O “X” da questão | Carteiras passivas das fundações, indexadas ao...

Lauro Araújo, da LAS ConsultoriaMarcos Litz, da Fibra Edição 255

 

O ano de 2013 não será esquecido facilmente pelos gestores de carteiras de fundos de pensão. Além da forte volatilidade que experimentaram na renda fixa ao longo do ano, os resultados de suas alocações em renda variável também não deram trégua. Muitos foram os fatores da economia doméstica e do cenário externo que não ajudaram a bolsa a performar. Um dos principais foi o impacto da derrocada de duas empresas do conglomerado EBX, o da petroleira OGX e o da empresa de construção naval OSX, ambas em processo de recuperação judicial e que, juntas, acumulavam dívidas de mais de R$ 15 bilhões, até o fechamento desta edição.

Em um efeito dominó, até mesmo as boas companhias do conglomerado foram impactadas, inclusive as que tinham bons ativos e fundamentos. Exemplos são a mineradora MMX, agora Eneva, e a empresa de logística LLX. Ao longo do imbróglio que levou à derrocada das empresas de Eike, as fundações e fundos de investimentos globais ficaram expostos – mesmo que em menor grau – no papel da OGX nos últimos cinco anos, diretamente ou em fundos passivos que acompanham o Ibovespa.
“Pela própria volatilidade, a ação da OGX não entrava em muitas carteiras. A exposição que havia era decorrente dos fundos que acompanhavam o índice, mas o impacto foi pequeno. Na minha amostra não havia carteiras com posição direta às ações da empresa”, diz Guilherme Benites, sócio da Aditus Consultoria Financeira.
Segundo Lauro Araújo, sócio da LAS Consultoria, muitas fundações tinham OGX na carteira porque tinham posições no Ibovespa. “Acho que a lição deste ano foi a percepção de que o risco existe em investimentos e nem sempre pode ser gerenciável. As carteiras mais conservadoras na renda variável estavam próximas do índice, assumindo um grande risco”, comenta Araújo.
As projeções dos especialistas levam a crer que entre os fundos de pensão, as ações das empresas X não provocaram um impacto forte. As estimativas são reforçadas pelo levantamento da Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc), que indica que nos últimos cinco anos a maior exposição aos papéis do grupo X ocorreu em 2010, com uma participação total de investimentos de 0,24% das carteiras das fundações.
“Não houve concentração de capital dos fundos nas empresas do grupo. Em termos consolidados, a exposição foi e continua sendo muito pequena, dentro de uma estratégia saudável de diversificação de riscos. A Previc está acompanhando de perto a situação do grupo X e das entidades fechadas de previdência complementar (EFPC) que, porventura, ainda têm investimentos no grupo. Podemos afirmar que não há grandes impactos para o setor”, afirmou o órgão, por email da assessoria de imprensa.
O fato é que um balanço sobre o impacto do grupo X nas carteiras é algo que as principais fundações estão evitando fazer, pelo menos publicamente.
Ponto fora da curva – Quem manteve exposição foi o Postalis, que tem sob gestão cerca de R$ 8 bilhões e 132 mil participantes. A fundação evita falar no prejuízo em termos monetários dos investimentos nas ações das empresas da EBX. “Tendo em vista que todas as nossas aplicações nas empresas do grupo X foram realizadas por uma gestão terceirizada, não podemos afirmar qual foi o impacto individual neste investimento, resultado que será apurado ao final do exercício de 2013”, informou, por email enviado pela assessoria de imprensa.
Em dezembro de 2012, o Postalis tinha 1,76% de seus recursos garantidores distribuídos nas ações da MPX, CCX, LLX, OGX, OSX e MMX. Hoje, 7% dos recursos garantidores são alocados em renda variável. No decorrer deste ano, de acordo com nota enviada, um gestor terceirizado do Postalis optou por migrar para outros investimentos e hoje há um percentual residual de 0,026% dos recursos investidos nas ações da CCX, LLX e MMX, que foram mantidos em carteira.
Outro fato pouco lembrado é que nem todas as empresas de Eike Batista estavam indo mal quando a OGX começou a cair. No caso da MMX, atual Eneva, empresa que está em operação desde 2009, os fundamentos continuam sólidos, na opinião do analista do Banco do Brasil (BB) Investimentos, Victor Penna. Para ele, há um horizonte de recuperação no longo prazo, não menor do que três anos. “É claro que, por mais que a companhia tenha fundamentos e ativos melhores do que as outras empresas do grupo X, a notícia ruim acabou impactando nas ações, que caíram mais de 80% neste ano. Isso acabou gerando uma incerteza sobre o que vai acontecer com as demais empresas do grupo”, afirma.
Penna avalia que a MMX não só teve sua imagem afetada pelo fato de pertencer ao conglomerado de Eike, como também ficou muito alavancada e passa por um momento de reestruturação. Penna lembra que ainda não será o momento de retomada da confiança por parte do investidor. “Acreditamos que a partir dos resultados dos próximos exercícios, com a ampliação da produção, investimento e redução das dívidas, o mercado volte a olhar para o fundamento positivo, o que deve refletir nos negócios da MMX”, pondera. O analista acredita que 2014 será o ano de arrumar a casa e que, em 2016, com o balanço limpo, há possibilidade de a empresa voltar a se destacar no segmento. Segundo ele, a MMX está buscando um parceiro estratégico para a criação de uma joint venture para, em conjunto, dar continuidade aos seus projetos de investimentos.
Assets globais – Não só as fundações, como também fundos de investimentos globais também ficaram expostos aos papéis de empresas do grupo X. Um exemplo é a gestora global
BlackRock que afirma não ser uma importante proprietária de ativos da OGX. Em nota, a gestora diz que ainda mantém exposição a bonds da empresa, adquiridos pela equipe de fundos de gestão ativa como parte de uma estratégia de investimento em empresas em dificuldades financeiras, em junho e julho.
Por email, a asset aponta que o montante desses bonds não representa mais que 0,03% dos ativos líquidos de qualquer fundo administrado pela equipe. A BlackRock também disse que a exposição às ações de OGX acabou em seus fundos passivos quando elas saíram do Ibovespa. Nos fundos de gestão ativa nos quais havia exposição à OGX, a BlackRock informou que deixou a posição entre seis meses e um ano, a uma faixa de preço entre o valor de face e US$ 0,92.

