Não há mais assento para amadores | Fundações contratam conselhei...

Edição 98

Foi-se o tempo em que os conselheiros de empresas indicados pelos fundos de pensão eram despreparados e apenas referendavam as decisões dos representantes dos controladores. Hoje, brigando por mais espaço nos conselhos de administração, os fundos de pensão estão começando a promover um processo de profissionalização dos seus conselheiros. Grandes fundos de pensão como Petros, Previ e Valia, ainda que utilizando fórmulas diferenciadas, estão adotando práticas que têm como objetivo a otimização do trabalho de seus conselheiros.
Assim como fez na constituição da sua diretoria, a Petros está contratando conselheiros profissionais no mercado, deixando de lado o antigo modelo de indicação de aposentados para as empresas em que possui participação e assento no conselho de administração. O primeiro conselheiro profissional contratado pela Petros foi Francisco da Costa e Silva, ex-presidente da BM&F, indicado para o conselho de administração da Solpart, controladora da Brasil Telecom, em meados do ano passado. Costa e Silva tomou assento no conselho da empresa até o início deste ano e, na última assembléia geral da Solpart, foi indicado para o seu lugar o ex-ministro da Casa Civil, Clóvis Carvalho.
A Petros tentou um lance ainda mais audacioso na disputa de espaço dentro da Brasil Telecom. O fundo de pensão da Petrobrás articulou junto com a Previ e a Telos uma tentativa de indicar um conselheiro na empresa, que seria o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega. A tentativa não deu certo porque o Opportunity conseguiu barrar a ofensiva das fundações e manteve a maioria no conselho da Brasil Telecom.
As mudanças no sistema de indicação dos conselheiros da Petros começaram logo após a entrada da diretoria profissionalizada da entidade, ocorrida no segundo semestre de 1999. “Primeiro, no ano passado, substituímos os aposentados por membros da diretoria da Petros e da Petrobrás. Agora estamos contratando profissionais de peso no mercado para melhorar nossa representação nas empresas”, conta Eliane Lustosa, diretora financeira da Petros. A executiva afirma que as mudanças visam a combater o fenômeno da “captura” do conselheiro, que ocorre quando o representante deixa de brigar pelos interesses da fundação.
Outro conselheiro contratado recentemente no mercado pela Petros é o executivo e professor da Fipecafi-USP, Ernesto Gelbcke, indicado pela fundação para o conselho fiscal da empresa de papel Ripasa e como suplente no conselho de administração da Klabin, também de papel. Além disso, Gelbcke deve ocupar também uma vaga na Copel (companhia energética do Paraná) a partir da próxima reunião do conselho da empresa, em que serão nomeados novos conselheiros.
“A idéia é avançar na contratação de profissionais do mercado para os assentos em que a Petros tem direito nos conselhos”, declara Eliane Lustosa. Hoje, a fundação tem direito a indicar 20 conselheiros. A própria diretora financeira da Petros é conselheira na Tele Norte Celular, uma das empresas em que o conflito entre o Opportunity e as fundações está mais acirrado (ver matéria na página 20).

