Os fundos florestais surgem como uma das opções promissoras de diversificação em cenário de juros mais baixos para as carteiras das EFPC. O apetite tem tudo para crescer, uma vez que essa classe de ativos tem alta correlação com as metas das fundações e é fortemente descorrelacionada com outras classes que sofrem mais os efeitos da volatilidade, como bolsas e multimercados, entre outros. “O fundo florestal é estreitamente vinculado à economia real e uma alternativa muito saudável para abrir a cabeça dos gestores das entidades em relação a investir em FIPs”, pondera o diretor da PreviEricsson, Rogério Tatulli.
Ele lembra que, no passado recente, alguns gestores cometeram equívocos de avaliação na gestão dos FIPs, “depois veio a crise que afetou toda a economia, montando um “combo” de problemas que abalou a reputação de toda uma classe de ativos embora a maior parte desses produtos tenha boas performances”.
Na PreviEricsson, dos 15 FIPs investidos, três são florestais com diversificação de gestores e que representam 32% dos recursos aplicados em FIPs. O setor reflete agora, no Brasil, o início de uma transformação que já ocorreu nos EUA na década de 1990. Lá, as grandes companhias consumidoras de madeira, papel e celulose eram também as donas das florestas, mas isso começou a mudar quando perceberam que poderiam passar a gestão das florestas para os investidores.
Ainda há resistências educacionais, avalia Tatulli. “As pessoas receiam incêndios na floresta, por exemplo, mas ignoram que o maior risco ali é a formiga e não o fogo, então cabe aos gestores disseminar informação, assim como cabe ao investidor sair do escritório e ir conhecer as equipes responsáveis pelo manejo florestal”. Os fundos florestais da PreviEricsson tem florestas em SP, MG, PR e Três Lagoas, no MS, que é o maior polo produtor de celulose do mundo. Lá, a distância média entre a floresta e a fábrica compradora da matéria-prima é de no máximo 200 quilômetros. A distância ideal é de 100 quilômetros, que garante boa cobertura logística para escoar a produção.
Mapitoba – Os gestores estão começando a abrir novas fronteiras para esses projetos no Brasil, na área definida por uma sigla conhecida como Mapitoba – Maranhão, Piauí, Tocantins e Bahia. “Aí vejo um problema de logística e de água, entre outros, porque as novas fronteiras precisam assegurar estrutura logística e pluviometria adequadas”, diz Tatulli. Todos os fundos florestais investidos pela fundação trabalham com processos de certificação da madeira. O retorno é de IPCA mais 8% ou 9% ao ano, frente a uma meta atuarial de IPCA mais 5% ao ano. “É um ativo resiliente, de longo prazo e adequado às metas atuariais”.
O apetite pelos fundos florestais hoje é maior para carteiras com menor risco e ativos em regiões já consolidadas, sublinha o diretor operacional da Claritas Investimentos, Cassiano Morelli. “Esses fundos já tem tomadores de papel e celulose ou da siderurgia na própria região, as novas fronteiras, por sua vez, podem ter maior potencial de retorno mas também trazem maior incerteza”, destaca Morelli. De todo modo, ele reforça o momento favorável a esse produto por conta do cenário de juros menores. A Claritas atua em regiões já consolidadas de MS, MG, BA e também em Tocantins, uma das novas fronteiras, onde há volume de terra considerável para plantio. A gestora mantém três fundos com duas estratégias diferenciadas e um retorno próximo de 10% ao ano além da inflação. “O feedback dos institucionais é positivo apesar dos riscos que enxergam para investir em FIPs, pois a estratégia em florestais trouxe resultados satisfatórios e faz sentido em cenário com tendência à estabilidade econômica”, ressalta Morelli. A Claritas está estruturando novo fundo cujo desenho estará finalizado em junho, com características de menor risco e mapeamento relevante de tomadores da produção florestal. “Nesse caso é uma nova fronteira em termos de produto e rentabilidade ficará em torno de 11% mais inflação”.
Interesse – O interesse das EFPC por informações desse segmento tem aumentado expressivamente, afirma o responsável pela área de Investimentos Alternativos da Lacan, Guilherme Ferreira. A casa gestora, com 29 fundos de pensão entre seus investidores, tem atualmente um fundo florestal iniciando a fase de amortização e um segundo produto já com 80% do capital endereçados. O primeiro deles foi levantado no auge da crise de 2016 e assim mesmo ficou 10% acima da captação esperada. Seu retorno real é de dois dígitos. O segundo encerrou a captação e está em fase de maturação, pagando IPCA mais 8% e com upside. Ambos tem seus projetos florestais em Três Lagoas, voltados apenas para o fornecimento de celulose e dos R$ 800 milhões dessas carteiras, cerca de 70% pertencem a fundos de pensão.
Esses resultados foram na contramão da crise brasileira e também na contramão de alguns FIPs, observa o responsável pela área comercial da Lacan, Guilherme Monteiro. A gestora estrutura agora um terceiro produto, que deverá iniciar a captação até o final de maio e terá estratégia diferenciada, com foco em florestas de celulose mas também em biomassa e pinus, mercado voltado para a madeira sólida usada no mercado imobiliário.
Longo prazo e sustentabilidade – A demanda pela classe de ativos florestais permanece alta em um amplo espectro de investidores institucionais, avalia Tim Cayen, diretor sênior da Hancock Natural Resource Group (HNRG), baseado em Boston. Ele observa que a incerteza e a volatilidade crescentes nos mercados de ações e renda fixa têm chamado a atenção para as áreas florestais, cujos resultados históricos, a nível global, mostram volatilidade relativamente baixa, com retornos competitivos ajustados ao risco e um com um fluxo de caixa confiável. “A natureza de longo prazo dos ativos florestais, aliada à capacidade de projetar o crescimento da madeira, produção e geração de receita, também é uma excelente combinação para atender as obrigações de longo prazo dos fundos de pensão”, ressalta Cayen.
Além disso, os investidores estão reconhecendo a capacidade dos investimentos florestais de contribuir para os objetivos ambientais, sociais e de governança (ESG). O diretor da Hancock pondera que as florestas geridas de forma sustentável podem capturar CO2, ajudar a mitigar as alterações climáticas e ter impactos positivos na qualidade da água, nos habitats da vida selvagem e nas comunidades rurais.
Com base no desempenho histórico, os investimentos em madeira nos EUA proporcionaram retornos reais totais (descontado a inflação) de 4% a 10% e retornos nominais de 7% a 13%, informa Cayen. Nos últimos 25 anos, as taxas históricas de retorno em investimentos florestais nos EUA mostraram uma correlação muito baixa com os ativos financeiros tradicionais – S&P 500, ações internacionais e títulos corporativos dos EUA – acrescentando uma diversificação significativa a uma carteira de ativos mistos. Essas taxas correlacionam-se positivamente com a inflação americana nos últimos 25 anos, proporcionando ao investidor alguma proteção de períodos de inflação moderada a alta.