão profissional para selecionar os fundos, além dos ganhos nas cotas em si, melhor retorno e redução de riscos. “Mas eles têm também um ganho de governança porque agregam as estruturas de governança dos gestores, do agente custodiante e do administrador fiduciário”, afirma.
Ele lembra que os fundos têm que ser auditados e os investidores passam a contar com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) como agente fiscalizador, além da Previc. Como resultado, há maior aderência à legislação, e um ganho na formalização de processos, que ficam mais transparentes nos FoFs. “Eles também reduzem o trabalho envolvido nos processos operacionais, como os cadastros e o acompanhamento de cotas, que são feitos pelos veículos. Tudo isso deixa as fundações mais leves para se dedicarem às estratégias e com maior eficiência de alocação”, aponta.
O destaque do ano até outubro ficou para os multimercados, que exploraram os movimentos de juros nos mercados local e internacional e surfaram a onda de apostas no aumento das taxas, com posições vendidas na curva de juros. “As nossas estratégias multimercados foram ao limite e, na renda fixa, alocamos mais em crédito para reduzir a volatilidade nos títulos públicos”, afirma. Em renda variável, as estratégias mais fundamentalistas acabaram perdendo para o Ibovespa mas, como o investidor já não estava disposto a correr risco há algum tempo, suas posições eram pequenas nessa classe.
No segmento de multimercados, há 25 casas de portes diversos investidas e 70% dos mandatos têm flexibilidade para comprar diversas classes, entres os fundos específicos de multimercados e os independentes. “O porte das gestoras não é tão relevante, investimos em casas que têm patrimônio de R$ 20 bilhões até as que têm apenas R$ 500 milhões porque o critério mais importante é o qualitativo”, diz. Os gestores devem ter performance positiva em relação à indústria e passam pela avaliação do histórico da equipe tralhando junta, não necessariamente na casa atual. “É fundamental compreender como atua a equipe de análise de cada uma delas, uma vez que o objetivo é a preservação de capital das fundações que investem nesses FoFs”, afirma.
Com dois mandatos de fundos de fundos exclusivos para fundações – Forluz e Promon – , e escopo de investir unicamente em cotas de fundos de investimento imobiliário (FIIs), a RBR Asset avalia este ano como altamente desafiador mas com bons retornos para seus fundos, que têm obtido performance acima do IFIX no acumulado do ano. “Nossos fundos têm conseguido um excedente consistente ao longo do tempo. Um deles tem pouco mais de 1 ano e o outro existe há pouco mais de dois anos mas focamos sempre na qualidade dos ativos, seja em imóveis físicos ou em ativos de crédito”, afirma Bruno Nardo, sócio e portfólio manager de ativos líquidos/multiestratégia/FoFs, área com R$ 1,7 bilhão sob gestão.
Os dois mandatos são estruturados no formato de FIC FIM, que a casa considera mais eficiente e flexível para fazer gestão exclusiva de fundos de FIIs para fundações. O diferencial está na cobertura, pela área de research, de todos os fundos imobiliários que compõem o IFIX. Essa inteligência, diz Nardo, é o atrativo principal dos FoFs porque abrange diferentes segmentos, como os de logística, prédios corporativos ou fundos de crédito imobiliário, ativos que já estão presentes nos fundos próprios da casa, listados na B3.”Eles estão dentro de casa e consigo analisar bem a conjuntura de mercado para identificar oferta e demanda em diferentes regiões do mercado imobiliário”, afirma. Além dos dois mandatos exclusivos, a gestora tem um fundo de fundos de real estate em bolsa, o RBRF11, com R$ 1,2 bilhão. “Quando fazemos um fundo exclusivo para uma fundação, definimos qual será o mix mais adequado de estratégias, com maior ou menor fatia de ativos de crédito, maior ou menor presença de imóveis no segmento de desenvolvimento, entre outras possibilidades”, explica.
A análise microeconômica do mercado de real estate é o ponto forte da gestão para manter nos portfolios contratos com valuation correto em tempos de incerteza e grandes diferenças de valuation nesse setor. “Entre os ativos listados,os imóveis corporativos são os mais descontados hoje no mercado secundário, negociados até 25% abaixo do seu custo de construção mas temos visto uma forte valorização desses imóveis”, diz. A localização é a pedra fundamental desse mercado e atualmente os imóveis do setor corporativo de altíssima qualidade localizados em regiões premiun da cidade de SP, como Itaim, nas aveninas Faria Lima, Paulista e Juscelino Kubitschek são os destaques, passado o maior impacto da pandemia, enquanto outras regiões de SP, como Alphaville e avenida Chucri Zaidan, continuam sem interesse.
Os FIIs de ativos reais têm forte correlação com as taxas das NTN-Bs, com perspectiva de valorização dos imóveis à medida que as taxas de juros recuarem, mas também surgem distorções nesses movimentos, como mostrou, por exemplo, uma oferta feita em setembro e que foi reprovada pela asset, cotista do fundo proprietário dos ativos em questão. “Temos visto tentativas de vendas de fundos de maneira distorcida, como a do fundo HGPO11, do Credit Suisse, do qual somos cotistas, por meio dos nossos veículos. Recentemente um institucional tentou comprar os dois prédios que integram a carteira, na rua Amaury, em SP, por um valor que na ocasião era 4% a 5% superior ao valor da cota em bolsa e fomos contra porque achávamos que esse percentual deveria ser entre 10% a 12%”, ilustra.
O argumento contrário à venda ressalta que são dois ativos de alta qualidade e localizados em região de forte demanda, que devem garantir valorização mais expressiva das cotas do fundo dentro de um ou dois anos, quando a Selic recuar para 4% a 5%. O que reforça a necessidade de conhecer de perto a oferta e a demanda nas diversas regiões antes de comprar ativos corporativos. “Na cidade de SP, por exemplo, ainda não chegou a hora dos imóveis classes B e C”, afirma.