Edição 129
As vinte e uma maiores empresas americanas, entre elas as montadoras Ford Motor e General Motors, a IBM e a Goodyear, estão aportando, juntas, um montante de US$ 32 bilhões para distanciar seus fundos de pensão do déficit, revelou uma pesquisa informal da publicação Pensions&Investments. A maior parte desses recursos será despejada nos cofres das entidades previdenciárias durante os próximos anos, embora US$ 7,6 bilhões já tenham sido aportados até o final do ano. E este é só o começo, prevêm os analistas.
“Segundo nossos analistas, até o final de setembro passado quase 95% dos 200 maiores fundos de pensão dos EUA estavam deficitários”, comentou a diretora executiva da área de clientes institucionais do J.P.Morgan Fleming Asset Management, Eve Guernsey. E a informação, segundo ela, é que as empresas que compõem o índice S&P 500 e têm fundos de pensão só serão capazes de cobrir 79% de seus passivos até o final do ano.
É um imenso contraste se comparado aos últimos anos, quando dezenas de empresas tiraram “férias contributivas”, possíveis pelos bons momentos atravessados pelo mercado, o que contribuiu para a elevação do status do fundo. Mas quando o mercado de ações despencou, os ativos se desvalorizaram e as taxas de juros foram para o ralo, aumentando consideravelmente os passivos dos fundos. As férias claramente acabaram.
O diretor financeiro da IBM, John Joyce, disse a investidores no mês passado que os dirigentes da empresa se reuniriam para decidir, até o final do ano, se a contribuição ao fundo passaria de US$ 1,5 bilhão – aportada em ações da IBM. Aprovada, esta seria a primeira contribuição patronal desde 1995, quando a empresa aportou US$ 600 milhões em dinheiro. E outras empresas estão fazendo anúncios similares. Executivos da Ford disseram no início de dezembro que a montadora fará contribuição de US$ 500 milhões em 2003 e a mesma quantia em 2004 para seu plano de US$ 39,8 bilhões de ativos; os recursos seriam suficientes para compensar as perdas com investimentos em 2002, que chegaram a 11,5%. A última contribuição da Ford para seu fundo de pensão foi há três anos.
Já os executivos da Honeywell disseram que a companhia terá de contribuir com US$ 1 bilhão para seu plano tipo BD de US$ 9,4 bilhões no próximo ano. Perto de US$ 900 milhões serão aportados em ações da empresa ainda este ano, e o restante será repassado em dinheiro no terceiro trimestre de 2003. Estas são as primeiras contribuições da Honeywell para seu fundo desde 1998.
Mas, ao contrário das empresas que, por conta dos bons ventos dos mercados já não contribuíam há meses e até há anos para os seus fundos de pensão, as companhias aéreas American Airlines e Continental Airlines fizeram aportes generosos no ano passado e no início deste ano. O presidente da asset AMR Investment Services, William Quinn, que administra o plano previdenciário da American Airlines, com US$ 5 bilhões em ativos, informou que a companhia contribuiu com cerca de US$ 260 milhões ao plano nos primeiros meses de 2002.
Não foi diferente com a Continental ou mesmo com a Delta Air Lines, que planejam contribuir com US$ 200 milhões e US$ 250 milhões, respectivamente, à suas fundações no próximo ano.
O responsável pela área de atuária da Mercer Human Resource Consulting de Nova York, Ethan Kra, disse que os recentes fluxos de contribuições não são surpreendentes. “Há vinte anos, as empresas faziam contribuições anuais significativas em dinheiro para seus fundos. A norma era contribuir entre 5% a 10% da folha de pagamento para prover benefícios previdenciários. Então o ‘bull market’ decolou em 1982 e, durante os 17 anos seguintes, a ordem foi crescer. As empresas, reconhecendo os ganhos em seus fundos de pensão, começaram a reduzir contribuições. Muitas empresas cessaram completamente de contribuir. Algumas pararam em 1982; outras, em 1996 e 1997. Em janeiro de 2000, as férias contributivas já eram extremamente comuns”, explicou ele. “Então o balão estourou, os mercados tiveram recaídas e, em setembro de 2002, um fundo de pensão típico só tinha 65% do montante que esperava ter acumulado durante o ano, o que os tornou deficitários.”, concluiu.
Meios de cortar – Entre as empresas fazendo significativas contribuições em 2002, depois de não tê-las feito por anos, figuram a Daimler Chrysler, que contribuiu com US$ 500 milhões para seu plano de benefício definido de US$ 16 bilhões em ativos e ainda a Pfizer, que contribuiu com US$ 385 milhões para seu plano tipo BD de US$ 3 bilhões.
Especialistas em fundos de pensão dizem que executivos de empresas estão considerando meios de reduzir as despesas com suas entidades, para lidar com seus status de deficitários. Segundo o presidente da consultoria KPA Advisory Services, Keith Ambachtsheer, muitos discutem se a saída não seria imunizar o plano inteiro e alocar 100% dos recursos em títulos. “Depois que os fundos de pensão privados curtiram o sucesso graças ao boom do mercado de ações dos anos 90, um expressivo número de diretores financeiros discutem com suas consultorias se é uma boa coisa tomar tantos riscos. O único problema é que as pessoas não podem desistir de seus investimentos a essa altura”, disse o presidente.
A responsável pelos serviços fiduciários da J.P.Morgan Fleming, Karen McQuiston, concordou que mais empresas estão buscando caminhos para economizar dinheiro em seus fundos de pensão. Nessa direção, a Delta anunciou na última semana que irá alterar o tipo de plano previdenciário dirigido a seus funcionários de benefício definido para cash balance. “O intuito é reduzir custos”, notou. “Este é um caminho que pode ser tomado pelas empresas. E veremos, em breve, mais e mais empresas migrando para cash balance. Há uma economia de gastos quando o plano é menos generoso”, disse Karen.
A opinião é partilhada por Guernsey, da Morgan Fleming, para quem muitas companhias poderão congelar seus planos de benefício definido e confiar em um plano CD, de novo como forma de reduzir custos previdenciários.
Empresas que sempre fizeram suas contribuições ao fundo em ações próprias também estão repensando sua estratégia. E essa tendência, segundo Karen, é boa porque permite ao plano diversificar seus investimentos. “Isto (aporte em ações da empresa) expõe o plano à concentração em papéis da companhia, o que pode aumentar a volatilidade do plano, especialmente se as ações se valorizam ou desvalorizam rapidamente. É um risco para os empregados, porque suas reservas variam ao sabor do sucesso da companhia. Se os ativos previdenciários vão bem, a empresa pode conceder melhores benefícios a seus empregados. Mas se há muitas ações no fundo de pensão e começam a se desvalorizar, a empresa já não pode garantir benefícios. Além disso, se o fundo de pensão está atolado em ações da empresa, sobra riscos para acionistas e detentores de dividendos da empresa.
Para o consultor sênior da Mercer Investment Consulting de Chicago, Lewis Finney, o fato de aportar recursos ao fundo em ações da própria empresa acaba deixando o fundo subjugado à empresa, e vice-versa. “Queremos uma empresa e seu fundo de pensão distantes um do outro. Não os queremos relacionados um ao outro. Se você tem ações da empresa na fundação, você estará aumentando o risco tanto para a entidade quanto para a empresa”, concluiu.