Os clubes se preparam para ir aos leilões

Edição 15

As privatizações brasileiras conferiram um novo enfoque aos clubes de investimentos. Entidades jurídicas cujos associados são funcionários de instituições financeiras interessados em engordar sua poupança, os clubes de investimentos passaram a figurar na venda de empresas estatais, por volta de 1992, depois que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizou os empregados a participar dos leilões de privatização representados pelos clubes. Ate o final de maio, os clubes em atividade no país somavam 469 e acusavam um patrimônio de R$ 1 bilhão, segundo dados da CVM.
Porém, não chegam a 10 os clubes criados para participar das privatizações, ate porque foram poucas as estatais vendidas ate o momento. Especialistas acreditam que os clubes se destacarão nas grandes privatizações que irão ocorrer nos setores de telecomunicações e de energia, aumentando a lista hoje restrita a empresas como Acesita, Embraer, Cosipa, Usiminas, Vale do Rio Doce e a Coelba (Companhia Elétrica da Bahia) que, embora ainda não tenha data definida para ser privatizada, os funcionários obtiveram no mês passado autorização da CVM para criar um clube.
Essa, alias, e uma estratégia de algumas dessas entidades: se preparar com bastante antecedência para a venda das empresas. Foi assim com a Vale do Rio Doce, cujos funcionários criaram o Investvale dois anos e meio antes da privatização da empresa, que ocorreu no mês passado. “Nós procuramos obter o máximo de informações porque caso houvesse privatização teríamos de defender a participação dos funcionários como acionistas”, explicou Francisco Valadares Póvoa, presidente da Investvale e superintendente de tecnologia da Cia Vale do Rio Doce.

Gestão – resultado culminou com a compra de 5,11 % do capital total da Vale por parte dos 35.400 mil associados do clube, cujo patrimônio soma cerca de R$ 513 milhões. Póvoa explica que a decisão partiu de uma definição dos funcionários que queriam participar da gestão da empresa. Por isso, além dos estudos, serviços de consultoria e troca de informações com outros clubes de investimentos, a Investvale definiu dois pontos estratégicos para a sua atuação. Primeiro, se manter neutra quanto a decisão do governo de privatizar a companhia, “afinal a questão era política”. Depois, a participação não visaria a obtenção de lucros imediatos pois o principal objetivo era participar da gestão da empresa. Póvoa é representante do clube no conselho de administração da Valepar (holding do grupo) e da companhia.
Mas nem todos os clubes de investimentos traçaram a mesma estratégia. Um dos primeiros clubes a surgir, o Ciga -Clube de Investimento dos Empregados do GrupoAcesita – foi criado em agosto de 1992 para comprar ações da estatal. Entre seus associados estavam inclusive ex-funcionários e aposentados, totalizando 13.237. Hoje, no entanto, esse numero caiu para 2.209. A maioria vendeu sua participação em parte devido a queda no preço das ações, mas também pelo desconhecimento do mercado acionário. Logo na primeira alta de preços boa parte resgatou as ações. O patrimônio da carteira soma R$ 2,1 milhões, dos quais boa parte esta aplicado em papeis da própria empresa e uma pequena parcela permanece no caixa para pagamento de despesas.
O fato e que, na época em que foi criado o Ciga, a CVM não permitia a diversificação de suas carteiras com papéis de outras companhias abertas. Além disso, não era permitida a participação das fundações como cotistas. Por isso, Ciga acabou ficando com um perfil mais conservador e pouco agressivo. Em 1993, a CVM flexibilizou as regras, permitindo que pessoas jurídicas (as fundações) fossem cotistas de clubes de investimentos, mas somente daqueles que adquirissem ações de empresas em processo de privatização. Outra mudança foi na possibilidade dos clubes diversificar suas carteiras comprando ações de outras companhias. Até o final deste ano, o Ciga pretende atualizar os seus estatutos dentro dessas regras.
De acordo com o banco Brascan, administrador das carteira dos clubes da Embraer, Cosipa e Acesita, e do recém criado clube da Coelba, a participação das fundações gira em tomo de 12% do total das cotas, embora não exista um limite máxima definido pela CVM. O mesmo não ocorre com as pessoas físicas, que podem deter no máximo 10%.

Limite – Como os fundos de pensão entraram como acionistas diretos na compra da Vale do Rio Doce, eles não participam do Investvale. Quanta a administração da carteira, incumbência do banco Graphus, Póvoa afirma que direcionamento dos ativos ainda não foi definido. O executivo explicou que do lote de 4,45% de ações ordinárias, 4% estão em custódia pelo financiamento do BNDES para compra dos títulos e 0,45% não podem ser mexidos. O late de 6,31 % de ações preferenciais foi adquirido já pensando-se em futuras operações de compra e venda, pois não esta vinculado ao empréstimo ou controle da empresa. Mas, pelo edital de privatização, o Investvale pode vender no máxima 11 % ao mês da posição da carteira.
Segundo o Brascan, o único clube a fechar ate o momento foi o da Petroflex. Criado em 1992, durante os dois anos de atividade obteve uma das maiores rentabilidades de um clube de investimento e encerrou suas atividades por problemas gerenciais.