Os europeus redescobrem o Brasil | Dispostos a brigar pelo mercad...

Edição 106

No difícil segmento de asset management, que passa pela mais intensa movimentação de sua história rumo à concentração, os bancos europeus promovem uma segunda onda de expansão de seus negócios no País. Depois da primeira onda de crescimento dos europeus, que trouxe como novidades nomes como HSBC, ABN AMRO e Santander, hoje em posições de destaque na área de administração de recursos de terceiros, chegou a vez de bandeiras como BNP Paribas, Credit Lyonnais e WestLB começarem a despontar, o que está sendo visto por muitos como a segunda onda dos europeus.
Esses pequenos e não tão pequenos, que administram recursos entre R$ 1,5 bilhão e R$ 3 bilhões no Brasil, têm em comum o fato de terem por trás grandes grupos europeus, com carteiras na casa de centenas de bilhões de dólares. Com essas credenciais, eles estão disputando com intensa garra o mercado brasileiro de gestão de recursos. “Estamos jogando para ganhar”, diz André Reis, diretor da WestAM do Brasil Asset Management, do banco alemão WestLB. Criada no Brasil em setembro passado, a WestAM já administra a considerável quantia de R$ 1,4 bilhão, dos quais 10,6% em recursos de investidores institucionais. Internacionalmente, o West LB administra nada menos de US$ 440 bilhões em recursos de terceiros.
Segundo Reis, os planos da asset são de crescer organicamente e de forma enxuta no Brasil. Atualmente, apenas 10 pessoas trabalham na asset, um contingente pequeno pelos padrões das assets nacionais de seu porte. “Não queremos inchar nossos quadros”, avisa. “Aqui, o contingente de pessoas é muito bem administrado”. Ele aproveita para criticar a disputa predatória que desencadeou uma guerra de taxas no setor, tornando a lucratividade do negócio algo muito difícil, que depende de volumes administrados, custos baixos e uma carteira de clientes de qualidade.
Outro que tem surpreendido o mercado com sua estratégia agressiva é o BNP Paribas, que internacionalmente administra US$ 270 bilhões. Com atuação no Brasil já há alguns anos, o banco tinha até o ano passado uma postura de pouca exposição, o que mudou radicalmente a partir da contratação da equipe que deixou o CCF quando este foi absorvido pelo HSBC. Bem, talvez os números possam falar melhor que as palavras: de uma receita de R$ 1 bilhão no fechamento de 2000, o BNP saltou para R$ 2,4 bilhões ao final de setembro passado, um crescimento de 140% no período.“Este é talvez um dos crescimentos mais expressivos do mercado. Isso mostra que adotamos um conjunto de estratégias correta”, diz o diretor vice-presidente do banco francês, Marcelo Giufrida.
Ele é um dos que deixaram o CCF quando este foi absorvido pelo HSBC. Montou sua equipe, em grande parte, com pessoas que trabalhavam com ele no CCF. Uma das suas tacadas mais agressivas foi conquistar uma parte da carteira das fundações sob intervenção, no processo de concorrência aberto pela SPC, durante a gestão de Solange Paiva. Há quem acuse o BNP, inclusive, de ter ajudado a derrubar as taxas de administração ao aceitar 0,1% para renda fixa e 0,2% para renda variável para essas carteiras. Mas Giufrida não passa recibo disso: “o futuro está em produtos que ofereçam uma rentabilidade que justifique a troca de gestores e uma taxa de administração compatível com os serviços”, resume.
No início deste ano o BNP Paribas adquiriu o UBS Asset Management, agregando uma carteira de pouco mais de R$ 300 milhões. Além do volume de recursos, somou também uma clientela de qualidade, que estava disposta a pagar pelos serviços considerados bastante sofisticados do UBS. Daqui para a frente, o crescimento deve acontecer principalmente de forma orgânica. “Vamos buscar novos clientes e a especialização de produtos, no conceito de valor agregado”, promete Giufrida. “Nossa missão é estar entre os grandes também no mercado brasileiro”.
O terceiro europeu da nova onda é o Credit Lyonnais, que há pouco mais de três anos começou a reforçar suas atividades no Brasil depois de ter vendido sua parte no BFB para o Itaú, em 1995. Com cerca de US$ 130 bilhões sob gestão no mundo, a subsidiária do Credit Lyonnais no Brasil está perto de cumprir a meta de R$ 1 bilhão em receitas administradas prevista para este ano, o que representará crescimento de 150% sobre o montante do ano passado, de cerca de R$ 400 milhões. Da total de quase R$ 1 bilhão administrado, o carro-chefe é o segmento de institucionais, com 39% de participação.
Segundo o diretor da asset, Fábio de Aguiar Faria, “a área de asset brasileira é uma subsidiária integral do asset management na França”. O Credit Lyonnais já operava no Brasil como banco de investimentos, mas não na área de administração de recursos, o que era feito pelo BFB, no qual tinha participação. Com a venda dessa participação, o banco começou a pensar em atuar diretamente por meio de uma subsidiária integral, o que começou há cerca de três anos. “Foi um recomeço na atividade”, conta Faria.
De acordo com ele, a matriz francesa considera a gestão de recursos de terceiros um dos pilares de seu negócio no mundo, e o Brasil é uma das prioridades. “Isso em função do tamanho e da posição destacada e premiada que o nome Credit Lyonnais já desfruta no cenário de asset brasileiro”, conta.
Ele adianta que não está descartada, inclusive, a aquisição de outras assets como forma de crescimento no mercado. “Continuamos num processo de expansão interna e faz parte do nosso plano estratégico fazer uma aquisição”, antecipa. A asset que interessa ao banco francês teria um volume de recursos sob gestão entre R$ 200 milhões e R$ 300 milhões. “Mas o mais importante é que essa aquisição tenha um caráter complementar, que agregue valor aos negócios do banco e tenha uma carteira sem muitos clientes em comum”.
A primeira onda dos europeus colocou os bancos HSBC, ABN AMRO e Santander entre os grandes do mercado brasileiro, suplantando nomes tradicionais de norte-americanos já instalados por aqui há bem mais tempo. Nessa segunda onda dos europeus, a pergunta que muitos estão se fazendo é se eles irão tomar a dianteira e conquistar espaços de nomes tradicionais do mercado de asset. Dispostos parece que eles estão.