Confiança no Ibovespa ainda deve levar tempo

Para o diretor de renda variável da Franklin Templeton, Frederico Sampaio, o principal impacto da derrocada da petroleira de Eike Batista neste ano ocorreu sobre o Ibovespa. “Foi uma fatalidade. Não acharam petróleo e isso é natural da atividade. Os investidores institucionais entendiam que havia esse risco. Mas olhando para tudo o que aconteceu, o mais afetado por tudo isso foi o Ibovespa, que perdeu atratividade perante outros índices.
No fim de outubro, com o pedido de recuperação judicial da OGX, o papel saiu do Ibovespa. Em janeiro, o índice começa a ter uma carteira regida por uma nova metodologia, a qual não privilegiará tanto a liquidez da ação, e sim o valor de mercado da empresa que detém o papel. Com isso, o Ibovespa terá de reconquistar a credibilidade perdida em boa dose pelo efeito decadente da OGX.
O consultor Everaldo Guedes França diz que recomenda o Ibovespa para fundações apenas para aquelas que ainda não tinham adotado outro índice. “Quem não mudou ainda, agora deve esperar”, diz. Com a mudança de metodologia, ele diz que a tendência é que o índice fique parecido com o IBrX, que tem perfil mais diversificado e ponderado pelo valor das ações das empresas. No entanto, ele diz que continua recomendando o IBrX. “Até outubro, a bolsa tinha caído 11% e o IBrX, 2%. É uma diferença muito grande. Boa parte dessa diferença foi causada pela ação da OGX. Mas mesmo assim ainda não recomendo investir no Ibovespa, porque ele tem sido afetado por outros sinais, como os da economia brasileira”, diz.
Para o gerente financeiro da Fibra, Marcos Litz, a mudança de metodologia do Ibovespa e suas consequências serão acompanhadas de perto. “Investimos no ETF BOVA11 até o início do segundo semestre deste ano. Como alugávamos as cotas e ainda havia muitas incertezas, conseguimos receita com a operação e aproveitamos o período. Por causa da turbulência da OGX sobre o índice e a mudança de metodologia deixamos a estratégia e agora vamos monitorar a mudança. No começo de 2014 vamos acompanhar e fazer uma revisão”, afirma. Ele diz que, por enquanto, a fundação adota uma estratégia mais conservadora e descorrelacionada do índice, em fundos de small caps, dividendos e de valor.
O gerente de previdência privada da Funsejem, José Freitas, também avalia ser cedo para pensar em investir em fundos atrelados ao Ibovespa. “Há cerca de quatro anos nosso benchmark tem sido o IBrX. Acho que a mudança na metodologia deve melhorar o índice, mas ainda é muito cedo para voltar.