Seleção – Na mesma linha da Petros, mas com algumas diferenças, a Previ (Banco do Brasil) também trilha o caminho da profissionalização dos conselheiros de 96 empresas em que tem direito a indicar representantes. A diferença básica é que a Previ não pretende contratar conselheiros no mercado. Mesmo assim, está cada vez mais exigente na hora de selecionar e capacitar os mais de 300 conselheiros que representam o fundo do Banco do Brasil.
“Temos profissionais que sempre atuaram na área financeira do banco e que, por isso, são muito capacitados. Estamos mais rigorosos na seleção de nossos representantes”, explica Sérgio Rosa, diretor de participações da Previ. O fundo de pensão utiliza um modelo de ranqueamento de conselheiros no qual é exigida a capacitação técnica e acadêmica do profissional, entre outros aspectos, antes de ser indicado como conselheiro.
A Previ quer ir ainda mais longe e pretende, até o final do ano, implantar um sistema de governança corporativa com o objetivo de otimizar o trabalho de seus conselheiros. A fundação já tem um estudo em mãos, realizado pela Fundação Dom Cabral em meados do ano passado, e cogita a possibilidade de contratar outra consultoria para implantar o sistema. “O sistema servirá para avaliar a participação da Previ nas empresas e para fornecer parâmetros para o acompanhamento do trabalho dos conselheiros”, afirma Sérgio Rosa.
Por trás das mudanças na Previ está a atuação dos três diretores eleitos do fundo – diretorias de participações, planejamento e seguridade. Com a eleição de Sérgio Rosa e Erik Persson (planejamento) no final de 1999 e com a atuação em bloco junto com o diretor eleito em 1998, Henrique Pizzolato (seguridade), o trio começou a tirar o sono de gestores, como o Opportunity, e recentemente de sócios, como Atilano de Oms Sobrinho, controlador da Inepar.

Código – A exemplo dos outros fundos, a Valia também está em processo de profissionalização de seus conselheiros de empresas. “Estamos preparando um Código de Ética para orientar a atuação de nossos conselheiros nas empresas em que investimos”, revela Manuel Cordeiro, diretor financeiro da Valia. O código deve ser lançado no próximo mês de junho.
Além disso, o fundo de pensão da Vale do Rio Doce vem indicando conselheiros que tenham especialização em áreas que facilitem a atuação nas empresas. Por exemplo, para conselheiro da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), a Valia nomeou o consultor especialista em mineração e energia Fúlvio Fonseca. O profissional presidiu o projeto Trombetas no Pará e foi assessor da presidência da Vale.
Para o conselho fiscal da Perdigão, a fundação indicou José Inácio Garcia, que possui especialização em planejamento fiscal. “Procuramos nomear profissionais que tenham expertise e capacitação para atuar da melhor forma possível nos conselhos das empresas”, diz o diretor financeiro. (AS)

Fundos preparam saída das participações
Um dos principais motivos para os fundos de pensão profissionalizarem a atuação de seus conselheiros nas empresas é a aproximação do momento de vender a participação nas companhias. Depois de participar da maioria dos processos de privatização ocorridos desde o início da década de 90, as fundações agora precisam reduzir suas carteiras de participações. Os fundos de grande porte estão se aproximando da fase de maturidade, em que os compromissos com pagamentos dos assistidos supera o volume de entrada de recursos. Na Petros, por exemplo, o número de assistidos já supera o de participantes ativos e, por isso, o fundo precisa buscar maior liquidez para a carteira de investimentos.
Como a saída de uma empresa é um processo delicado, a atuação do conselheiro ganha importância. “Pagamos ágio na hora de entrar e temos que realizar um bom processo de venda para não sair no prejuízo”, diz Eliane Lustosa, diretora financeira da Petros. A executiva revela que o desempenho de sua carteira de participações tem apresentado resultados bem abaixo do Ibovespa. Por isso, é necessário criar as condições para que se receba um prêmio para a venda das ações do bloco de controle das empresas.
A Previ também passa por um processo de amadurecimento de sua massa de participantes. Por isso, está procurando tornar sua carteira de investimentos mais líquida. O fundo de pensão do Banco do Brasil tem, porém, um agravante neste ponto: sua carteira de participações de empresas é muito grande e está fora dos padrões permitidos pela nova legislação dos investimentos dos fundos de pensão.
A carteira de renda variável da Previ representa algo em torno de 58% de seu patrimônio, enquanto a Resolução n.o 2.829 permite no máximo 45% – contando com ações do Novo Mercado – para os fundos com plano de Benefício Definido (BD). O fundo de pensão também participa do controle de dezenas de empresas e precisa de uma boa representação dos conselheiros para promover um processo de desinvestimento que seja rentável. “Precisamos contar com conselheiros altamente capacitados para reverter situações negativas ou para melhorar o desempenho de empresas”, afirma Sérgio Rosa, diretor da Previ.