HSBC Brain mantém o fôlego da primeira onda
A compra da LAM pelo Itaú fez o mercado repensar suas estratégias e despertar para a discussão sobre como crescer neste segmento. Com isso, o cenário das assets vai se redesenhando, tendo na linha de frente o Banco do Brasil, Bradesco e Itaú, todos na casa de R$ 40 bilhões a R$ 50 bilhões em recursos administrados. No bloco que vem logo a seguir, o inglês HSBC tem a dianteira na área de gestão de recursos de terceiros. “Encabeçamos esse pelotão e esperamos virar o ano com volume da ordem de R$ 22 bilhões, contra os atuais R$ 20 bilhões”, comemora o diretor de produtos do HSBC Brain, Sylvio Fleury.
Para ele, embora a segunda onda dos europeus seja formada basicamente por bancos de menor porte, o HSBC Brain está mantendo sua política de investimentos e espera obter um crescimento elevado na área de gestão de recursos de terceiros nos próximos anos. Com 250 produtos e mais de 150 carteiras administradas, a área de clientes institucionais do HSBC Brain responde hoje por 38% dos seus negócios em asset.
A asset tem uma equipe de 12 pessoas designada apenas para cuidar dessa área, incluindo um diretor comercial responsável pela região do Sudeste para cima e outro do sudeste para baixo. Segundo Fleury, apesar das taxas de administração baixas que vigoram atualmente entre os clientes institucionais, a política do banco é continuar apostando no segmento e buscando ampliar sua atuação. A compra do CCF, inclusive, deu ao HSBC Brain um perfil mais diversificado, ao agregar as áreas de corporate, private e institucional que não eram muito fortes.
Além dessa área de atendimento a clientes institucionais, outra área que deverá crescer é a dos fundos multipatrocinados. Para Fleury, o multipatrocinado é uma excelente alternativa para as empresas que não querem montar fundações próprias, mas querem oferecer o benefício da aposentadoria complementar aos empregados, como instrumento de atratividade de talentos. O multipatrocinado do HSBC, herdado do CCF, conta hoje com cerca de 150 clientes e uma carteira de R$ 1,2 bilhão.