Edição 354
Há 11 meses no comando da Volkswagen Previdência Privada (VWPP), o fundo de pensão dos funcionários da Volkswagen do Brasil, o diretor de investimentos Thiago Santucci não promete grandes mudanças em relação ao seu antecessor, Luiz Paulo Brasizza, que se aposentou no final do ano passado. Ele diz que deve manter as mesmas estratégias de investimento com foco em ativos de renda fixa, porém flexibilizando a possibilidade de maior exposição ao risco.
Santucci fez carreira no Banco Fator, de onde saiu como estrategista de investimentos, tendo passado anteriormente pelo BTG Pactual, na gestão de renda fixa destinada ao varejo. Em entrevista à Investidor Institucional ele afirma que “não houve nenhuma mudança brusca” com a saída de Brasizza e sua condução ao cargo, e que a entidade por enquanto manterá “os mesmos gestores e essencialmente os mesmos pesos de ativos”. A VWPP tem, atualmente, R$ 3,2 bilhões sob gestão e cerca de 18.000 participantes.
O fundo da VWPP oferece aos participantes três perfis de investimento, que ganharão uma ampliação da faixa de renda variável. No perfil conservador, a renda variável continuará sendo zero, mas no moderado haverá uma ampliação da banda de renda variável que irá operar entre 10% e 20% e no arrojado entre 20% e 40%. “Isso vai nos dar maior flexibilidade”, diz, ressaltando que o alvo é de 15% para o moderado e de 30% para o agressivo.
Porém, segundo ele, até o momento a entidade não vê vantagem em aumentar a exposição ao mercado de ações, com o cenário político e macroeconômico que vive o País. “Mas como estamos em início de governo, estamos mais atentos”, diz. “Se as condições se tornarem mais favoráveis poderemos tomar mais risco”.
Em 2022, o perfil conservador rendeu 12,62%, o moderado 10,92% e o agressivo 9,41%, ficando ligeiramente abaixo de seus benchmarks que fecharam o ano em 12,64% ,13,02% e 12,25%, respectivamente.
De acordo com os dados disponibilizados pela VWPP, quem optou pelo plano agressivo teve rendimento acumulado de 39% nos últimos 5 anos, acima do moderado, que rendeu 38%, e do conservador, com 36%. Somente em 2021 o retorno do perfil agressivo foi pior que os outros, ficando negativo em -1,55%, o que levou participantes desse perfil a migrarem para posições mais conservadoras.
Em relação ao patrimônio, a principal classe de investimento é na renda fixa, majoritariamente realizada com a compra de títulos do Tesouro Nacional. Há também um pequeno espaço para o Exterior, onde estão alocados cerca de R$ 160 milhões, posicionados principalmente em títulos do Tesouro americano e crédito corporativo que, no Brasil, tem deixado Santucci atento depois do caso Americanas.
Segundo o novo diretor de investimentos da VWPP, o rombo contábil de R$ 43 bilhões da Americanas teve impacto reduzido nas contas da entidade, uma vez que tinha cerca de 0,5% da sua carteira alocada na empresa dos acionistas relevantes Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira. Embora o impacto não tenha sido elevado, “acendeu um sinal amarelo” para a diretoria, diz. O caso, que impulsionou problemas de crédito no mercado brasileiro em geral, gerando maior cautela e melhores escrutínios do mercado ante as empresas, também levou os gestores de fundos em geral, a fazerem melhores escolhas nesses investimentos.
“Temos crédito privado, porém mais diversificado, com a maior parte alocada em empresas que têm um fluxo de caixa mais benéfico”, afirma o diretor de investimentos. Ele diz que o VWPP opta hoje por uma alocação mais conservadora dentro para esse tipo de ativo.
O VWPP também tem um pequeno aporte em imóveis, mas segundo Santucci esse tipo de ativo está restrito ao plano de aposentadoria mais antigo, e “é pouco representativo no patrimônio total”.
Em relação à determinação da Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar), que impõe a liquidação dos imóveis em posse de fundos de pensão até 2030, o diretor afirma que já “conversa com os comitês [do fundo] para destacar a questão do prazo”.
Segundo Santucci, algumas propostas para a venda desses ativos já começaram a ser desenhadas, pois o VWPP não trabalha “com a possibilidade de postergação” do prazo estabelecido. “Vender um imóvel não é trivial”, conclui.